Pelo levantamento, a região de maior permanência é o Centro, com cerca de 6,4 mil moradores de rua ( 45%). Na sequência, vem Copacabana, com 2,2 pessoas ou 16% do total. De acordo com a planilha, 87% são homens e 72% têm idade entre 25 e 59 anos. A metade não é natural do Rio de Janeiro, 29% saem de casa por conflitos com a família e a maior parte (31%) está nas ruas entre um e três anos. A secretária quer incluir estas pessoas no cadastro único para que possam ser inseridas nos programas de complementação de renda, como o Cartão Família Carioca.
População de rua do Rio é superior à de cidadãos em 3,1 mil municípios
Em três anos, quantidade de moradores de rua quase triplicou, saltando para 14,2 mil
Rio - A população que mora nas ruas da Cidade do Rio de Janeiro é maior do que o número de habitantes de 3.187 dos 5.570 municípios brasileiros. Segundo levantamento da Secretaria municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, 14.279 pessoas vivem nas ruas da capital. Os dados são da planilha de abordagem de 2016. Os números indicam que a população de rua quase triplicou em três anos.
O último censo feito em 2013 apontava 5.580. O número de pessoas que dormem nas ruas cariocas é superior ao de habitantes de 15 dos 92 municípios fluminenses, sendo quase três vezes maior do que Macuco, na Região Serrana, que, de acordo com o último censo, tem 5.360 moradores.
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“A situação é dramática. Nos últimos anos, não houve nenhuma política pública para dar um mínimo de dignidade a estas pessoas”, lamentou a secretária Teresa Bergher, afirmando que a prefeitura tem apenas 2.177 vagas em abrigos públicos para acolhimento. Ontem, a secretária visitou um deles, em Realengo, e ficou estarrecida com o que encontrou. “É deprimente a situação deste abrigo. Chega a ser desumano. Não há o mínimo de dignidade. Vou conversar com o prefeito para darmos início imediatamente às obras nesta unidade. Vendo a estrutura precária, a gente entende por que as pessoas preferem ficar nas ruas”, disse.
Grupo de 60 dorme sob marquise
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Quem caminha pelo Centro do Rio de dia ou de noite não se surpreende com o novo levantamento sobre a população de rua. As pessoas dormem em qualquer pedaço de chão. Muitos nem têm a preocupação de se abrigar sob as marquises e alpendres que protegem as calçadas do sereno da noite. Acomodam-se ao relento, inclusive no canteiro que separa as pistas da Avenida Almirante Barroso.
Porém, tão importante quanto achar um cantinho para forrar com papelões e deitar, é encontrar um lugar seguro de pessoas, que segundo os moradores, cultivam o terrível hábito de despertá-los com chutes. Até policiais e guardas municipais, dizem. Neste aspecto, o melhor ponto para o povo da rua é a marquise do prédio da Defensoria Pública, na Avenida Marechal Câmara. Em uma noite de dezembro, a reportagem do DIA contou 60 pessoas dormindo no local.
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“Aqui a gente se sente protegido. Tem câmeras e os seguranças acabam olhando por nós”, contou um dos ‘hóspedes’, pedindo para não se identificar, por um motivo justo. “Fui expulso da minha casa pela milícia. Tenho medo que me descubram aqui”.