Cacique Algemiro aldeia Sapukai BracuíDivulgação/Pedro Neves
Publicado 19/04/2024 22:48 | Atualizado 10/06/2024 12:01
Angra dos Reis - Com músicas e danças os índios guaranis da aldeia indígena Sapukai, no Bracuí, em Angra dos Reis, realizaram nesta sexta-feira (19) um protesto. O objetivo foi chamar atenção das autoridades sobre a falta de professores. Na ocasião a aldeia recebia a visita de universidades.
Segundo o cacique Algemiro Karaí Mirim, a aldeia tem seis professores aptos para lecionar, mas até o momento os contratos desses docentes, pelo Estado, não foram renovados, e nem tem informações de quando isso vai acontecer. O cacique faz um apelo às autoridades por solução imediata para o problema, que já se arrasta há mais de quatro meses, (120 dias),sem aula no primeiro segmento de 1ªa 5ª série.
 - Já tivemos problemas anteriores, mas nunca tanto tempo sem aula. Eu faço um apelo as autoridades resolva logo, logo mesmo, se não, não dá”- disse Algemiro, informando que na aldeia são 80 crianças sem acesso à educação. Ainda de acordo com o cacique, dez alunos saíram da aldeia e foram para escolas do município, onde não tem professores aptos a ensinarem dentro da cultura guarani.
No protesto crianças da aldeia Sapukai em um só coro pediam
No protesto crianças da aldeia Sapukai em um só coro pediam "Queremos professores"Divulgação/reprodução Pedro Neves
O professor Dirceu Karaí Mirím, que tem filhos na idade escolar, afirmou que a aldeia Sapukai está lutando para que a falta de professores seja sanada o mais rápido possível, porque as crianças da aldeia estão sendo prejudicadas.
- Por elas estarem paradas a bom tempo vai prejudicar muito e elas estão sentindo falta das aulas e estão com ensinamento parado. Peço as autoridades para olhar pra nossas crianças e vejam que estão sem aula, coloque no lugar deles. Os filhos deles estão estudando” .- desabafou Dirceu
De acordo com a Lei Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente ECA, é assegurado entre os direitos o acesso à educação. A realidade da aldeia indígena Sapukai, no Bracuí, neste âmbito, fere totalmente os princípios básicos da Constituição. 
O Dia procurou a Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional, da Alerj, já que é dever do Estado o acesso a Educação, e a deputada Índia Armelau (PL), membro efetivo da Comissão, informou através da sua assessoria, que só soube da situação da aldeia através da nossa reportagem, e afirmou em nota que “por tratar-se de um direito constitucional que está sendo negligenciado às crianças, a deputada Índia Armelau vai oficiar a Comissão de Educação da Alerj e a Secretaria de Estado de Educação em busca de respostas”. (Nota abaixo na íntegra)
Pedro Neves é geógrafo e trabalha com educação indígena desde 2016. Esteve presente na aldeia e disse que um dia como o dia de hoje, 19 de abril, para refletir sobre a população originária e a diversidade étnica indígena no Brasil é pouco, deveria ser trabalhado o ano todo.
Voltando a história dos povos originários, Pedro destacou que após a invasão dos europeus na América começou o processo de colonização, dificultando a vida dos nativos que acabaram perdendo o direito a sua cultura, língua e a sua terra.
-Desde a invasão até os dias atuais os povos sofrem diversos problemas do acesso a garantia da sua terra, cultura e língua. Os povos indígenas apesar do retrocesso eles resistem. A cultura é viva e tem uma concepção de mundo que pode responder os problemas que a gente passa, inclusive o colapso climático que a gente enfrenta. São povos que souberam coexistir com a natureza e tem muito a ensinar a nossa sociedade-
Apesar do pouco avanço, ao longo da história, os povos indígenas têm hoje, uma representatividade no governo federal, a ministra índia Sônia Guajajara, que em rede nacional, entre os destaques, lembrou, que os territórios indígenas preservam 80% de toda a biodiversidade do planeta e são as áreas onde ocorre a menor taxa de desmatamento. “Sem o nosso cuidado com o meio ambiente, a crise climática se agravaria, provocando secas, inundações, ciclones e outros eventos ainda mais severos”.
Quando olhamos para a realidade da aldeia do Bracuí, crianças sem acesso à educação, lembramos que é preciso muito avançar.
-Direitos básicos como: acesso à educação, saúde, moradia, energia, emprego e renda. Então é uma luta que eles enfrentam mas resistem e utilizam desta data para denunciar essas mazelas que eles enfrentam” – Concluiu Pedro.

(Nota da deputada Índia Armelau na Íntegra)
“A deputada tomou conhecimento do fato através do seu questionamento. Que por tratar-se de um direito constitucional que está sendo negligenciado às crianças, a deputada Índia Armelau vai oficiar a Comissão de Educação da Alerj e a Secretaria de Estado de Educação em busca de respostas”. Assessoria de Comunicação da deputada.

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