Publicado 09/05/2022 10:16
Costa Verde – Prestes a completar dois anos à frente da delegacia de Angra dos Reis no próximo mês de junho, o delegado Vílson Almeida, de 51 anos, recebeu a reportagem do jornal O Dia para falar sobre a metodologia que tem utilizado para dar uma rápida resposta à sociedade em casos como o da menina Karina, de 9 anos, vítima de uma bala perdida há uma semana. O crime, que chocou a cidade e ganhou repercussão nacional, foi rapidamente solucionado e os participantes, presos.
O Dia – Doutor, para começarmos, quem é Vílson Almeida?
O Dia – Doutor, para começarmos, quem é Vílson Almeida?
Vílson Almeida – Eu sou professor universitário e delegado de polícia há 15 anos, sou servidor público há 30 e fui sargento do exército. Então, creio que vem daí o meu perfil operacional. Fiz curso de operações na Corregedoria de Recursos Especiais (CORE), tive uma passagem pela Delegacia de Homicídios, onde aprendi a importância da investigação inicial na solução dos crimes de homicídios. Antes de vir para Angra, eu estava em São Gonçalo, trabalhei em Itaboraí, trabalhei no interior em Santo Antônio de Pádua e, por onde passei, fiz um trabalho de proximidade com a sociedade, pois segurança é dever do estado, mas responsabilidade de todos. Então, quando a gente consegue a confiança da população local, a população consegue trazer informações pra gente e a gente consegue fazer o trabalho de forma mais eficiente.
O Dia - O caso da semana passada foi emblemático porque envolveu uma criança vítima de bala perdida. Qual foi o ponto fundamental para a elucidação do crime e a prisão dos participantes?
O Dia - O caso da semana passada foi emblemático porque envolveu uma criança vítima de bala perdida. Qual foi o ponto fundamental para a elucidação do crime e a prisão dos participantes?
Vílson Almeida - A imediata investigação e a sensibilidade da sociedade local em dar informação pra gente ter elementos de prova, formar nosso convencimento, indiciar e pedir a prisão desses elementos. Foi o que aconteceu. Imediatamente a equipe foi para a rua, foi procurar provas. Conseguimos um vídeo muito ilustrativo com a dinâmica do acontecido e identificamos os dois autores. Pedimos a prisão preventiva e prendemos os dois em 48 horas. As primeiras 24h são primordiais para que a gente consiga ter provas sobre a autoria do homicídio. Eu oriento sempre que a equipe toda vá para a rua para poder colher informações, pois é neste momento que as pessoas falam e a população tem colaborado bastante. Então, a filosofia é justamente iniciar de forma enérgica nas primeiras 24 horas para poder colher o maior elemento de provas possível. A Polícia Civil tem que investigar profundamente nessas primeiras horas, independentemente se nosso efetivo é grande ou não. Nós estamos com carência de pessoal em toda a Polícia Civil, mas o efetivo que nós temos é muito qualificado. Ele não é muito, mas o pouco que eu tenho aqui na 166ª DP, são pessoas comprometidas, meus policiais são comprometidos e eu posso contar com eles.
O Dia - Os autores tinham antecedentes criminais?
Vílson Almeida - O Mateus (acusado de dar o tiro) sim, o Felype (que participou da perseguição ao desafeto) não. Mas, mesmo não tendo antecedentes, já tinha investigação por suspeita dele ter envolvimento com o tráfico da localidade.
O Dia - Há dois anos, quando o senhor chegou na cidade, qual era o quadro da segurança no município?
O Dia - Há dois anos, quando o senhor chegou na cidade, qual era o quadro da segurança no município?
Vílson Almeida - Quando cheguei à Angra, as notícias e informações eram de que traficantes andavam armados com armas longas nos morros do Centro da cidade. Inclusive, tinha um vídeo circulando internacionalmente que mostrava traficantes passeando livremente ostentando armas como fuzis e escopetas numa comunidade aqui de Angra. Assim que cheguei, reuni os policiais e fizemos um trabalho de inteligência para que isso não acontecesse mais. A gente mapeou todos os envolvidos e conseguiu vários mandados de prisão, fizemos operações em várias localidades, em área de ambas as facções, pois são duas grandes facções que que perturbam a paz em Angra dos Reis. A Polícia Civil está sempre preocupada em dar uma resposta porque a gente acredita que combatendo o tráfico, a gente diminui o índice de outros crimes. Estamos com uma estatística muito favorável pra gente em relação a outros crimes, como roubo de veículo, roubo de carga – que a gente zerou -, roubou a transeunte, que também diminuiu bastante, e a gente acredita que é um reflexo do trabalho em cima do tráfico de entorpecente, que acaba espelhando para outros crimes.
O Dia – Como o senhor vê a união das forças de segurança no município e a mudança que foi implementada no combate ao crime?
O Dia – Como o senhor vê a união das forças de segurança no município e a mudança que foi implementada no combate ao crime?
Vílson Almeida - Aqui em Angra dos Reis, a prefeitura criou uma sinergia muito grande entre os órgãos de segurança. A secretaria municipal de Segurança de Pública promove mensalmente uma reunião com a participação de todos esses órgãos e temos a oportunidade de colocar nossas dificuldades e também de encontrar as soluções em conjunto. Então, isso tem ajudado bastante para que tenhamos os resultados que temos obtido. No caso da menina Karina, por exemplo, contamos com a colaboração da Polícia Federal.
O Dia - O que ainda precisa ser melhorado para que a população tenha maior sensação de segurança?
Vílson Almeida – A polícia não tem a inocência de achar que vai acabar com o tráfico porque, enquanto tiver usuário, vai ter traficante, vai ter pessoas vendendo drogas. Mas a gente não vai admitir como normal que pessoas andem com armas no meio das pessoas de bem, principalmente no centro da cidade, que é uma referência. A gente não deve admitir em localidade nenhuma do município, muito menos no centro. Então, a gente acredita que com mais recursos consegue fazer um trabalho melhor. Eu sei que o estado não tem recursos ilimitados, então a gente tem que realmente alocar os recursos onde se tem melhores resultados. (Recentemente o delegado de Angra foi obrigado a retirar o destacamento da 166ª DP que estava funcionando na Ilha Grande por falta de homens para atuar no local. Ao mesmo tempo, sofre pressão para abrir um destacamento no bairro Parque Mambucaba, na divisa entre Angra dos Reis e Paraty).
O Dia – Além da morte da menina Karina nesta semana, quais outros crimes que o senhor e sua equipe conseguiram elucidar com rapidez?
Vílson Almeida - Tivemos uma tentativa de homicídio à tesourada a uma empresária idosa que, não fosse a imediata investigação, a Polícia Civil não conseguiria chegar ao autor porque ele tinha acesso à vítima. A mãe do autor cuidava da vítima e ele foi encontrado no local do crime, então tinha acesso à vítima e ficaria difícil comprovar se a gente não tivesse iniciando a investigação de imediato. Então, imediatamente iniciamos a investigação e no final ficou comprovado que na loucura da droga, querendo pegar dinheiro para usar droga, ele foi ao apartamento da vítima e a vítima acordou. Na verdade, ele não queria que a vítima o visse, ele queria furtar. Quando a vítima acordou e começou a gritar, ele pegou uma tesoura e começou a dar golpes na vítima. Um vizinho ajudou bastante a solucionar o crime. Outro crime foi um duplo homicídio de uma mãe e sua filha. O autor matou as duas e foi para o local ver a movimentação da polícia fazendo a investigação. Os policiais acharam estranho ele estar com o dedo cortado. Depois, fomos à casa dele e conseguimos encontrar roupas sujas de sangue. Isso demonstrou pra gente que ele era o autor do crime achando que ia passar impune e a gente conseguiu tirar mais um criminoso das ruas.
O Dia – O que a população de Angra pode esperar de sua Polícia Civil ?
Vílson Almeida - Muito empenho da equipe para que a gente possa fazer muito com os poucos recursos que a gente tem. A gente entende que esse é o nosso trabalho, que a gente faz por vocação. Um trabalho policial investigativo tem que ser vocacionado e a gente se dedica ao máximo e fica muito satisfeito com uma resposta dessas, onde você consegue prender o criminoso. Você não vai trazer a vítima de volta, mas ao menos vai acalmar um pouco mais o coração dos entes queridos que ficam com a responsabilização penal dos autores na forma da lei.
O Dia – Como o senhor citou no início desta entrevista a Constituição Brasileira diz que a segurança é um dever do estado e uma responsabilidade de todos. Como a população pode continuar colaborando para que a polícia faça bem seu trabalho?
Vílson Almeida - Bandido bom é bandido preso, então toda a ajuda que pudermos ter é fundamental para fazermos um trabalho bom e rápido. Que a população traga informações, confiem na gente, a gente vai manter o anonimato. Qualquer atividade criminosa que tiver em Angra dos Reis, qualquer criminoso, motivo criminoso, traga a informação pra gente que a gente vai prender esses criminosos. Gostaria de agradecer à população de Angra dos Reis pelo apoio que tem dado à Polícia Civil com informações e por confiar na polícia. O whatsapp da delegacia é (24) 99935-1747 e também temos o Disque Denúncia (0300 253 1177 ou pelo aplicativo).
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