Publicado 06/04/2022 19:11
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a legalização do aborto nesta terça-feira, 5, durante debate promovido pela Fundação Perseu Abramo e a pela entidade alemã Fundação Friedrich Ebert, em São Paulo. Para o petista, o aborto deveria ser uma "questão de saúde pública", já que escancara as desigualdades sociais da sociedade brasileira.
Sem citar diretamente o presidente Jair Bolsonaro, Lula classificou a pauta da família e dos valores pregados pelo governo atual como "muito atrasadas".
Bolsonaristas e evangélicos reagiram às declarações. Ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos-DF) disse que a "pauta do ex-presidente sempre foi a cultura da morte". "Observem que ele hoje está defendendo o aborto, e amanhã ele com certeza defenderá a eutanásia e depois a eugenia", disse em sua rede social. Os deputados federais Marco Feliciano (PL-SP) e Guiga Peixoto (PSC-SP) e o deputado estadual Bruno Engler (MG-PRTB) também criticaram o petista.
"Acredito que pela primeira vez vi o Lula de quem sempre falei! Lula para maiores! Apoiando o aborto e convocando os seus para intimidarem parlamentares contrários ao seu comunismo! O ex-rei ficou nu!", escreveu Feliciano nas redes.
Desigualdade
Lula disse que a proibição do aborto afeta principalmente as mulheres pobres, o que enfatiza a questão de desigualdade social no País. "A mulher pobre fica cutucando o seu útero com uma agulha de crochê, tomando chá de qualquer coisa. Enquanto isso, a madame pode fazer um aborto em Paris, ela pode ir para Berlim, encontrar uma boa clínica e fazer um aborto. Aqui no Brasil, ela não faz porque é proibido", disse.
O petista defendeu a mudança da legislação sobre o assunto. "Na verdade, [o aborto] deveria ser transformado em uma questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha. O que não dá é que a lei exija que ela tenha o filho e essa lei não exige cuidar", disse. Atualmente, o aborto é permitido no Brasil apenas em caso de risco à vida da mãe e de estupro.
O pré-candidato do PT classificou o debate atual, promovido pelo governo, sobre família e valores como algo "muito atrasado" e utilizado por um "homem que não tem moral para fazer isso". "O comportamento dele com as mulheres não lhe dá o direito desses valores. Ele não respeita. Ele acha que mulher é um objeto. É esse cidadão que tenta pregar valores para um grupo de brasileiros que acredita", disse.
Antes mesmo de assumir o cargo no Executivo, Bolsonaro levantava a bandeira da proibição do aborto no País, com forte teor religioso. Durante o mandato, o tema foi intensificado em seus discursos e defendido no pacote de pautas de costume do presidente, como uma forma de fidelizar o apoio dos seus apoiadores evangélicos, uma de suas principais bases eleitorais
Histórico
O tema do aborto é recorrente nos discursos de Lula. Em recente entrevista à rádio "Super", de Minas, o petista defendeu que determinados temas polêmicos não devem ser discutidos com um viés de radicalização religiosa, principalmente aqueles que dependem de uma "evolução da sociedade".
"Eu, Lula, pai de família, pai de 5 filhos, se perguntarem, eu falo que eu sou contra o aborto e sempre fui contra. Agora, eu, chefe de Estado tenho que tratar o aborto como uma questão de saúde pública. Então, o que eu penso pessoalmente é meu. É o meu pensamento", disse no dia 24 de março. "Agora, como é que eu vou tratar isso como chefe de Estado, aí eu tenho que tratar sempre, ou seja, todas as mulheres em igualdade de condições porque tem muita gente que é contra o aborto e corre para Paris, corre para Nova York para fazer um aborto escondido, então isso as famílias pobres morrem na rua."
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