Publicado 12/07/2021 21:25 | Atualizado 20/07/2021 17:56
Um relatório feito pelo Ação da Cidadania com outras 57 organizações aponta que pelo menos 100 milhões de brasileiros se encontram em situação de insegurança alimentar. Os dados apresentados esclarecem que, devido a má gestão governamental, grande parte da população brasileira não sabe o que irá ou mesmo se irá comer no dia seguinte.
Um grupo de 106 especialistas de diferentes áreas analisou 17 objetivos de desenvolvimento sustentável e suas 169 metas. A destruição de direitos sociais, ambientais e econômicos, além de direitos civis e políticos, arduamente construídos nas últimas décadas é preocupante. De acordo com a pesquisa, não há uma meta sequer com avanço satisfatório em 2021.
Dados mostram que o auxílio emergencial, aprovado inicialmente para o período entre abril e agosto de 2020, permitiu a uma parte da população esperanças de terem condições de se alimentarem mesmo apesar de, no momento, privação de renda ou com renda reduzida, interrompendo, assim, o que poderia ser a maior crise social já vivida no Brasil.
Em 2013, o Brasil ganhou uma premiação da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, em inglês) por ter sido referência mundial de redução de pobreza e fome, e como consequência à esse prêmio, o país a saiu do do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014. Foi um momento histórico, porém de acordo com especialistas, esse orgulho não irá durar muito tempo. É o que relatou, Rodrigo "Kiko" Afonso, diretor executivo do Ação da Cidadania, em entrevista ao DIA.
"O Brasil já voltou ao mapa da fome. Só não voltou oficialmente porque o grupo que define esses dados que só irá se reunir em agosto, e provavelmente ainda este ano teremos esse titulo infeliz de estarmos novamente no Mapa da Fome da ONU. Para estarmos nesse mapa, precisamos ter mais de 5% da população em situação de insegurança alimentar grave, popularmente chamado de fome. O Brasil já tem mais de 9% da sua população em situação de fome", explicou Kiko.
Destruição das politicas públicas
Alguns estudos já comprovaram que pandemia somente agravou a questão da fome no país, porém a situação sanitária não aumentos os números. Segundo Kiko, o problema começou a ser agravado em 2016, devido a decisões politicas e ideológicas.
"A situação é dramática, mas é importante entendermos que a fome não é uma criação da covid. A fome vêm crescendo desde 2016, quatro anos antes do início da pandemia, e isso se deve a fatores que não têm a ver com o vírus. Esses fatores têm a ver com decisões politicas e decisões ideológicas colocadas a partir de 2016. A covid só agravou a situação, mas a politica de proteção a essas pessoas já estava desmantelada. Quando terminar a pandemia, se nada mudar, continuaremos nesse processo de degradação e de aumento da fome no Brasil."
Segundo Kiko Afonso, políticas públicas consideradas importantes e que tornaram o Brasil referência mundial no combate à fome foram desmanteladas nos últimos anos. O fim do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e o sucateamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram prejudiciais para continuar no rumo da diminuição desses fatores.
"As medidas tomadas por Bolsonaro foram absolutamente trágicas. Começamos no primeiro dia do mandato do governo Bolsonaro o decreto inicial da gestão dele extinguiu o Consea . O conselh, além de ajudar na manutenção das politicas publicas, podia monitorar o que o governo estava fazendo. O governo não olha para o pequeno produtor, ele só olha para o agronegócio, porque só quer enxergar PIB e não tem noção que quem vive ali de comer o feijão com arroz, consome do pequeno produtor", completou.
Estudos divulgados somente em 2020 mostravam que em 2018 o país já tinha dobrado a quantidade de pessoas em situação de insegurança alimentar comparado a 2014. Hoje, são mais de 118 milhões de brasileiros em situação de fome no país.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes
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