Publicado 06/03/2022 21:26 | Atualizado 06/03/2022 21:28
São Paulo - O PT criou núcleos de evangélicos em 21 Estados para tentar recuperar, nas eleições de 2022, os votos que perdeu entre os mais pobres em 2016 e 2018. O próximo passo é a criação de comitês que unam lideranças neopentecostais aos demais partidos de esquerda, como o PSB, com o qual petistas negociam formar uma federação. Homem de confiança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, ex-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, comanda as articulações.
O objetivo do partido é adaptar a comunicação das campanhas políticas aos valores desses segmentos religiosos, para quebrar a resistência à candidatura Lula ao Planalto e à legenda. Segundo a coordenadora do Núcleo de Evangélicos do PT (NEPT), deputada federal Benedita da Silva (RJ), o grupo busca reverter a noção de que cristãos deste segmento são avessos à sigla: "No governo Lula, os evangélicos melhoraram de vida e os dízimos das nossas igrejas aumentaram".
O fortalecimento dos canais de interlocução com evangélicos foi um pedido de Lula. Em 2016, o PT perdeu mais da metade das 630 prefeituras que controlava.
Desde então, a legenda estuda estratégias para conciliar seu discurso com demandas e visões de mundo do eleitorado evangélico e entre os mais pobres. A perda de apoio entre eleitores de baixa renda foi considerada fundamental para o impeachment da presidente Dilma Rousseff naquele ano, e para a derrota de Fernando Haddad para Jair Bolsonaro em 2018.
LAVA JATO
Durante o período de Lula no Planalto (2003-2010), líderes evangélicos se aproximaram do governo, mas após a eleição de Dilma as coisas mudaram. Em meio às denúncias de corrupção da Lava Jato, pastores ligados a legendas conservadoras fustigavam o PT. Um dos instrumentos desses ataques foi a chamada agenda de costumes, associando a sigla a temas como aborto, liberação das drogas e "ideologia de gênero". Em meio à crise econômica a partir de 2015, a pregação teve efeito devastador para o petismo, sobretudo entre os mais pobres, faixa na qual os evangélicos são mais fortes.
Para tentar reverter essa situação, o PT se aproxima de evangélicos de fora do partido, como o pastor Paulo Marcelo Schallenberger, que tentou se eleger vereador em São Paulo, em 2020, com apoio do deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP), aliado de Bolsonaro. No último 13 de dezembro, o religioso se reuniu com o pré-candidato petista na sede do Instituto Lula, onde conversaram por mais de duas horas. O encontro foi arranjado pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges Júnior.
Schallenberger se aventurou na política como filiado ao Podemos, legenda pela qual o ex-juiz e algoz de Lula na Lava-Jato, Sérgio Moro, é pré-candidato ao Planalto. Não se elegeu. Hoje, atua nos bastidores da comunidade neopentecostal em defesa do PT.
O pregador também já teve entreveros com a Justiça. Em 2014, foi preso em Foz do Iguaçu (PR)por suspeita de posse de arma e drogas. Segundo Benedita, as conversas ocorreram por iniciativa do pastor, que apresentou ideias para fortalecer a influência da candidatura de Lula no segmento evangélico. "Não houve nenhuma autorização dada a ele", disse a deputada.
Nas eleições de 2018, diversas lideranças neopentecostais manifestaram apoio a Bolsonaro, então candidato ao Planalto.
Em suas origens, o PT teve forte base religiosa. As Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica constituíram uma das bases do partido - outras foram o novo sindicalismo, liderado por Lula, e organizações de esquerda fora da legalidade. As CEBs, inspiradas na Teologia da Libertação, promoviam ações sociais nas periferias das grandes cidades e ajudavam na organização comunitária e formação de lideranças, nos anos 70, 80 e 90 do século passado.
Em conversas preliminares, integrantes da organização sugeriram batizar os grupos de conexão entre neopentecostais e a esquerda brasileira de ‘Comitês Populares de Luta’. A decisão, no entanto, tem sido questionada internamente por atores receosos com a possibilidade de o nome afugentar potenciais aliados. "A gente quer um nome adequado para esse campo", diz o integrante da coordenação nacional do projeto Geter Borges, que sugere ‘Comitê de Evangélicos pela Democracia’.
O NEPT treina militantes sobre como abordar os evangélicos. A proposta é fornecer um repertório mais amplo com o qual filiados tenham maiores chances de êxito nas tentativas de convencê-los a aderir às propostas do partido. "Em 2015, começamos a perceber a necessidade de um grupo com consistência ideológica maior. Fazemos trabalho de base para aumentar a compreensão política dos evangélicos", diz o integrante da coordenação nacional do projeto, Geter Borges, que sugere ‘Comitê de Evangélicos pela Democracia’.
Em setembro do ano passado, o grupo promoveu o Encontro de Evangélicos com Lula, transmitido pelas redes sociais. Ao lado de Benedita e da presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, o ex-presidente ouviu mensagens de pastores aliados. Ao fim, fez um discurso em que defendeu seu governo. Neste ano, está prevista uma nova edição, ainda sem data definida.
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