Rio - Mais assustador que o deputado federal que elogia torturadores e insiste em atacar princípios básicos dos direitos de cada um de nós é o crescimento daqueles que dizem apoiar suas, vá lá, ideias. Segundo o Datafolha, ele chega a ter 8% das intenções de voto para presidente da República, ou seja, cerca de 11,400 milhões de brasileiros gostariam de vê-lo no Palácio do Planalto.
É provável que parte do apoio venha dos que nele identificam um político honesto, não envolvido em casos de corrupção. Isso explicaria o fato de, em 2014, muitos eleitores terem votado no tal parlamentar e em Marcelo Freixo, do Psol, deputado estadual. Uma dobradinha estapafúrdia, mas que faz algum sentido no aspecto da moralidade pública. O uso de temas patrióticos por parte do deputado federal e sua condição de militar da reserva também dão pistas sobre a origem de tantas intenções de voto. Muita gente — pessoas que se acham incapazes de cuidar da própria vida — sonha com um paizão, um sujeito que ponha ordem na casa, que organize uma suposta bagunça.
Até aí, vá lá. Mas a situação se complica quando se nota o apoio de muitos brasileiros a propostas que absolvem a tortura e incentivam a violência policial e a intolerância em relação a homossexuais. Isto demonstra o quanto somos cruéis, o quanto a lógica da escravidão — que autorizava a tortura de seres humanos em praça pública — permanece entre nós. Não à toa que as intenções de voto no parlamentar cheguem a 23% entre os eleitores mais ricos, herdeiros, ainda que apenas no aspecto simbólico, dos escravocratas que mandavam e desmandavam por aqui.
A aceitação das propostas do deputado revela que há, entre nós, um país brutal, agressivo, intolerante, perverso, adepto do linchamento, incapaz de conviver com a diferença, com o contraditório. Uma nação que considera inimigo aquele que é apenas adversário. Brasileiras e brasileiros que, sabe-se lá por que, sentem-se ameaçados pela existência de homossexuais — cidadãos que pagam impostos como quaisquer outros.
Os conterrâneos que legitimam o deputado assumem um compromisso com o obscurantismo e parecem não ter ideia do risco que correm ao estimular a barbárie. Não poderão reclamar se forem vítimas de violência policial ou mesmo se uma irmã ou uma filha — não importa o motivo — vier a ser detida e for vítima de tortura. Serão assim cúmplices daqueles que irão estuprá-la, pendurá-la no pau de arara e aplicarão choques em suas partes íntimas.
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