Publicado 29/07/2019 17:36 | Atualizado 29/07/2019 17:55
Rio - O presidente Jair Bolsonaro declarou, nesta segunda-feira, em uma transmissão ao vivo em sua página no Facebook, que o pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, foi "morto pela esquerda". Mais cedo, o presidente disse que poderia contar como Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira desapareceu durante a ditadura militar. O pai de Santa Cruz foi preso pelas forças de segurança do Estado durante a ditadura militar e até hoje seu corpo não foi encontrado.
"Estão me criticando, dizendo que se eu sei, tenho que falar. O que eu sei é que o pai da Santa Cruz integrava a AP, Ação Popular (AP), organização contrária ao regime militar", diz. Na live, Bolsonaro diz que esse era o grupo "mais sanguinário que tinha". Bolsonaro diz que Fernando Santa Cruz veio jovem do Recife para o Rio de Janeiro e que teria sido morto por integrantes do próprio grupo no Rio. Ele diz que obteve a informação "de pessoas que eu conversou na época, ora bolas".
"O pessoal da AP do Rio de Janeiro ficou estupefato: Como pode esse cara vir de Recife. Eles queria se reunir com a cúpula da AP e não com o Santa Cruz. Resolveram sumir com o pai do Santa Cruz. Essa é a informação que eu tive na época sobre este episódio. Não foram os militares que mataram ele", declarou. Bolsonaro citou ainda o livro 'A Verdade Sufocada', de Carlos Brilhante Ustra, e o depoimento do ex-chefe do Doi-Codi de São Paulo, centro de tortura durante a ditadura, para embasar sua versão.
"Mostrou que na guerra era um lado contra o outro e se esse o lado da esquerda tivesse ganhado, como estaríamos? É muito fácil culpar os militares por tudo que acontece. Isso mudou", emendou.
O presidente disse ainda que não quer 'polemizar' com o presidente da OAB, mas diz que ele está equivocado.
"Mas, não quero polemizar com ninguém. Não quero mexer com os sentimentos do senhor Santa Cruz porque não tenho nada em pessoal no tocante a ele. Acho que ele está equivocado. Mas, essa é a minha versão do contato que tive com quem participou ativamente do nosso lado naquele momento para evitar que o Brasil virasse uma Cuba. As pessoas da própria esquerda quando desconfiavam de alguém executavam", finaliza.
Felipe Santa Cruz é filho de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, integrante do grupo Ação Popular (AP), organização contrária ao regime militar. Ele foi preso pelo governo em 1974 e nunca mais foi visto.
O Estadão Verifica mostrou que o pai de Felipe Santa Cruz, segundo depoimento à Agência Brasil de um de seus irmãos, João Artur, não era ligado à luta armada. Outros membros de destaque da AP incluem o ativista Herbert de Souza, o Betinho, e o ex-senador José Serra.
O livro-relatório "Direito à Verdade e à Justiça" destaca que um documento do então Ministério da Aeronáutica informou, em 1978, que Fernando Santa Cruz tinha desaparecido. Informações de perseguidos políticos ressaltaram que o desaparecimento ocorreu em 22 de fevereiro de 1974 e ele teria sido morto pelo DOI-CODI do Rio de Janeiro.
O Estadão Verifica mostrou que o pai de Felipe Santa Cruz, segundo depoimento à Agência Brasil de um de seus irmãos, João Artur, não era ligado à luta armada. Outros membros de destaque da AP incluem o ativista Herbert de Souza, o Betinho, e o ex-senador José Serra.
O livro-relatório "Direito à Verdade e à Justiça" destaca que um documento do então Ministério da Aeronáutica informou, em 1978, que Fernando Santa Cruz tinha desaparecido. Informações de perseguidos políticos ressaltaram que o desaparecimento ocorreu em 22 de fevereiro de 1974 e ele teria sido morto pelo DOI-CODI do Rio de Janeiro.
'Crueldade e falta de empatia', reage presidente da OAB a fala de Bolsonaro
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, afirmou, por meio de nota que as declarações do presidente Jair Bolsonaro demonstram "crueldade e falta de empatia".
"Se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar eu conto para ele", disse Bolsonaro.
Santa Cruz afirma que, "como orgulhoso filho de FERNANDO SANTA CRUZ, quero inicialmente agradecer pelas manifestações de solidariedade que estou recebendo em razão das inqualificáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro". "O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demonstrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão".
"Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro - e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos", diz.
"Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por 'vivência', tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais 'desaparecidos', nossas famílias querem saber", afirma Santa Cruz.
O presidente da OAB ainda afirma que a "respeito da defesa das prerrogativas da advocacia brasileira, nossa principal missão, asseguro que permaneceremos irredutíveis na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente". "Garantia que é do cidadão, e não do advogado. Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido. Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a tantas".
"O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre estiveram - e sempre estarão - sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil", diz.
"Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente", conclui.
OAB Nacional
A OAB também se manifestou a respeito, em nota assinada pela Diretoria do Conselho Federal, Colégio de Presidentes e o Conselho Pleno.
"A diretoria, o Conselho Pleno do Conselho Federal da OAB e o Colégio de Presidentes das 27 Seccionais da OAB repudiam as declarações do Senhor Presidente da República e permanecerão se posicionando contra qualquer tipo de retrocesso, na luta pela construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e contra a violação das prerrogativas profissionais", diz a entidade.
Bolsonaro questionou a atuação da OAB ao falar das investigações sobre Adélio Bispo, responsável pela facada contra o presidente no ano passado, durante a campanha eleitoral. Adélio foi considerado inimputável pela Justiça por transtorno mental. O presidente não recorreu.
Em 2011, ainda como deputado federal, Bolsonaro afirmou em palestra na Universidade Federal Fluminense (UFF) que Fernando Santa Cruz, pai do agora presidente da OAB, teria morrido "bêbado" após pular o carnaval.
À frente da OAB-Rio, Felipe iniciou movimento em 2016 para pedir ao Supremo Tribunal Federal a cassação do mandato de deputado federal de Jair Bolsonaro por "apologia à tortura". Ao votar pelo impeachment de Dilma Rousseff, o então parlamentar fez uma homenagem a Carlos Brilhante Ustra, que comandou o Doi-Codi de São Paulo, centro de tortura durante a ditadura.
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, afirmou, por meio de nota que as declarações do presidente Jair Bolsonaro demonstram "crueldade e falta de empatia".
"Se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar eu conto para ele", disse Bolsonaro.
Santa Cruz afirma que, "como orgulhoso filho de FERNANDO SANTA CRUZ, quero inicialmente agradecer pelas manifestações de solidariedade que estou recebendo em razão das inqualificáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro". "O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demonstrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão".
"Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro - e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos", diz.
"Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por 'vivência', tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais 'desaparecidos', nossas famílias querem saber", afirma Santa Cruz.
O presidente da OAB ainda afirma que a "respeito da defesa das prerrogativas da advocacia brasileira, nossa principal missão, asseguro que permaneceremos irredutíveis na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente". "Garantia que é do cidadão, e não do advogado. Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido. Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a tantas".
"O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre estiveram - e sempre estarão - sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil", diz.
"Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente", conclui.
OAB Nacional
A OAB também se manifestou a respeito, em nota assinada pela Diretoria do Conselho Federal, Colégio de Presidentes e o Conselho Pleno.
"A diretoria, o Conselho Pleno do Conselho Federal da OAB e o Colégio de Presidentes das 27 Seccionais da OAB repudiam as declarações do Senhor Presidente da República e permanecerão se posicionando contra qualquer tipo de retrocesso, na luta pela construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e contra a violação das prerrogativas profissionais", diz a entidade.
Bolsonaro questionou a atuação da OAB ao falar das investigações sobre Adélio Bispo, responsável pela facada contra o presidente no ano passado, durante a campanha eleitoral. Adélio foi considerado inimputável pela Justiça por transtorno mental. O presidente não recorreu.
Em 2011, ainda como deputado federal, Bolsonaro afirmou em palestra na Universidade Federal Fluminense (UFF) que Fernando Santa Cruz, pai do agora presidente da OAB, teria morrido "bêbado" após pular o carnaval.
À frente da OAB-Rio, Felipe iniciou movimento em 2016 para pedir ao Supremo Tribunal Federal a cassação do mandato de deputado federal de Jair Bolsonaro por "apologia à tortura". Ao votar pelo impeachment de Dilma Rousseff, o então parlamentar fez uma homenagem a Carlos Brilhante Ustra, que comandou o Doi-Codi de São Paulo, centro de tortura durante a ditadura.
*Com Estadão Conteúdo
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