Rio - A decisão do governo estadual de encerrar turmas do Ensino Médio em pelo menos nove colégios da capital pegou de surpresa estudantes que deram de cara com as portas trancadas ao chegar para assistir as aulas ontem.
Segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), a justificativa da Secretaria de Estado de Educação é a “otimização de espaços”, mas é uma “medida errada para enfrentar a falta de professores”. Em alguns casos, os alunos ficaram sabendo do cancelamento de suas matrículas ao tentar recarregar o RioCard nas máquinas instaladas nos colégios.
“O governo está enxugando tudo. Em vez de contratar professor para suprir a carência, pega os que já existem e junta as turmas. Com isso, fica sobrando professor na escola e ele é obrigado a ser remanejado para outras unidades, se não tiver como ser alocado. Aí o professor é obrigado a trabalhar em duas ou três escolas, gastar mais de passagem”, disse o diretor do Sepe, Alex Trentino.
A decisão foi comunicada aos funcionários das unidades segunda-feira. No Colégio Estadual Souza Aguiar, na Lapa, onde três turmas do turno da noite foram encerradas, os professores fizeram uma reunião ontem para definir o futuro dos estudantes.
“Tudo isso foi decidido pela Secretaria de Educação da noite para o dia, sem consulta aos professores ou aviso prévio aos alunos. Grande parte dos alunos do turno da noite trabalha de dia para ajudar os pais. Essa mudança no calendário pode provocar uma grande evasão escolar”, alertou o professor de História Rafael Mendes, de 26 anos.
J., de 16 anos, que cursa o 1° ano do Ensino Médio no turno da manhã, lamentou o fim das turmas noturnas e demonstrou preocupação com uma possível superlotação das salas de aula. Segundo ele, faltam professores de Fisica e Filosofia no 2º e 3º anos.
Foram fechadas turmas também nos colégios Júlia Kubistchek e Caic Tiradentes, no Centro; Amaro Cavalcante, no Largo do Machado; Olavo Bilac, em São Cristóvão; André Maurois, no Leblon, e Inácio Azevedo do Amaral, no Jardim Botânico. Alex estima que 700 alunos sejam afetados nessas unidades.
Um professor, que pediu para não ter a identidade revelada, disse que o Colégio Estadual Professor Daltro Santos, em Bangu, também teve o turno da noite extinto no ano passado e os alunos foram transferidos para outra unidade do bairro, o Colégio Estadual Bangu. Ainda segundo o profissional, a mudança, desta vez, deve afetar alunos do Colégio Bangu.
Ainda segundo ele, “com a fusão, estão sendo formadas turmas com mais de 60 alunos em salas com iluminação deficiente e sem climatização”. “O governo desconsidera que mesmo em locais geograficamente próximos, alunos de um determinado quarteirão não podem frequentar escolas localizadas a um quilômetro de distância, pois quadrilhas rivais do tráfico os ameaçam”, alertou.
Enquanto faltam professores de ensino regular, escola oferece até Coreano
Procurada, a Secretaria de Educação (Seeduc) esclareceu que não há fechamento de turma e sim “otimização”, já que nestas unidades havia turmas com 10 ou 20 alunos, quando o número estipulado é de 35 por turma.
“A Seeduc tem acompanhado a frequência dos alunos e realizado a enturmação dos estudantes em suas turmas por série e turno. Algumas turmas dos colégios citados que contavam com menos de 20 alunos da mesma série e mesmo turno foram otimizadas, sem exceder a capacidade física da sala e sem transferência de unidade ou turno”.
Com relação ao RioCard, informou que “todos os estudantes permanecem ativos no sistema, não havendo qualquer cancelamento ou impedimento para uso do RioCard”. Ainda na nota, a Secretaria de Educação destaca que “está concluindo a alocação de docentes no quadro de horários após esse replanejamento e reestruturação da rede estadual de ensino, aproveitando professores excedentes em determinadas unidades para suprir eventuais carências. Informa, ainda, que funcionários do Colégio Estadual Souza Aguiar controlam a entrada e saída de alunos.
Enquanto alunos desta unidade reclamam que estão sem professores de disciplinas regulares, 25 estudantes do Colégio Estadual Olga Benário Prestes, em Bonsucesso, começaram a aprender o idioma coreano esta semana.
Dão duas aulas por semana, às terças e quintas, no turno da manhã, utilizando material didático específico. Não são os únicos na rede estadual a ter aulas de línguas pouco conhecidas e praticadas no país. Cinco escolas chamadas de “interculturais” ofertam línguas estrangeiras como Mandarim e Turco, além de outras línguas mais tradicionais, como Inglês, Francês e Espanhol.
Em maio, o Colégio Professor Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, abriu turmas para o ensino do Árabe. Até o fim deste ano, mais três cursos de idiomas serão ofertados em escolas públicas estaduais. O Colégio Monteiro de Carvalho, em Santa Teresa, abrirá turmas para o ensino de Italiano, e no Colégio Professora Maria de Lourdes de Oliveira Tia Lavor, na Ilha, será ensinado o Japonês. Aulas de Alemão estão em planejamento. Serão ofertadas 40 vagas em duas turmas, com aulas duas vezes por semana.