Por lucas.cardoso

Rio - Quando os termômetros da prefeitura marcaram nesta terça-feira 42,3 graus, a maior temperatura do ano, em Guaratiba, na Zona Oeste, os biólogos marinhos Felippe Luna, 30, e Filipp Soares, 26, estavam de cabeça fria. Isso porque o escritório deles consiste em 3,5 milhões de litros de água salgada a refrescantes 25°C. Os dois são mergulhadores no AquaRio, onde passam até três horas por dia submersos, na companhia de tubarões, raias e peixes.

Trecho da praia do Leme e Copacabana lotado na tarde do último sábado Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

“Nosso trabalho serve também como uma fuga do calor. Se pudesse, passava o dia inteiro na água”, disse Luna.

Não havia quem não quisesse estar no lugar da dupla. A sensação térmica chegou aos 47,7°C, também em Guaratiba, a segunda mais alta do ano, perdendo apenas para os 49,3 graus de 11 de dezembro. A chefe dos dois, a gerente de Biologia do AquaRio, Patricia Spina, gritava “que inveja!” enquanto os mergulhadores se preparavam para levar sardinhas para os habitantes do tanque.

Todos os 28 tanques do aquário têm resfriadores. “Para os animais, a temperatura fica ótima. Nós que passamos calor!”, brincou Patrícia, que quando pode se voluntaria para mergulhar e limpar o tanque ou alimentar os peixes. “É uma delícia mergulhar sabendo que vamos nos refrescar. Mas é uma pena saber que tenho esse ‘mar’ aqui na minha frente e nem sempre posso aproveitar”, completou.

Lá embaixo, no túnel que corta o tanque de sete metros de profundidade, o grande número de pessoas fazia o ‘calor humano’ aumentar. Os que passavam se abanando, distraídos, entraram em histeria coletiva ao ver os mergulhadores alimentarem os animais. A cada vez que a tubarão mangona Margarida pegava um peixe, a plateia vibrava como um gol. Os mergulhadores já abraçaram a parte ‘showbiz’ do trabalho. Acenam para os passantes e posam para 'selfies'. No Natal, eles se vestiram de Papai Noel, e já estão preparando a fantasia de Carnaval. 

Rotina fresquinha, entre tubarões, peixes e raias

Felippe Luna e Filipp Soares fazem parte de uma equipe de 16 mergulhadores. Os dois começam o dia de trabalho às 7h30. Depois de verificarem se a manutenção dos tanques precisa de reforço, eles começam a preparar os equipamentos para o primeiro mergulho: o Recinto Oceânico (o principal tanque) precisa ter seu acrílico limpo duas vezes por semana.

Após a limpeza, eles caem na água novamente para mimar os tubarões e raias, alimentando-os direto na boca. Só Margarida tem peixes colocados em uma garra, já que a mordida poderia acabar levando também uma parte dos mergulhadores.

Dentro d’água, Felippe e Filipp se comunicam com sinais, em uma sincronia que começou quando eles trabalhavam juntos em uma escola de mergulho em Niterói, há cinco anos. “É mais fácil lidar com os bichos do que com os alunos”, riu Felippe.

No AquaRio, eles já aprenderam a reconhecer a ‘personalidade’ de cada animal do recinto. “É a realização de um sonho trabalhar aqui. Todo biólogo marinho quer estar nesta posição, interagindo diretamente com os animais”, disse Soares.

Logo depois de sair do tanque, os mergulhadores voltam à realidade do Rio e são abraçados pelo calor abrasador, já que o último andar do prédio, de onde eles caem na água, ainda não é climatizado. 

Fenômeno das águas ‘caribenhas’ deve continuar no Rio

As águas ‘caribenhas’ que têm encantado cariocas e turistas desde antes do Natal são resultado de um fenômeno conhecido como água roxa. As águas verdes e escuras da costa são empurradas pelas correntes, dando lugar a águas do alto mar, mais claras e quentes.

Esse fenômeno sofre influência da massa de ar quente do sistema de alta pressão atmosférica conhecido como ASAS (Alta Pressão Subtropical do Atlântico Sul). Ele impede a entrada de frentes frias, o que significa menos chuvas e água mais calmas e mais limpas.

Fica mais fácil ver cardumes e, segundo o oceanógrafo professor da Uerj David Zee, pode ser possível ver até golfinhos. “A tendência é que peixes e outros animais se aproximem da costa. Pelo menos até o fim da semana a água deve continuar assim”, explicou Zee.


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