Publicado 24/08/2022 13:58 | Atualizado 24/08/2022 16:16
São Félix do Xingu - Uma estrada de terra ilegal entre áreas protegidas da Amazônia brasileira está agora a poucos quilômetros de conectar duas das piores áreas de desmatamento na região, segundo imagens de satélite e avaliações de pessoas ligadas ao assunto. Caso o trajeto seja concluído, isso transformará uma grande área de floresta remanescente em uma ilha, sob pressão da atividade humana dos dois lados.
Ambientalistas têm advertido sobre esse tipo de desenvolvimento na floresta há décadas. As rodovias são significativas, pois a maior parte da devastação ocorre ao longo delas, onde há acesso mais fácil e o valor da terra é mais alto.
Do lado leste da nova rodovia está uma área muito desmatada, na qual o maior rebanho do Brasil, de 2,4 milhões de cabeças, agora pasta. É a cidade de São Félix do Xingu, do Pará, a segunda maior emissora de gases estufa do país, graças ao desmatamento, segundo o Observatório do Clima, uma rede de grupos ambientais.
A oeste está uma área na qual três anos atrás fazendeiros coordenaram a queimada de várias porções de floresta virgem, em um episódio famosamente conhecido como Dia do Fogo. Essa municipalidade é a oitava maior emissora de gases estufa do Brasil. No meio disso está a bacia do Xingu. O rio Xingu é um dos principais afluentes do Amazonas. Ele começa no bioma do Cerrado, cercado por dezenas de milhares de hectares quadrados de áreas protegidas.
O rio Xingu é onde vivem vários povos indígenas, pressionados agora dos dois lados por colonos que têm construído uma grande rede de estradas de terra e pistas de pouso ilegais. Especialistas dizem que muito está em jogo nesse contexto.
Na avaliação de ambientalistas, as oportunidades para novo desmatamento no centro do corredor de áreas protegidas do Xingu gera o risco de uma ruptura irreversível da floresta Amazônica.
Quase toda a poluição climática do Brasil vem do desmatamento, segundo o Observatório Climático. A destruição é tão disseminada agora que o leste da Amazonas, a leste da bacia do Xingu, deixou de ser um absorvedor de carbono e se tornou uma fonte de emissões, segundo estudo publicado em 2021 na Nature.
A nova via foi detectada mais cedo neste ano. Segundo imagens de satélite analisadas por uma rede de organizações sem fins lucrativo chamada Xingu+, ela tem 43 quilômetros de extensão. A estrada de terra passa por duas áreas ostensivamente protegidas, a Terra do Meio, uma unidade federal, e a floresta estatal Iriri, gerenciada pelo Pará. A agência federal brasileira, ICMBio, e a secretaria do Meio Ambiente do Pará não responderam aos e-mails da reportagem pedindo comentários sobre a via ilegal Essas agências são responsáveis por proteger as áreas que circundam a estrada de terra.
Sob o presidente Jair Bolsonaro, a área desmatada na Amazônia brasileira atingiu máxima em 15 anos, segundo dados oficiais.
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