Publicado 25/03/2022 15:21 | Atualizado 25/03/2022 16:21
Rio de Janeiro - O Boletim do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado nesta sexta feira, 25, mostra que, pela primeira vez desde julho de 2020, quando passou a monitorar as taxas de ocupação de leitos de UTI/Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS), o mapa do Brasil aparece totalmente em “verde”. A cor da esperança sinaliza um cenário de otimismo. Com taxas inferiores a 60%, todos os estados brasileiros e o Distrito Federal estão fora da zona de alerta para esse indicador. O Boletim é referente ao levantamento que abrange o período de 6 a 19 de março.
Os pesquisadores do Observatório, responsáveis pelo documento, alertam, no entanto, que o momento ainda exige atenção nas ações de vigilância em saúde e cuidados. “É importante destacar que esta queda encontra-se acompanhada de taxas ainda significativas de [Síndrome Respiratória Aguda Grave] SRAG e incidência de mortalidade por Covid-19”.
Os pesquisadores atribuem o resultado positivo ao avanço da vacinação no país. Os dados atuais mostram 82% da população brasileira com a primeira dose, 74% com a vacinação completa e 34% vacinada com a dose de reforço.
As análises que envolvem dados sobre internações e óbitos por SRAG e Covid-19 destacam grupos extremos da pirâmide etária. Por um lado, afirmam os estudiosos, há os idosos que têm a idade como um fator de risco, o que reforça a necessidade de busca ativa daqueles que ainda não tomaram a terceira dose, assim como a aplicação da quarta dose da população elegível. Na outra ponta, crianças de 5 a 11 anos, em razão da baixa adesão dos seus responsáveis à vacinação.
“É importante a vacinação contra a Covid-19 para crianças, assim como as demais vacinas do calendário infantil. A população em geral, também deve realizar o esquema completo de vacinação”, pontuam os cientistas.
Após destacar que a vacinação tem sido o grande motor para a diminuição de casos graves e fatais por Covid-19 no Brasil e no mundo, os pesquisadores pontuam que o controle da pandemia não está concentrado em uma única medida, mas numa série de providências e recomendações. Diante dessa constatação, eles reforçam que a intensa circulação de pessoas nas ruas, em um momento de abandono do uso de máscaras, pode criar situações que favoreçam uma maior circulação do vírus.
“Consideramos prudente a manutenção do uso de máscaras para determinados ambientes fechados, com grandes concentrações de pessoas, como os transportes coletivos, ou em espaços abertos em que haja aglomerações”, recomendam.
Como referência, o Boletim indica as recomendações sobre o uso de máscaras no atual cenário epidemiológico – quem, quando e qual máscara utilizar, documento elaborado pela Associação Médica de Infectologia. Entre as pessoas que devem continuar utilizando a proteção estão as mais vulneráveis, imunossuprimidos, maiores de 60 anos, principalmente com doenças crônicas, e gestantes.
Perfil dos pacientes
O Boletim desta semana descreve o perfil dos pacientes internados atualmente em UTI em tratamento de Covid-19 ativa. Segundo o estudo, o padrão sintomatológico no momento da internação, dos casos que evoluíram de forma mais grave, manteve-se semelhante ao longo da pandemia.
Os sinais e sintomas mais recorrentes foram falta de ar (71%), baixa saturação de oxigênio (abaixo de 95%) e desconforto respiratório (60%). Quanto às comorbidades, 70% dos pacientes possuem alguma condição crônica, sendo que as mais prevalentes são a cardiopatia (43%), diabetes (39%) e obesidade (9%). Quase metade das internações atuais foram de pessoas que estavam fora de seus municípios de origem.
O perfil demográfico deste grupo revela que as situações mais críticas ocorrem principalmente entre homens (51%), pessoas idosas (62%), e pretos e pardos (49%). Foi observado também que há uma distribuição desigual entre as áreas urbana e rural. “A maioria das internações ocorre na zona urbana (77%), o que guarda coerência com a disponibilidade de serviços de alta complexidade ser maior, e quase exclusiva, em áreas urbanas”, afirmam os cientistas.
Casos e óbitos
Os dados das duas últimas Semanas Epidemiológicas (SE 10 e 11, de 6 a 9 de marco) confirmam a manutenção da tendência de queda de indicadores de incidência e mortalidade por Covid-19, porém em menor velocidade.
Essa redução pode apontar para um período de estabilidade da transmissão nas próximas semanas, com taxas ainda altas de incidência e mortalidade. Foi registrada uma média de 42 mil casos diários, representando uma queda de 32% em relação às duas semanas anteriores (20 de fevereiro a 5 de março).
Também foi observada a redução do número de óbitos por Covid-19 no período, com uma média diária de 570 óbitos, cerca de 35% abaixo dos valores das duas semanas anteriores. No entanto, na semana de 6 a 12 de março, houve um pequeno aumento no número de casos, o que pode ser resultado de festas e viagens no período de carnaval, da flexibilização do uso de máscaras e na realização de eventos de massa que têm ocorrido em algumas cidades. Na semana seguinte, esses valores tornaram a cair.
A maior parte dos estados apresentou estabilidade dos indicadores de transmissão, com exceção de Rondônia e Acre, que tiveram redução significativa do número de casos e de óbitos, e do Amapá, Maranhão, Piauí, Paraíba, Bahia e Mato Grosso do Sul, que apresentaram uma diminuição no número de óbitos, mas manutenção do número de casos.
As maiores taxas de incidência no período foram observadas em Rondônia, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás. As maiores taxas de mortalidade por Covid-19 foram registradas no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás.
A taxa de letalidade por Covid-19, isto é, a proporção de casos notificados que evoluíram para óbito, permaneceu em valores próximos a 1%. Ao longo de 2021, esses valores oscilaram entre 2% e 3%. Foram reduzidos para 0,2% no início de 2022 e, ao longo do mês de março, voltaram a aumentar para 1%. Ainda que discreto, o aumento da letalidade hospitalar entre adolescentes de dez a 19 anos também é destacado pelos cientistas.
Níveis de atividade e incidência
Nas Semanas Epidemiológicas 10 e 11, as SRAG seguiram em declínio no país. Entretanto, foi observada uma redução menos intensa quando comparada às semanas anteriores. Atualmente, a taxa de incidência de SRAG no país é de 2,3 casos por 100 mil habitantes.
Em termos de tendências observadas nos estados, a maioria mantém sinal de queda nas incidências de SRAG. No entanto, em Roraima, Sergipe, Espírito Santo e Distrito Federal, foram observados indícios de aumento.
Tocantins, Maranhão, Ceará e Rio de Janeiro estão em estabilidade e os demais estados em redução. Nas capitais, a tendência é de redução, porém menos acentuada. Em Boa Vista, Florianópolis, Fortaleza e Aracaju há tendência de alta. No Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Belém, Maceió e Porto Velho há estabilidade e nas demais capitais há redução das respectivas incidências.
Segundo dados do Boletim InfoGripe, mesmo com estas tendências a maioria das macrorregiões de saúde ainda estão em nível alto de transmissão.
As notificações SRAG referem-se a casos graves, com hospitalização e/ou óbito, por doenças respiratórias. As tendências recentes de diminuição de casos aparecem para todas as faixas etárias, com exceção de zero a quatro e cinco a 11 anos, em que há presença de casos de SRAG por Covid-19, como também por outras doenças respiratórias. As estimativas de incidência de SRAG pelo projeto InfoGripe (Procc/Fiocruz), utilizam dados da vigilância de SRAG, do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe).
Perfil demográfico
A análise referente ao perfil demográfico observa que a idade média das internações vem reduzindo consistentemente e agora também a mediana das internações apresentou queda nas duas últimas semanas. Houve manutenção da idade média e idade mediana das internações em UTI e discreto aumento da idade média e principalmente da mediana de óbitos.
Na SE 10 de 2022, metade das internações ocorreu entre pessoas entre 70 anos (leitos clínicos) e 72 anos (leitos de UTI). Sobre os óbitos, metade dos eventos ocorreu em pessoas com no mínimo 78 anos. Os pesquisadores destacam que esta evidência reforça a ideia de que a população, principalmente a mais longeva, tem maior vulnerabilidade às formas graves e fatais da Covid-19.
Fim da pandemia
Os pesquisadores reforçam que o ponto de mudança da Covid-19, de pandemia para endemia, envolverá um conjunto de indicadores, sendo um deles o de letalidade. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) é destacada como a principal referência para esta definição.
“Quando a ocorrência de formas graves que requerem internação for suficientemente pequena para gerar poucos óbitos, e não criar pressão sobre o sistema de saúde, será possível saber que se trata de uma doença para a qual se poderá assumir ações de médio e longo prazo sem precisar contar com estratégias de resposta imediata”, explicam os cientistas.
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