Prédio do Ministério da EducaçãoMarcelo Camargo/Agência Brasil
Publicado 01/04/2022 18:59
A Procuradoria da República no Pará (PR-PA) abriu um inquérito preliminar na divisão de combate à corrupção para apurar a distribuição de bíblias, com fotografias do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, e dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, em evento organizado pelo MEC em Salinópolis (PA). A instituição do Ministério Público Federal (MPF) investiga se o ato, que teve participação do então ministro e de lideranças evangélicas, pode ser enquadrado no crime de improbidade administrativa.
Como revelou o Estadão, o prefeito de Salinópolis, Carlos Alberto de Sena Filho, o Kaká Sena, do PL, bancou a tiragem de mil cópias da bíblia a um custo de R$ 70, segundo fontes que participaram do evento relataram ao jornal. O rosto do chefe do Executivo local também estampou a capa e contracapa dos livros sagrados, que foram distribuídos como cortesia num encontro entre prefeitos e secretários municipais do Pará e o então ministro da Educação, Milton Ribeiro.
Segundo apurou o Estadão com membros do MPF no Pará, o inquérito deverá focar no fato de a prefeitura ter custeado as bíblias. A investigação ficará sob responsabilidade do procurador Patrick Menezes Colares, que contará com o apoio dos grupos temáticos de combate à corrupção e atos administrativos. A decisão de apurar o caso foi tomada na tarde de ontem, 31. O crime de improbidade administrativa prevê perda de mandato e dos direitos políticos por até 14 anos, assim como o pagamento de multa civil de até 24 vezes o valor utilizado no delito.
A reunião em Salinópolis também foi marcada por pedidos de propina em barra de ouro e dinheiro em troca de acesso ao ministro e liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). As cobranças de vantagens indevidas em troca de acesso direto ao gabinete de Milton Ribeiro eram operados pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, como revelou a série de reportagens do Estadão sobre o gabinete paralelo instalado no MEC.
Prefeitos disseram ao jornal O Globo que, durante o evento em Salinópolis, receberam pedidos de propina de pastores do gabinete paralelo do MEC, na forma da compra de livros e dinheiro para igrejas, em troca de liberação de verbas destinadas à construção de escolas e creches. As declarações foram confirmadas pelo Estadão, que publicou o relato do pedido de pagamento de até 1 kg de ouro para garantir os repasses dos recursos.
Após o Estadão revelar a distribuição de bíblias no evento de Salinópolis, Milton Ribeiro pediu demissão do cargo de ministro da Educação. O pedido foi aceito pelo na semana passada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que afirmou em transmissão ao vivo que colocaria "a cara no fogo" pelo então ministro. A informação de que os textos sagrados estariam sendo distribuídos com imagens de pastores e políticos provocou reação dos evangélicos que não aceitaram o uso do livro religioso como forma de promoção individual de autoridades.
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