Publicado 07/03/2022 16:26
Apoiadores e aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) encontraram uma oportunidade para enfraquecer a campanha do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) à Presidência. Depois que áudios do deputado estadual Arthur do Val, (Podemos) vazaram, críticos de Moro destacam que ele ajudou a divulgar a viagem de membros do Movimento Brasil Livre (MBL), incluindo o parlamentar, à Ucrânia. Os bolsonaristas exploram a proximidade do presidenciável com integrantes do grupo para desqualificá-lo.
Nesta segunda-feira, 7, ganhou força um movimento nas redes sociais que cobra de Moro a prestação de contas sobre o valor arrecadado pelos membros do MBL para ajudar os refugiados ucranianos. Na semana passada, Arthur do Val, Renan dos Santos e outros nomes da sigla fizeram publicações afirmando ter arrecadado centenas de milhares de reais para as vítimas do conflito. Eles também publicaram fotos e vídeos de sua atuação na fronteira do país invadido pela Rússia.
Por meio da hashtag "MoroAbreMBL", bolsonaristas refazem a pressão sofrida pelo ex-juiz para divulgar seus ganhos na consultoria americana Alvarez & Marsal, no início do ano. Desta vez, o pedido é para que ele abra as contas do MBL. O ex-juiz revelou sua remuneração na consultoria em uma live ao lado do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), que faz parte do grupo. Moro, por sua vez, nunca foi um integrante do MBL, embora tenha aceitado dividir palanque com políticos ligados ao movimento.
O deputado Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP) é um dos que mais têm mobilizado seu perfil na campanha contra Moro. Ele compartilhou publicações feitas por Felipe Martins, assessor de assuntos especiais do presidente da República, com críticas ao ex-juiz. Martins classificou a viagem como "obscura" e usou a proximidade do ex-ministro com o MBL para argumentar que ele apoia "gente capaz de explorar o sentimento alheio para obter prazer". O assessor também usou a situação para elogiar a postura de Jair Bolsonaro diante do conflito.
"Tenho certeza de que os ucranianos preferem ações concretas a palavras vazias. Enquanto o PR (presidente) está enviando ajuda humanitária e acolhendo refugiados, você ostenta virtudes nas redes sociais e apoia uma viagem obscura de gente capaz de explorar o sofrimento alheio para obter prazer", publicou Martins.
Além dos áudios do deputado paulista, considerados misóginos, bolsonaristas também revisitam a recente polêmica envolvendo o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), que disse considerar errada a criminalização do nazismo. Eles também dão destaque a um vídeo em que Do Val, dias antes de seus áudios virem à tona, diz que Bolsonaro "acabou com a imagem do Brasil" no exterior.
"O 'Mamãe Falei' preocupado com a imagem do Brasil? Não, ele quis dar uma de herói pensando nas eleições e cometeu o suicídio eleitoral. Acabou de sepultar o que havia restado de sua própria imagem", publicou o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) em seu perfil no Twitter.
Fora do âmbito bolsonarista, políticos de esquerda também repudiaram o comportamento do deputado do MBL, mas as associações a Moro foram menos evidentes. Em vez do ex-juiz, alguns políticos ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preferiram usar a ocasião para desqualificar o presidente Jair Bolsonaro.
"Puro cinismo de Bolsonaro classificar fala de Arthur do Val como 'asquerosa', sendo ele o representante maior do machismo, sexismo e misoginia no Brasil", publicou a deputada Erika Kokay (PT-DF).
Já o senador Humberto Costa (PT- PE) escreveu: "Bolsonaro, que agora repudia as falas do seu ex-aliado Arthur do Val, já disse que uma mulher não 'merecia ser estuprada porque era feia' e incentivou o turismo sexual no país 'quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade'. Hipocrisia que fala, né?"
Em nota a respeito das declarações de Arthur Do Val, o MBL disse repudiar o teor das falas do deputado, mas reforçou que o objetivo da viagem, segundo o grupo, foi arrecadar dinheiro para os refugiados. "Aos aproveitadores, lulistas e bolsonaristas, que viram nessa ocasião apenas um motivo para nos atacar, devemos reiterar que nada impedirá o trabalho do MBL em prol da terceira via", diz a nota.
Na última sexta-feira, 4, quando os áudios foram divulgados, ele condenou as declarações do deputado e disse que "jamais dividiria palanque" com pessoas que têm aquele comportamento. A reação de Moro se deu pouco antes de Arthur do Val retirar sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. Ao Estadão, o presidenciável afirmou que não tem "compromisso com o erro" e que "os críticos da vez deveriam se preocupar com a proximidade do presidente da República com políticos condenados e envolvidos em casos de corrupção".
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.