Por thiago.antunes

Rio - Formada em Biologia, a professora Ana Carlla Guilherme passou a se desdobrar em três desde que, na semana passada, três turmas foram fechadas no Colégio Estadual Souza Aguiar, na Lapa. Com a mudança, docentes que ‘sobraram’ tiveram que mudar de escola, ficar sem turmas ou até, como no caso dela, lecionar fora de sua licenciatura.

Ana Carlla tem seis turmas, com cinco planejamentos de aula diferentes — sem receber nenhum valor a mais. “Dou seis tempos na segunda: dois de Biologia, dois de Física e dois de Química. Não dá nem tempo de ‘trocar o chip’. Nunca fiquei tão sobrecarregada”, conta.

Ana Carlla%2C professora de Biologia%2C agora também dá aulas de Física e Química para seis turmas na LapaAlexandre Brum / Agência O Dia

A professora não é a única: o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) estima que pelo menos 70 escolas estejam passando por remanejamentos parecidos em todo o estado. Em cada unidade, até três turmas são fechadas, gerando ‘sobras’ de profissionais.

No Souza Aguiar, pelo menos outros três professores também estão dando aulas fora da licenciatura. “Nem temos como medir como isso está afetando os alunos. Desde o início do ano não temos coordenador pedagógico, nem orientador educacional”, disse o diretor do colégio, Marco Aurélio Cunha. “Sou formado em Filosofia e tive que dar aula de Sociologia. Não é a mesma coisa”.

O coordenador-geral do Sepe, Gilberto Rodrigues, explicou que a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) analisa o histórico escolar da faculdade dos professores para liberá-los a outras habilitações. É preciso ter cursado 120 horas, ou dois semestres, de uma matéria para lecionar o conteúdo. “É uma afronta às questões trabalhistas. Como alguém pode preparar uma boa aula dessa maneira?”, questionou Rodrigues.

A medida gerou fatos inusitados. Um professor de Informática que não quis se identificar contou que estava habilitado a dar aulas de Matemática. Já Flávia Lopes, professora de Artes, poderia lecionar Inglês no Colégio Estadual Roma, em Copacabana. “Tenho um diploma de Artes Cênicas — Interpretação Teatral e outro de licenciatura em Teatro Educação e com certeza nenhum deles tem inglês”, escreveu no Facebook.

A Seeduc disse que os casos problemáticos são isolados e que a proposta “faz parte de uma prática rotineira de alocação de professores para melhor organização e estruturação da rede”. Segundo a pasta, a greve de professores do ano passado adiou a “reprogramação”, fazendo com que as turmas mudassem no meio do bimestre.

Professores ficam sem turmas

Enquanto alguns professores têm matérias demais, outros têm turmas ‘de menos’. Heloísa Coelho, que leciona Português no Colégio Souza Aguiar, tinha sete turmas até a quarta-feira passada; agora, ela só dá aulas para duas. “Sem aviso. Uma turma comprou pizza para se despedir de mim”, contou.

Outra professora de Português que não quis se identificar tem cinco tempos de aula ‘sobrando’ no Colégio Alfredo Balthazar, em Magé. “Tenho matrícula em Niterói e em Piabetá. Me ofereceram para trabalhar em São Gonçalo, mas em três municípios não dá”.

A Seeduc afirmou que não houve fechamento, mas “otimização” em classes de menos de 20 alunos. “Neste ano, do total de vagas ofertadas, 150 mil não foram ocupadas”, informou a pasta.

Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat, sob supervisão de Joana Costa

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