Por nadedja.calado

Rio - Cinquenta pessoas serão homenageadas neste domingo, em Volta Redonda, no Sul Fluminense, durante a primeira edição de entrega da Medalha Dom Walyr Calheiros de Novaes. A condecoração, voltada para perseguidos e torturados durante a ditadura militar, é uma iniciativa da Santiago Filmes, com o apoio da Diocese de Barra do Piraí - Volta Redonda e outras entidades ligadas aos Direitos Humanos.

Chamado de “o bispo vermelho” pelos militares, dom Waldyr foi um dos maiores ícones na luta contra a ditadura no Brasil, chegando a se apresentar ao comando do Exército para ficar no lugar de trabalhadores presos pelo então regime.

Medalha Dom Waldyr Calheiros foi criada para lembrar a luta pelos direitos humanosDivulgação

“Trata-se de um marco, que homenageia pessoas e grupos que lutam ou lutaram pelos direitos humanos e por uma sociedade mais justa, muitas delas tendo sido presas e torturadas de forma física ou psicológica”, ressalta o historiador e documentarista Erasmo José da Silva. “A medalha é uma forma de reconhecer a gratidão por esses guerreiros, e dar um recado que os esforços por uma sociedade mais democrática e sem violência, têm que continuar sempre”, afirma José Maria da Silva, do Movimento Ética na Política (MEP).

Entre os homenageados estará o padre verbita Natanael de Moraes Campos, membro da Juventude Operária Católica (JOC), um dos grupos mais visados pelos militares no passado. Hoje pertencente à Arquidiocesde de Belo Horizonte (MG), Natanael regressa a Volta Redonda 47 anos depois de sua prisão no antigo 1º Batalhão de Infantaria Blindada (BIB), de Barra Mansa - um dos maiores centros de tortura que o país conheceu no passado -, em consequência de sua posição religiosa e sua ligação com dom Waldyr Calheiros. Ele também ficou preso na Ilha Grande, em Angra dos Reis.

Padre Natanael de Moraes%2C preso na ditadura%2C é um dos homenageadosDivulgação

A solenidade terá início às 17 horas, com a celebração de uma missa pelos 51 anos de sacerdócio de Natanael, na Igreja Santa Cecília, no Centro. A entrega das medalhas será feita em seguida, no Teatro Santa Cecília, ao lado da igreja.

Entre os homenageados também será lembrada Estrella Bohadana, que morreu em 2015. Ela foi presa na década de 1970, quando tinha 19 anos. De acordo com documentos da Comissão da Verdade Dom Wldyr Calheiros, Estrella também ficou detida no 1º BIB e posteriormente no Centro de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI), na Rua Barão de Mesquita, onde foi brutalmente torturada.

Os episódios de tortura foram tão bárbaros contra ela, que a militante das Organizações Política Operária (Polop) e Partido Operário Comunista (POC),  precisou de internação no Hospital Central do Exército, onde continuou sendo interrogada e sofrendo torturas psicológicas. Em 1973, foi presa novamente, em São Paulo. Devido aos golpes no pau-de-arara, Estrella teve graves sequelas físicas nas pernas.

A forma encontrada por ela para superar o trauma foi se dedicando à dança Flamenca. Após a entrega das medalhas, será exibida no mesmo teatro o filme “Vestida de Sonhos”, que conta a história da Estrella, com apresentação de dança.

“Nosso propósito é homenagear personalidades que, sobretudo, chegaram até mesmo comprometer a própria vida contra as arbitrariedades de um tempo (entre 1964 e 1989) que esperamos que não volte nunca mais”, disse Rosane Santiago, diretora do evento.

Dom Waldyr, símbolo de resistência

Dom Waldyr Calheiros, que morreu em 2013, é um dos maiores símbolos de resistência e luta pela causa dos pobres, oprimidos, e operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Durante a ditatura, foi monitorado pelos militares, por acolher perseguidos políticos que buscavam sua ajuda.  

Dom Waldyr Calheiros%2C em primeiro plano%2C em foto histórica de quando se ofereceu aos militares para ficar no lugar de operários presos na década de 1970 Divulgação

Em 1988, dom Waldyr participou ativamente da histórica greve dos metalúrgicos da CSN, quando, no dia 9 de novembro daquele ano, as tropas do Exército invadiram a empresa e executaram os operários Willian, Walmir e Barroso, deixando outros 40 operários feridos.

“Os homenageados deste domingo são pessoas que estiveram envolvimento direto ou indireto com dom Waldyr, que foram supliciadas porque a ditadura não conseguia atingir o bispo, mas que também foram salvas por suas relações e proteção deste”, detalha Rosane. 

Programação:

17h: Missa pela comemoração de 51 anos de sacerdócio do Padre Natanael de Moraes - Igreja Santa Cecília, Centro de Volta Redonda

19h: Curta metragem e dança

20h: Entrega das medalhas

21h30: Encerramento

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