Na despedida do TSE, Barroso critica estratégia 'mambembe' de desacreditar a votação eletrônica

Em recado direito à base bolsonarista, ministro reitera a defesa às instituições democráticas no país

O ministro Luís Roberto Barroso não perdeu a chance de rebater as declarações de Bolsonaro sobre a suspeita da segurança das urnas eletrônicasAbdias Pinheiro/ Secom TSE
Publicado 17/02/2022 13:54
Brasília - No discurso de despedida como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso direcionou mais uma mensagem contundente ao presidente Jair Bolsonaro. Após um período de trégua, ele voltou a levantar suspeitas em relação ao sistd="toggle-full-menu" title="Menu principal">

Na despedida do TSE, Barroso critica estratégia 'mambembe' de desacreditar a votação eletrônica

Em recado direito à base bolsonarista, ministro reitera a defesa às instituições democráticas no país

O ministro Luís Roberto Barroso não perdeu a chance de rebater as declarações de Bolsonaro sobre a suspeita da segurança das urnas eletrônicasAbdias Pinheiro/ Secom TSE
Publicado 17/02/2022 13:54
Brasília - No discurso de despedida como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso direcionou mais uma mensagem contundente ao presidente Jair Bolsonaro. Após um período de trégua, ele voltou a levantar suspeitas em relação ao sistema eletrônico de votação no país. Direto, Barroso classificou como 'repetição mambembe' de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, a estratégia de desacreditar processo eleitoral que começará em outubro.
"Uma das estratégias das vocações autoritárias em diferentes partes do mundo é procurar desacreditar o processo eleitoral, fazendo acusações falsas e propagando discurso de que 'se eu não ganhar, houve fraude'. Trata-se de repetição mambembe do que fez Donald Trump nos Estados Unidos, procurando deslegitimar a vitória inequívoca de seu oponente e induzindo multidões a acreditar na mentira", declarou Barroso, que passa o bastão para o ministro Luiz Edson Fachin, novo presidente do TSE.
Na última sessão à frente da Corte, o ministro fez clara referência à caótica transição de poder nos Estados Unidos após a eleição de 2020. Desgastado pela postura negacionista no enfrentamento contra a pandemia do novo coronavírus, determinante para a morte de milhão de americanos, Trump, após o resultado desfavorável no pleito, moveu uma série de ações nas quais contestava, sem comprovação, a existência de fraude na contagem dos votos. De forma unânime, todos os procedimentos foram ações foram rejeitadas pela Justiça e Joe Biden foi confirmado como o 46º presidente dos Estados Unidos.
Barroso lembrou o discurso feito a apoiadores em Brasília, nas comemorações pelo Dia do Exército em abril de 2020, em que Bolsonaro subiu em um carro de som diante de faixas que pediam a volta da ditadura militar e o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Também mencionou o desfile de tanques de guerra na Praça dos Três Poderes, em Brasília, as manifestações no feriado do 7 de Setembro do ano passado e as ameaças de pedidos de impeachment contra membros do STF.

"Vivemos um momento triste em que se misturam o ódio, a mentira, as teorias conspiratórias, o anti- cientificismo, as limitações cognitivas e a baixa civilidade", lamentou o ministro em sua despedida do comando do TSE.
Barroso relembrou as medidas adotadas pelo TSE para fazer frente aos ataques do presidente e de seus apoiadores. O plenário da Corte aprovou duas notícias-crime contra Bolsonaro: pela transmissão ao vivo contra o sistema eletrônico de votação e, em outra oportunidade, por vazar informações de um inquérito sigiloso da Polícia Federal (PF) sobre uma tentativa de ataque hacker aos sistemas da Corte Eleitoral. Também determinou a desmonetização de canais bolsonaristas que divulgam notícias falsas.

"O foco principal da nossa atuação foi não o controle de conteúdo, mas, sobretudo, dos comportamentos coordenados inautênticos, como o uso de perfis falsos ou duplicados, robôs e trolls, gente contratada para amplificar as notícias falsas", frisou Barroso.
Sem citar nomes, o ministro criticou aqueles que insistem na defesa do voto impresso, mesmo após o Congresso rejeitar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que tratou do tema. O discurso é popular entre a militância bolsonarista e ganha fôlego com os ataques do presidente ao sistema eleitoral. Para Barroso, a "rediscussão requentada do assunto só tem por finalidade tumultuar o processo eleitoral".
Forças Armadas
Barroso saiu em defesa da participação das Forças Armadas na Comissão de Transparência das Eleições (CTE) e condenou as recentes tentativas de uso político dos militares pelo presidente Bolsonaro. O ministro defendeu com firmeza que "as Forças Armadas estão aqui (no TSE) para proteger a democracia brasileira, e não para proteger um presidente que quer atacá-la".

O ministro-presidente tentou blindar o general Heber Garcia Portella, representante militar na comissão, na esteira das suspeitas de vazamento interno das perguntas enviadas pelas Forças Armadas ao TSE sobre o funcionamento das urnas eletrônicas e dos sistemas de segurança da instituição. Questionado sobre a autoria do episódio, Barroso garantiu que as informações não foram vazadas por servidores do tribunal - ou seja, fontes na caserna poderiam ser responsáveis pela disponibilização do documento a integrantes do governo e jornalistas.

Os pedidos de informação dos militares foram encaminhados à Corte em dezembro. O documento foi prontamente classificado como sigiloso, a pedido dos próprios militares. Na última quarta-feira, 16, porém, a cúpula do TSE decidiu divulgar a íntegra das perguntas e respostas diante dos vazamentos e declarações falsas do presidente de que as Forças Armadas teriam encontrado 'diversas vulnerabilidades' nas urnas. Em nota, o tribunal explicou que a consulta realizada tinha como único objetivo colher esclarecimentos sobre o funcionamento dos processos de preparação das eleições.

"Nós não imaginamos ter alguém aqui para obter informações para nós sermos atacados. Não é para isso que nós montamos a comissão Eu tenho certeza que o general que integra a comissão também não tem esse propósito. Agora, a política por vezes tem alguns descaminhos", disse Barroso.
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