Publicado 15/06/2022 11:21
Amazonas — A juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal Cível da Justiça Federal no Amazonas, determinou que a Fundação Nacional do Índio (Funai) não desacredite a trajetória do indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, desaparecidos na região do Vale do Javari, na Amazônia, há dez dias.
A magistrada ainda determinou que o órgão se abstenha de praticar qualquer ato que "possa ser considerado atentatório à dignidade dos desaparecidos" ou que implique em "injusta perseguição" à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) ou aos servidores da Funai lotados na Coordenação Regional do órgão.
O despacho atende a um pedido da Defensoria Pública da União, que questionou uma nota em que a Funai contestou a autorização do indigenista Bruno Pereira para entrar na Terra Indígena Vale do Javari. No mesmo texto, o órgão afirmou que acionaria o Ministério Público Federal para "apurar a responsabilidade" da Univaja "quanto à possível aproximação com indígenas de recente contato sem o conhecimento da instituição e, aparentemente, sem a adoção das medidas sanitárias cabíveis, entre elas, a realização de PCR e de quarentena de 14 dias".
Na avaliação de Jaiza, a nota da Funai tem "cunho agressivo" à Univaja e seu teor "desafia todos os princípios e normas do ordenamento jurídico constitucional, infraconstitucional e supralegal sobre o tema". A juíza federal acolheu as alegações da DPU, ponderando que o posicionamento da Funai, "no bojo de uma tragédia revelada pelo desaparecimento de duas pessoas defensoras dos direitos indígenas, é violadora de direitos humanos, é inoportuna, é indevida e seu conteúdo não é compatível com a realidade dos fatos e com as normas em vigor".
"A situação, portanto, é gravíssima na cidade de Atalaia do Norte e municípios vizinhos com território limítrofes à TI Vale do Javari. O quadro é de pânico diante dos acontecimentos dos últimos anos, narrados exaustivamente nos autos. A Nota, oriunda da fundação cuja existência somente se legitima se for para consolidar proteção aos povos originários, é antagônica do seu dever imposto pela lei", ponderou.
A magistrada ainda rebateu trecho específico da nota, no qual a Funai diz que acionaria o MPF contra a Univaja. Para Jaiza, numa "inversão de lógica", o órgão pretende atribuir à entidade o "desaparecimento de duas pessoas (e a elas próprias) porque não fizeram teste de PCR e quarentena de 14 dias".
"Firmo convicção de que não há que se falar em acusar e desacreditar a instituição que está trabalhando de forma legítima pelos direitos de seu próprio povo — povos indígenas — que é a UNIVAJA. O foco do problema narrado nos autos (pedido e causa de pedir) é o quadro de abandono e omissão que está vitimando povos indígenas, seguido do desaparecimento de duas pessoas que estavam legalmente na região a convite de quem possui legitimidade pela lei, pela Constituição e pelos Tratados Internacionais dos quais o Brasil é signatário", ressaltou a magistrada em seu despacho.
De acordo com a decisão dada na noite de terça-feira, 14, a Funai ainda terá de retirar imediatamente de seus veículos oficiais de mídia a nota de esclarecimento questionada no processo, pelo fato de o texto "conter afirmações incompatíveis com a realidade dos fatos e com os direitos dos povos indígenas".
Jaiza ainda determinou que o órgão adote medidas tendentes a providenciar o envio imediato de forças de segurança pública específicas para a garantir a integridade física dos seus servidores e dos povos indígenas em todas as Bases de Proteção do Vale do Javari — Quixito, Curuçá e Jandiatuba, bem como as sedes das CRs do Vale do Javari e Coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari.
A decisão de Jaiza foi dada na noite de terça-feira, 14, horas após a Polícia Federal (PF) informar ter prendido mais um suspeito de participação no desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Philips: o pescador Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos, que vive perto do local onde a mochila do repórter foi encontrada.
Ele é irmão do também pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, o primeiro preso pela PF na investigação. Testemunhas relataram aos policiais federais que os dois saíram de barco em alta velocidade atrás de Bruno e Dom no dia do desaparecimento.
A magistrada ainda determinou que o órgão se abstenha de praticar qualquer ato que "possa ser considerado atentatório à dignidade dos desaparecidos" ou que implique em "injusta perseguição" à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) ou aos servidores da Funai lotados na Coordenação Regional do órgão.
O despacho atende a um pedido da Defensoria Pública da União, que questionou uma nota em que a Funai contestou a autorização do indigenista Bruno Pereira para entrar na Terra Indígena Vale do Javari. No mesmo texto, o órgão afirmou que acionaria o Ministério Público Federal para "apurar a responsabilidade" da Univaja "quanto à possível aproximação com indígenas de recente contato sem o conhecimento da instituição e, aparentemente, sem a adoção das medidas sanitárias cabíveis, entre elas, a realização de PCR e de quarentena de 14 dias".
Na avaliação de Jaiza, a nota da Funai tem "cunho agressivo" à Univaja e seu teor "desafia todos os princípios e normas do ordenamento jurídico constitucional, infraconstitucional e supralegal sobre o tema". A juíza federal acolheu as alegações da DPU, ponderando que o posicionamento da Funai, "no bojo de uma tragédia revelada pelo desaparecimento de duas pessoas defensoras dos direitos indígenas, é violadora de direitos humanos, é inoportuna, é indevida e seu conteúdo não é compatível com a realidade dos fatos e com as normas em vigor".
"A situação, portanto, é gravíssima na cidade de Atalaia do Norte e municípios vizinhos com território limítrofes à TI Vale do Javari. O quadro é de pânico diante dos acontecimentos dos últimos anos, narrados exaustivamente nos autos. A Nota, oriunda da fundação cuja existência somente se legitima se for para consolidar proteção aos povos originários, é antagônica do seu dever imposto pela lei", ponderou.
A magistrada ainda rebateu trecho específico da nota, no qual a Funai diz que acionaria o MPF contra a Univaja. Para Jaiza, numa "inversão de lógica", o órgão pretende atribuir à entidade o "desaparecimento de duas pessoas (e a elas próprias) porque não fizeram teste de PCR e quarentena de 14 dias".
"Firmo convicção de que não há que se falar em acusar e desacreditar a instituição que está trabalhando de forma legítima pelos direitos de seu próprio povo — povos indígenas — que é a UNIVAJA. O foco do problema narrado nos autos (pedido e causa de pedir) é o quadro de abandono e omissão que está vitimando povos indígenas, seguido do desaparecimento de duas pessoas que estavam legalmente na região a convite de quem possui legitimidade pela lei, pela Constituição e pelos Tratados Internacionais dos quais o Brasil é signatário", ressaltou a magistrada em seu despacho.
De acordo com a decisão dada na noite de terça-feira, 14, a Funai ainda terá de retirar imediatamente de seus veículos oficiais de mídia a nota de esclarecimento questionada no processo, pelo fato de o texto "conter afirmações incompatíveis com a realidade dos fatos e com os direitos dos povos indígenas".
Jaiza ainda determinou que o órgão adote medidas tendentes a providenciar o envio imediato de forças de segurança pública específicas para a garantir a integridade física dos seus servidores e dos povos indígenas em todas as Bases de Proteção do Vale do Javari — Quixito, Curuçá e Jandiatuba, bem como as sedes das CRs do Vale do Javari e Coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari.
A decisão de Jaiza foi dada na noite de terça-feira, 14, horas após a Polícia Federal (PF) informar ter prendido mais um suspeito de participação no desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Philips: o pescador Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos, que vive perto do local onde a mochila do repórter foi encontrada.
Ele é irmão do também pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, o primeiro preso pela PF na investigação. Testemunhas relataram aos policiais federais que os dois saíram de barco em alta velocidade atrás de Bruno e Dom no dia do desaparecimento.
Informações sobre corpos
O embaixador do Brasil no Reino Unido, Fred Arruda, pediu desculpas à família de Dom Phillips na terça-feira (14), depois de a embaixada informar que o corpo do jornalista havia sido encontrado junto com o do indigenista Bruno Pereira, no extremo oeste do Amazonas. Ambos seguem desaparecidos há mais de uma semana. A retratação foi noticiada pelo jornal britânico 'The Guardian'.
A informação incorreta havia sido dada pela embaixada à irmã e ao cunhado de Dom na segunda-feira, 13. Depois, foi negada pela Polícia Federal, em nota oficial, na qual também afirmou que as equipes de ciência forense ainda estão periciando a área em que desapareceram os dois.
Arruda escreveu à família de Phillips ontem mais cedo, afirmando que lamenta "que a embaixada tenha passado à família ontem informações que não se mostraram corretas".
A informação incorreta havia sido dada pela embaixada à irmã e ao cunhado de Dom na segunda-feira, 13. Depois, foi negada pela Polícia Federal, em nota oficial, na qual também afirmou que as equipes de ciência forense ainda estão periciando a área em que desapareceram os dois.
Arruda escreveu à família de Phillips ontem mais cedo, afirmando que lamenta "que a embaixada tenha passado à família ontem informações que não se mostraram corretas".
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