Publicado 21/01/2022 13:00
Publicações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) nas redes sociais expuseram mais um episódio de rompimento da cúpula bolsonarista com ex-aliados do início do governo, desta vez com o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e seu irmão, Arthur Weintraub.
O ex-integrante do Executivo vinha direcionando provocações veladas ao presidente em entrevistas e postagens na internet, mas o enfrentamento ganhou caráter público nesta quinta-feira, 20, quando o filho do mandatário deu o sinal definitivo da cisão com os antigos aliados.
Se, no passado, Weintraub já foi um dos ministros mais alinhados ideologicamente ao presidente Jair Bolsonaro, hoje ele é considerado "traidor" pelas pessoas mais próximas ao mandatário. Desde que saiu do governo, em 2020, o ex-titular da Educação passou a curtir diversas publicações críticas ao presidente nas redes sociais, o que foi interpretado como uma forma de lançar "indiretas" ao chefe do Executivo. Um dos primeiros sinais de desgaste da relação ocorreu logo na ocasião de sua demissão da Educação, quando ele postou um vídeo no qual Bolsonaro o abraça levando no rosto uma expressão aparentemente aborrecida.
Na última segunda-feira, 17, Weintraub participou de uma "live" com ex-ministros e fez uma provocação sobre a aliança do presidente da República com o Centrão. Segundo ele, o mandatário teria se afastado das pautas ideológicas pelas quais foi eleito e "substituído" a ala conservadora do Executivo federal por integrantes do bloco político.
Foi o estopim para que o presidente passasse a dar sinais mais claros de seu descontentamento com o ex-ministro. A questão deixou de ser assunto de bastidores nesta quinta-feira, quando os irmãos Weintraub destacaram em suas redes o fato de o secretário especial da Cultura, Mário Frias, ter curtido uma publicação insinuando que o ex-ministro poderia ser preso "em breve".
"Esse post é mais torcida ou desejo?", questionou Arthur, anexando uma captura de tela do tweet com a curtida de Frias. A publicação em questão é de uma apoiadora bolsonarista que diz: "anote e cobre: você será preso em breve, haverá choro e ranger de dentes".
O secretário da Cultura, então, fez uma série de publicações contra os irmãos. Ele afirmou que eles não deveriam estar chateados com uma curtida, já que eles fizeram o mesmo "inúmeras vezes em perfis que chamam o presidente de frouxo, covarde e coisas piores". Frias também descreveu o ex-ministro como oposição, "a mais baixa que existe, cínica e sonsa".
"Sua turma ataca todos os integrantes do Governo, inclusive a mim e a outros conservadores, e agora quer vir pagar de ofendido? Vire homem e diga logo que é oposição. Fica parecendo um moleque sonso, alimentando ataques por trás, mas se fazendo de aliado injustiçado pela frente", escreveu Frias.
Eduardo Bolsonaro usou o tweet do secretário para entrar publicamente no bate-boca. O deputado afirmou que durante muito tempo seu pai "engoliu sapos" do ex-ministro para dar a ele a chance de "se corrigir", o que, segundo Eduardo, não ocorreu. Na mesma publicação, o filho do presidente afirmou que a briga com o ex-ministro não se trata de dividir a direita, mas de "separar o joio do trigo".
Eduardo ainda deu a entender que teria ajudado Weintraub a ir para os Estados Unidos após sua demissão do governo para impedir uma possível prisão do ex-ministro. Em resposta a um usuário que o acusou de endossar prisões arbitrárias, o parlamentar respondeu: "Se endossássemos prisões arbitrárias, Abraham jamais teria ido aos EUA junto com seu irmão". O deputado não deu mais detalhes sobre o assunto.
Reagindo às postagens, Abraham escreveu que os ex-aliados estavam se aproximando das atitudes do que ele classificou como "comunistada" e tentou desqualificar o secretário por seu passado como ator da TV Globo.
"Antigamente, quem defendia minha prisão arbitrária por falar uma frase era a comunistada. Agora é o Secretário da Cultura, Mário Frias! Em 2017, eu estava na Paulista ou fazendo o plano de Governo, enquanto ele estava na Globo...", escreveu o ex-ministro.
Weintraub também se defendeu das acusações de ter "curtido" tweets contrários ao presidente. "As duas vezes que eu curti algo errado foi por engano. Retirei a curtida, imediatamente, assim que soube. Você, secretário indicado pelo governo, intencionalmente manifesta apoio à minha prisão", escreveu.
Mário Frias, então, retornou às redes sociais para dizer que não apoia prisão ilegal e pedir que Abraham "deixe de mentir descaradamente".
A temperatura entre os irmãos Weintraub e a ala ideológica do governo já vinha subindo nas últimas semanas. No início do ano, o ex-titular da Educação trocou farpas com a deputada bolsonarista Janaina Paschoal no Twitter, negando a intenção de integrar uma chapa bolsonarista nas eleições de outubro. O ex-ministro retornou ao Brasil para concorrer ao governo de São Paulo. No governo, ele é visto como "traidor e oportunista" e, como disse Mário Frias, alguém que "só se agarrara no conservadorismo quando a coisa aperta".
O distanciamento entre o presidente e o ex-ministro se tornou explícito após o presidente Jair Bolsonaro escolher o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, como seu candidato ao governo de São Paulo, contrariando os interesses de Weintraub.
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