Ex-ministro da Educação, Milton RibeiroFabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Publicado 27/04/2022 09:34
A Polícia Federal abriu um procedimento preliminar para apurar as circunstâncias do disparo acidental feito pelo ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, no aeroporto de Brasília, na segunda-feira. Duas pessoas prestaram depoimento sobre o ocorrido, nesta terça, entre elas, a funcionária terceirizada da Gol que foi atingida por estilhaços. Segundo a companhia aérea, ela não se feriu gravemente e passa bem.
Agora, a PF irá analisar se Ribeiro deve ou não responder a um inquérito. A acusação mais grave contra o ex-ministro seria lesão corporal culposa, com pena de dois meses a um ano.
A arma de fogo de Milton Ribeiro disparou acidentalmente no aeroporto de Brasília, no balcão da Latam, deixando uma funcionária da Gol ferida por estilhaços. Ribeiro foi conduzido à sede da Polícia Federal para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido.
No depoimento, o ex-ministro alegou que decidiu abrir a pasta onde estava a arma para separá-la do carregador e que neste momento, ocorreu o disparo. A arma, segundo ele, foi manuseada dentro da pasta. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) prevê a retirada da munição antes do embarque em um local específico, dentro do aeroporto de Brasília.
Ainda de acordo com Ribeiro, não havia outros passageiros no balcão além de uma funcionária da Latam, que não ficou ferida. O ex-ministro também alegou que logo após o disparo perguntou se havia feridos por estilhaços, mas "não apareceu qualquer vítima", disse.
Histórico
Milton Ribeiro saiu da pasta da Educação após um escândalo envolvendo um grupo de pastores que passou a comandar a agenda do então ministro formando uma espécie de "gabinete paralelo" que interferia na liberação de recursos e influencia diretamente as ações do ministério. Em conversa gravada, Ribeiro admitiu que prioriza o atendimento a prefeitos que chegam ao MEC por meio dos pastores Gilmar dos Santos e Arilton Moura.
No Congresso, diversas críticas surgiram aos privilégios dados com base em indicações de líderes religiosos, em detrimento de outros municípios. "Se esse governo fosse sério, com a matéria que tem hoje, com a gravação, ele não seria mais ministro", disse o senador Omar Aziz (PSD-AM), também no plenário. "Há um discurso de honestidade, um discurso hipócrita, quando na realidade os porões de dentro do governo estão podres."
Esquema
Os pastores levavam prefeitos para reuniões com o ministro e, dias depois, os pleitos eram contemplados. Ao menos R$ 9,7 milhões foram pagos ou empenhados após agendas solicitadas pelos religiosos da igreja Cristo para Todos, um ramo da Assembleia de Deus, com sede em Goiânia. Somente em termos de compromisso foram firmados R$ 160 milhões em dezembro por interferência direta dos pastores. Para advogados, a atuação dos pastores pode configurar crime de tráfico de influência e de usurpação de função pública.
Os pastores também já tiveram acesso ao Palácio do Planalto, sendo recebidos pelo menos duas vezes pelo presidente Jair Bolsonaro. As portas do governo foram abertas aos dois religiosos pelo deputado João Campos (Republicanos-GO), que é pastor da Assembleia de Deus Ministério Vila Nova, ligado à convenção de Madureira.
A cara no fogo
Dias após a divulgação do escândalo, Bolsonaro afirmou que colocava "a cara toda no fogo" pelo ministro da Educação. "O Milton, coisa rara de eu falar aqui: eu boto minha cara no fogo pelo Milton", afirmou Bolsonaro, em transmissão ao vivo pelas redes sociais. O presidente ainda repetiu: "Minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia contra ele " Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, são muito próximos a Ribeiro.
Dias depois da declaração, Milton encaminhou uma carta de demissão ao governo.

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