Por gabriela.mattos
Coordenador do programa Rio Sem Homofobia%2C Claudio Nascimento destacou que Ezequiel Teixeira é homofóbico e tinha 'postura autoritária'Reprodução Facebook

Rio - A exoneração do pastor Ezequiel Teixeira da secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos foi comemorada pelo coordenador do Programa Rio Sem Homofobia, Claudio Nascimento, nesta quarta-feira.

Em entrevista ao DIA, ele destacou que o parlamentar tem "uma ideologia de mercador da fé em detrimento da ideologia de direitos humanos" e uma "postura autoritária". "É a vitoria da cidadania", definiu. O Rio Sem Homofobia é subordinado à pasta comandada até esta quarta-feira por Teixeira. 

Ezequiel deixou a pasta nesta quinta-feira após afirmar que acredita na "cura gay". O ex-secretário comparou ainda os homossexuais a doenças como o câncer e a Aids.

Após ouvir essas declarações, o governador Luiz Fernando Pezão logo chamou o pastor para uma "conversa" e disse que é "totalmente contrário às afirmações" do parlamentar. Em seu lugar entrará o atual secretário de Governo, o ex-presidente da Assembleia Legislativa Paulo Melo (PMDB).

Para Nascimento, o ex-secretário utilizava a religião para fazer "um discurso de plateia e tentar fazer uma viabilidade eleitoral". O coordenador reforçou ainda que era muito difícil trabalhar com Ezequiel, que estava à frente do Rio Sem Homofobia.

"É muito difícil para nós, que trabalhamos com a temática de direitos humanos, ter como chefe da pasta uma pessoa assumidamente homofóbica e que não ia frutificar nada. Nada poderia avançar com alguém com esse perfil", enfatizou.

Fundador da igreja evangélia Projeto Nova Vida, Ezequiel foi nomeado para o cargo no dia 15 de dezembro. Em relação à crise financeira do Rio Sem Homofobia, Ezequiel havia afirmado que "os incomodados que se mudem".

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Sem receber pagamentos há quatro meses, Nascimento disse que essa declaração só reforçou a "postura autoritária" que o ex-secretário teve ao longo do período que esteve no cargo.

Segundo o coordenador do projeto, agora é o momento para retomar o trabalho com o novo secretário e reorganizar a política pública LGBT.

"Temos que buscar uma forma de pagar os salários atrasados, gerar o mínimo de governança constitucional, para que o programa possa funcionar e atender a população LGBT", explicou Nascimento, acrescentou ainda que é preciso retomar "a posição nacional de vanguarda" do programa.

Crise financeira

Pastor Ezequiel Teixeira foi exonerado após dizer que acredita em 'cura gay'Reprodução

No dia 13 de janeiro, 65 dos 85 profissionais que integravam a equipe do projeto foram avisados que estavam dispensados mesmo com três meses de salários pendentes para receber. No mesmo mês, serviços de acompanhamento psicológico foram suspensos nos centros de cidadania no estado.

Além disso, o jurídico foi reduzido somente a casos emergenciais para os cidadãos LGBTs, sobretudo tratamento a casos de violência.

Para os profissionais, a realidade ficou ainda mais dramática: há casos de funcionários que tiveram que deixar suas casas e, ainda mais grave, estão sem ter o que comer.

Ao longo de 2015, por três vezes o governo do estado deixou de pagar três meses consecutivos de salários à equipe técnica do Rio Sem Homofobia.

Segundo estes profissionais, ao longo do ano houve a eterna promessa de que a situação seria resolvida e os salários colocados em dia, promessas nunca cumpridas.

Em janeiro, após circular nas redes sociais que o programa estava extinto, o Rio Sem Homofobia soltou nota oficial afirmando que estão sendo feitos “todos os esforços para garantir a continuidade e o funcionamento dos serviços”.

Pastor tinha histórico contra LGBTs

Em abril de 2015, o agora ex-secretário Ezequiel Teixeira se posicionou, quando integrava a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, contra uma resolução do governo federal que admitia a alunos transexuais o direito ao uso do banheiro conforme a identidade de gênero nas escolas. Em sua página oficial, Teixeira chegou a anunciar a promoção de um ato público para a revogação da medida. “Não cabe ao menor, enquanto incapaz, praticar determinados atos da vida civil. E o Estado deve propiciar os meios necessários para o exercício do poder familiar, e não se intrometer na tarefa assegurada aos pais,” escreveu o deputado.

Panfleto que pedia voto para o pastor condenava adoção por expor crianças à pedofiliaReprodução

Um caso que chocou o ativismo LGBT em todo o país envolvendo Teixeira ocorreu durante a campanha eleitoral de 2014. Panfletos que pediam votos para o pastor, comparavam homossexuais ao anticristo e condenavam a adoção de crianças por casais homoafetivos. O material apontava para ‘riscos’ que iam desde “transtornos de identidade sexual na infância” até a “exposição à pedofilia”.

A nomeação do então deputado federal Ezequiel Teixeira por Pezão para a secretaria teve como ingrediente a ida de um nome favorável ao deputado federal Leonardo Picciani para a Câmara dos Deputados para devolver a ele a liderança do PMDB na casa legislativa, já que para a vaga de Ezequiel Teixeira foi o peemedebista Átila Andrade. Em manobra capitaneada por Eduarardo Cunha, Leonardo Picciani havia sido destituído da liderança em mais um capítulo da queda de braço disputada entre as alas oposicionista e governista do partido.


Panfletos que pediam votos para o pastor comparavam homosssexuais ao anticristoReprodução

Picciani tem posição contrária ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e tem atuado em alinhamento com o governo. Desde então, os dois lados passaram a manobrar para tentar reforçar seus times, um grupo para manter Picciani fora da liderança e o outro para trazê-lo de volta. Picciani conseguiu retomar a liderança do PMDB, mas a secreria de Direitos Humanos ficou entregue a um pastor contrário a causa de LGBTs até esta quarta-feira.

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