Publicado 25/03/2022 19:32
A "fritura" do ministro da Educação, Milton Ribeiro, cresceu nas últimas horas nos bastidores do Palácio do Planalto. Integrantes do Centrão, da bancada evangélica e da coordenação da campanha de Jair Bolsonaro (PL) elevaram o tom e pedem a cabeça de Ribeiro o quanto antes, para blindar não apenas o presidente, mas o próprio segmento religioso, incomodado com as denúncias de corrupção na pasta, reveladas pelo Estadão.
O nome mais cotado para assumir o ministério é o do atual presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Marcelo Lopes, uma indicação pessoal do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Lopes foi chefe de gabinete de Ciro no Senado.
Como mostrou o Estadão em uma série de reportagens, o Ministério da Educação (MEC) abriga um gabinete paralelo, com dois pastores que controlam a agenda de Ribeiro e indicam prefeituras para a liberação de verbas. Dez prefeitos já denunciaram que pastores atuaram na intermediação de recursos ou para facilitar o acesso direto a Ribeiro. Três deles admitiram que ouviram pedido de propina em troca da liberação de verbas para escolas.
Ribeiro é pastor presbiteriano e bastante próximo de Bolsonaro e da primeira-dama, Michelle. Foi indicado para o cargo pelo novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, antes mesmo de ele ocupar a vaga na Corte. Mendonça é pastor e "terrivelmente evangélico", como costuma dizer o presidente.
Embora Bolsonaro tenha dito que bota "a cara toda no fogo" por Ribeiro, aliados do presidente afirmam que a situação se tornou insustentável com a avalanche de notícias negativas, porque ele perde o discurso de que não há corrupção no governo às vésperas de colocar a campanha na rua.
No diagnóstico do comitê da campanha, Bolsonaro não pode ter a imagem comprometida com mais uma crise no momento em que começa a ganhar fôlego nas pesquisas de intenção de voto, diminuindo a diferença para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu maior adversário. De acordo com informações do blog da jornalista Andréia Sadi, confirmadas pelo Estadão, a bancada evangélica vai pedir apoio de André Mendonça para convencer Bolsonaro e o ministro de que ele deve deixar o cargo.
A posição de Bolsonaro ainda é a de manter Ribeiro em banho-maria para aguardar novos desdobramentos do caso, como a investigação do ministro autorizada na quarta-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mas não se sabe até quando o presidente aguentará a pressão e o fogo amigo. Na avaliação de líderes do Centrão ouvidos pela reportagem, o fato de as denúncias só crescerem, a crise ganhou novo patamar.
Integrantes de diferentes denominações religiosas argumentam, nos bastidores, que Bolsonaro precisa dar uma resposta "à altura", porque o escândalo também pode manchar a imagem dos próprios evangélicos que apoiam um segundo mandato para o presidente. "O ministro tem que sair e responder às denúncias fora do cargo. Acredito na honestidade dele, mas vai ter que provar", disse ao Estadão/Broadcast um líder religioso, com trânsito livre no Planalto, sob a condição de anonimato.
O presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), afirmou que as explicações dadas por Ribeiro até agora não foram suficientes. "Nós não seremos complacentes caso fique comprovado, depois do devido processo legal, com atos ilegais de quem quer que seja", destacou o deputado na quarta-feira, 23.
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, disse que Ribeiro é uma das pessoas" mais honradas" que já conheceu. Mesmo assim, ao participar de transmissão ao vivo pelas redes sociais ao lado de Bolsonaro, na quinta-feira, 24, afirmou que em sua pasta as emendas parlamentares saem "sem propina" e sem pedágio.
Até mesmo militares do governo acham que Ribeiro precisa tomar a iniciativa de pedir demissão. Uma das ideias avaliadas por integrantes do governo é a saída do ministro na reforma ministerial, que deve ocorrer na próxima semana. Neste caso, ele deixaria o MEC com o discurso de que vai concorrer a uma cadeira de deputado federal. Antes, porém, precisa se filiar a algum partido.
Pela lei eleitoral, integrantes de cargos públicos que querem ser candidatos devem abdicar de suas funções até 2 de abril. A saída de Ribeiro ao lado de outros ministros seria uma maneira de o Planalto responder à pressão pela dispensa, após o escândalo, sem que ele ficasse exposto ao constrangimento de perder o cargo no auge da crise, como mostrou o Estadão.
Para dirigentes do Centrão - grupo formado por Progressistas, PL e Republicanos -, militares e dirigentes da campanha da reeleição, no entanto, não é mais possível esperar porque a crise ficou incontrolável. Há uma percepção de que o escândalo agora atinge o presidente, com investigações abertas em várias frentes e mais cobranças do Supremo Tribunal Federal (STF). Procurado, o ministro Ciro Nogueira não quis se manifestar.
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