Delegado Amadeu Trevisan fala com a imprensa sobre os depoimentos do caso do jogador Daniel Corrêa FreitasWhatsApp O DIA
Por O Dia
Publicado 09/11/2018 16:41 | Atualizado 09/11/2018 19:29

Paraná - O jogador Daniel Freitas foi retirado do porta-malas do carro com vida por Edison Brittes e Eduardo Henrique da Silva, de 19 anos, primo de Cristiana Brittes, segundo testemunhas. "Ele murmurava. Depois (Ygor e David) ouviram um som como se ele tivesse sido estrangulado", disse o delegado-titular da Delegacia de São José dos Pinhais, Amadeu Trevisan na tarde desta sexta-feira.

A informação foi colhida após depoimentos dos suspeitos Ygor King, de 19 anos, e David Willian da Silva, de 18 anos, que estavam dentro do carro durante a execução do jogador. O veículo teria ficado estacionado na ocasião por cerca de dez minutos. Os dois estão presos na delegacia de São José dos Pinhais, após se entregarem acompanhados dos advogados na quinta-feira.

O delegado reforçou que Edison Brittes teve uma reação exagerada ao ver a mulher na cama com o jogador e ressaltou que teve tempo para evitar o crime brutal enquanto a vítima estava no porta-malas do seu carro. "Ele rodou quinze, vinte minutos, com todos eles dizendo para que simplesmente deixasse a vítima nua em algum lugar para passar vergonha", disse.

Edison teria matado Daniel e ficado com a roupa suja de sangue. Ao voltar para a cidade de São José dos Pinhais, teria parado em uma loja e dado dinheiro para um dos suspeitos lhe comprar novas vestimentas. A roupa ensaguentada foi jogada em um riacho.

Eduardo Henrique da Silva, de 19 anos, foi preso em Foz de IguaçuReprodução/ TV RPC

Eduardo Henrique da Silva, de 19 anos, é primo de Cristiana Brittes, mulher de Edison, que alegou ter sofrido uma tentativa de estupro do jogador. Eduardo foi preso em Foz de Iguaçu, onde mora, na quarta-feira e está a caminho de Curitiba. Ele deve prestar depoimento na segunda-feira. Sua mulher também deve depor na semana que vem, segundo o delegado.

O delegado-titular de São José dos Pinhais concedeu na tarde desta sexta-feira a última coletiva de imprensa relativa ao caso do assassinato do jogador Daniel Freitas. O ex-meia do Botafogo de 24 anos foi encontrado morto no último dia 27 na área rural da cidade, que fica na Região Metropolitana de Curitiba. Seis suspeitos de participarem do crime estão presos e serão indiciados por homicídio qualificado.   

Confira o vídeo da coletiva desta sexta-feira:

Ygor e David relataram que participaram das agressões e acompanharam Edison Brittes até onde Daniel foi executado. No entanto, eles disseram à Polícia nesta sexta que foram proibidos pelo empresário de descerem do carro. "Eles não pegaram no corpo, nem na faca", disse o delegado responsável.

Ygor King, de 19 anos, e David Willian da Silva, de 18 anos, se apresentaram à Polícia Civil de São José dos Pinhais acompanhados de advogadosReprodução/ TV Globo

Segundo os dois, apenas Eduardo e Edison retiraram o corpo do veículo. "Tudo aconteceu atrás do carro. Eles alegam que tiveram medo de sair. Edison disse que caso saíssem, teriam o mesmo fim", disse Trevisan com base nos depoimentos.

Trevisan também esclareceu que os três jovens - Ygor, David e Eduardo - foram coagidos por Edison a acompanhá-lo no assassinato do jogador.

O delegado disse que aguarda o resultado da perícia feita no local onde o corpo foi encontrado para confrontar com os depoimentos colhidos: "Eu ainda dependo muito dessa perícia, já o que aconteceu na casa está fechado." O delegado também aguarda o resultado da perícia do Instituto Médico Legal para saber se Daniel sofreu tortura enquanto estava vivo. Ele teve o pênis decepado e tinha sinais de corte no pescoço. O corpo foi encontrado em uma plantação de pinos. 

A faca usada no crime tem cerca de 30 centímetros e era um utensílio de churrasco, disse o delegado. Trevisan acredita que Brittes saiu com a arma de casa.

Daniel, de 24 anos, era jogador do São Paulo e estava emprestado ao São Bento, time de Sorocaba que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. Ele tinha amigos na capital paranaense porque já havia jogado pelo Coritiba. No dia do crime, foi a São José dos Pinhais para participar de uma festa de aniversário da filha do casal Brittes, Allana, de 18 anos. No ano anterior, o jogador já havia ido à comemoração da jovem.

O empresário de 38 anos, que confessou o homicídio, disse ter flagrado Freitas tentando estuprar Cristiana. Ela chegou a dizer, em depoimento à polícia, que acordou com Daniel sobre ela "com pênis ereto para fora da cueca". Há imagens feitas por celular que mostram Daniel ao lado de Cristiana. A Polícia Civil, no entanto,descarta a hipótese de que o jogador tenha tentado estuprar Chris Brittes.

O delegado Amadeu Trevisan disse na entrevista coletiva desta sexta-feira que permanece com a hipótese de que o que motivou o crime foi o flagrante que Edison deu em sua mulher na cama com Daniel. No entanto, ele não determinou se houve sexo ou não entre o jogador e Cristiana.

Sobre uma mensagem enviada por Daniel a amigos, dizendo que o pai (Edison Brittes) estava junto, o delegado disse que se tratava de mentira. "Estavam só ele e a mulher desacordada na cama. Ele fala isso aí para aparecer para um grupo de amigos", diz Trevisan. 

À imprensa, uma testemunha afirmou que Edison Brittes teria convidado Daniel a ter relações sexuais com a sua esposa, Cristiana Brittes, naquela manhã. O delegado não confirmou esta informação. Ele disse que a testemunha foi identificada e será chamada a depor na próxima semana.

Edison Brittes confessou autoria do assassinato (Reprodução/ TV Globo)Reprodução
Autor confesso do crime, Edison Brittes está preso no Centro de Triagem I da Polícia Civil em Curitiba, mas deve ser transferido para a Penitenciária Estadual de Piraquara, segundo a Polícia Civil. 

A filha de Edison, Allana, e a mulher, Cristiana Brittes, foram transferidas nesta sexta-feira para a Penitenciária Feminina em Piraquara, no Paraná.

Uma tia e uma prima da vítima, que preferiram não ter a identidade revelada, foi ouvida pela polícia na tarde de quinta-feira. O teor do depoimento delas não foi divulgado pela polícia.

A mão do jogador está 'totalmente abalada', segundo o delegado responsável, e não teve condições de comparecer.

Também na quinta-feira, foi realizada uma nova perícia no local onde o corpo de Daniel foi encontrado. O reexame pretendia identificar possíveis sujidades de sangue no local. Também serão realizadas perícias na casa da família Brittes e no carro usado para transportar Daniel. 

Corpo do jogador Daniel foi encontrado em mata próxima a uma estrada de São José dos Pinhais (Reprodução/ RPC) Reprodução

O laudo da perícia mostra que Daniel tinha 13,4 dg/L de álcool no sangue. "Pelo grau de embriaguez, dificilmente, ele iria conseguir estuprá-la", declarou o delegado Amadeu Trevisan. Para ele, Daniel fez a foto só para enviar aos amigos. "Ele tem um grupo de amigos em que postavam fotos para competir quem pegava mais mulher." Os depoimentos dados pela família, segundo Trevisan, foram discrepantes.

Em depoimento, Edison Brittes disse que 35 garrafas de vodka foram consumidas por oitenta pessoas na comemoração do aniversário da filha. 

Daniel enviou foto ao lado de Cris Brittes, mulher de Edison, que confessou o assassinato do jogadorReprodução

Prisões

Brittes, Cristiana e a filha estão detidos e serão indiciados por homicídio e coação de testemunhas. Os três jovens que tiveram prisão decretada já haviam confessado à polícia estar no carro do empresário. 

Em novo depoimento nesta quarta, segundo a TV Globo, Brittes mudou alguns trechos de sua versão. Alegou que foi um dos três rapazes quem arrombou a porta do quarto onde estariam Daniel e Cristiana e disse ter mentido para defender os outros. Ainda segundo a Globo, uma testemunha disse ter tentado impedir a agressão, mas foi empurrada. Outras duas relataram, também conforme a TV, que foram chamadas por Brittes para um encontro em um shopping para combinar uma versão.

Procurada pela reportagem, a defesa da família não se manifestou até a publicação desta matéria.

Daniel jogou pelo Coritiba em 2017Reprodução

Rapaz tímido

As circunstâncias em torno do assassinato de Daniel surpreenderam colegas no São Bento, time de Sorocaba (SP). "Não condiz com a imagem que temos dele. Era um rapaz tímido, recatado, pouco dado a bebida e balada. Ficamos muito chocados", contou Giovanni Coutinho, supervisor de futebol do clube.

Segundo Coutinho, a única vez em que o lateral falou para todo o grupo no vestiário foi após uma partida contra o Guarani (SP) no último dia 6, pela Série B do Campeonato Brasileiro. "Ele era super-responsável. Nunca se atrasou para um treino."

Dois jogadores, que pediram anonimato, acharam estranha a bebedeira atribuída a Daniel. Segundo eles, o atleta era convidado para festas e preferia ficar em casa. Nos quase quatro meses em que viveu em Sorocaba, nunca foi visto alcoolizado.

O atleta, de Juiz de Fora (MG), morava sozinho, num apartamento alugado por ele, na região central da cidade. O último treino com a equipe no estádio local foi no dia 16, antes de viajar para o Paraná. Ele foi à festa porque foi dispensado do jogo seguinte, contra o CRB. A diretoria do clube, onde ele tinha contrato até dezembro, disse acompanhar o caso. 

*Com informações do Estadão Conteúdo

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