Publicado 25/08/2022 11:07
Começa nesta quinta-feira, 25, no Instituto Luiz Braille do Espírito Santo, em Vitória (ES), o curso de fotografia para pessoas cegas. Maior nome da fotografia feita por pessoas com deficiência visual no Brasil e duas vezes fotógrafo oficial dos Jogos Paralímpicos, João Maia considera válido o projeto que formará, de uma só vez, 12 fotógrafos.
A maioria das 12 pessoas cegas que participarão da experiência é formada por alunos de canto e teatro do projeto Cena Diversa, do coletivo Companhia Poéticas da Cena Contemporânea, que trabalha com cinema, teatro, fotografia e vídeo. O projeto foi idealizado e proposto por Rejane Arruda, presidente da Associação Sociedade Cultura e Arte (SOCA Brasil) e diretora do coletivo e da Escola de Fotógrafos Cegos (EFC). O projeto tem patrocínio da ES Gás, por meio da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba.
O curso terá duração de oito meses e incluirá oito módulos do ensino da fotografia, com oficinas, aulas, debates e imersão dos participantes na captação de imagens. “O nosso objetivo é a transmissão do olhar e da poética de uma fotografia contemporânea para eles. A gente aposta nessa transmissão de uma poética visual para essas pessoas que nunca enxergaram imagens”, disse Rejane. As aulas serão às quintas e sextas-feiras, com o acompanhamento de uma equipe composta por quatro fotógrafos.
Serão feitas muitas descrições, procedimentos práticos, nos quais elementos como o toque, a vivência no espaço, metáforas, serão usados para transmitir essa poética aos alunos, “até o ponto de, ao fim dos oito meses, eles se tornarem autônomos e conseguirem construir os próprios dispositivos para a experiência fotográfica”, esclareceu Rejane.
Inclusão
A SOCA Brasil trabalha com inclusão desde 2019. Rejane comentou que as 12 pessoas selecionadas nunca haviam pensado antes em fazer fotografia e, muito menos, em se transformar em fotógrafos. “A ideia é formar 12 fotógrafos cegos. É que eles percebam o que opera uma poética da imagem, por meio da escrita fotográfica, e os próprios dispositivos para que, ao fim do curso, tenham autonomia. Aos poucos, vão percebendo que cada um pode ter um estilo, como autor de uma obra, disse a presidente da SOCA Brasil.
“A meta é a imagem como obra. Não uma fotografia instrumental, mas fotografia arte. A gente aposta que eles são bons contribuintes, bons artistas, exatamente por não enxergarem. Essa é a hipótese do projeto. Porque não enxergam, eles fotografam melhor do que a gente. Eles têm uma imprevisibilidade no olhar. Isso gera bons produtos, boas estéticas”, concluiu.
Os 12 alunos receberão, durante o curso, bolsa no valor de R$ 360 por mês, concedida pela ES Gás. Os futuros fotógrafos farão uma itinerância por espaços urbanos onde moram, que frequentam, onde circulam, para trabalhar com a cidade. “A cidade vai ser clicada no cotidiano dos alunos”, informou Rejane Arruda.
A curadora Bárbara Bragato selecionará 32 fotografias de toda a produção feita ao longo do curso, para estampar estruturas cúbicas que serão espalhadas pelo Parque do Moscoso, em Vitória. Com o título Quando fecho os olhos vejo mais perto, a exposição ficará aberta ao público durante um ano, a partir de junho de 2023.
Referência na fotografia
A maioria das 12 pessoas cegas que participarão da experiência é formada por alunos de canto e teatro do projeto Cena Diversa, do coletivo Companhia Poéticas da Cena Contemporânea, que trabalha com cinema, teatro, fotografia e vídeo. O projeto foi idealizado e proposto por Rejane Arruda, presidente da Associação Sociedade Cultura e Arte (SOCA Brasil) e diretora do coletivo e da Escola de Fotógrafos Cegos (EFC). O projeto tem patrocínio da ES Gás, por meio da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba.
O curso terá duração de oito meses e incluirá oito módulos do ensino da fotografia, com oficinas, aulas, debates e imersão dos participantes na captação de imagens. “O nosso objetivo é a transmissão do olhar e da poética de uma fotografia contemporânea para eles. A gente aposta nessa transmissão de uma poética visual para essas pessoas que nunca enxergaram imagens”, disse Rejane. As aulas serão às quintas e sextas-feiras, com o acompanhamento de uma equipe composta por quatro fotógrafos.
Serão feitas muitas descrições, procedimentos práticos, nos quais elementos como o toque, a vivência no espaço, metáforas, serão usados para transmitir essa poética aos alunos, “até o ponto de, ao fim dos oito meses, eles se tornarem autônomos e conseguirem construir os próprios dispositivos para a experiência fotográfica”, esclareceu Rejane.
Inclusão
A SOCA Brasil trabalha com inclusão desde 2019. Rejane comentou que as 12 pessoas selecionadas nunca haviam pensado antes em fazer fotografia e, muito menos, em se transformar em fotógrafos. “A ideia é formar 12 fotógrafos cegos. É que eles percebam o que opera uma poética da imagem, por meio da escrita fotográfica, e os próprios dispositivos para que, ao fim do curso, tenham autonomia. Aos poucos, vão percebendo que cada um pode ter um estilo, como autor de uma obra, disse a presidente da SOCA Brasil.
“A meta é a imagem como obra. Não uma fotografia instrumental, mas fotografia arte. A gente aposta que eles são bons contribuintes, bons artistas, exatamente por não enxergarem. Essa é a hipótese do projeto. Porque não enxergam, eles fotografam melhor do que a gente. Eles têm uma imprevisibilidade no olhar. Isso gera bons produtos, boas estéticas”, concluiu.
Os 12 alunos receberão, durante o curso, bolsa no valor de R$ 360 por mês, concedida pela ES Gás. Os futuros fotógrafos farão uma itinerância por espaços urbanos onde moram, que frequentam, onde circulam, para trabalhar com a cidade. “A cidade vai ser clicada no cotidiano dos alunos”, informou Rejane Arruda.
A curadora Bárbara Bragato selecionará 32 fotografias de toda a produção feita ao longo do curso, para estampar estruturas cúbicas que serão espalhadas pelo Parque do Moscoso, em Vitória. Com o título Quando fecho os olhos vejo mais perto, a exposição ficará aberta ao público durante um ano, a partir de junho de 2023.
Referência na fotografia
Referência nacional na fotografia para deficientes visuais, João Maia participará de um bate-papo com os futuros fotógrafos, em data a ser agendada. Em entrevista à Agência Brasil, Maia reiterou a validade da Escola de Fotógrafos Cegos, “porque o conhecimento tem que ser compartilhado''. Se você tiver uma metodologia que agregue conhecimento, é muito importante para as pessoas com deficiência”.
Atualmente, João Maia dá oficinas de fotografia para pessoas com e sem deficiência, inclusive no exterior. “Temos que democratizar a fotografia”. Ele lembrou que, hoje, os ‘smartphones’ têm acessibilidade e as câmeras dos celulares são muito mais acessíveis do que as profissionais. “Então, mexemos aí com muita autonomia”. Isso não significa, entretanto, que uma pessoa com deficiência visual não consiga operar um equipamento profissional.
Considerou que ações como a da Escola de Fotógrafos Cegos da SOCA Brasil são “importantíssimas”. João Maia está concluindo, no momento, pós-graduação em fotografia. "Acho que em qualquer espaço posso estar”. Para ele, cabe ao professor quebrar paradigmas e se adaptar às necessidades de qualquer aluno com deficiência visual. “São sempre válidas as ações que trazem conhecimento para pessoas com deficiência”.
Ele também destacou que, no decorrer da experiência, se alguém quiser investir mais em sua capacitação, fazendo um curso técnico, bacharelado ou pós-graduação, esse aluno com deficiência deve ficar à vontade, porque não existem barreiras.
“Barreiras eu encontro todo dia no meu caminho, mas se eu for me preocupar com essa barreira, não vou crescer profissionalmente. Hoje, não paro de estudar porque o conhecimento é que vai me diferenciar de qualquer outra pessoa, com ou sem deficiência”, concluiu.
Fotografando com os sentidos
Atualmente, João Maia dá oficinas de fotografia para pessoas com e sem deficiência, inclusive no exterior. “Temos que democratizar a fotografia”. Ele lembrou que, hoje, os ‘smartphones’ têm acessibilidade e as câmeras dos celulares são muito mais acessíveis do que as profissionais. “Então, mexemos aí com muita autonomia”. Isso não significa, entretanto, que uma pessoa com deficiência visual não consiga operar um equipamento profissional.
Considerou que ações como a da Escola de Fotógrafos Cegos da SOCA Brasil são “importantíssimas”. João Maia está concluindo, no momento, pós-graduação em fotografia. "Acho que em qualquer espaço posso estar”. Para ele, cabe ao professor quebrar paradigmas e se adaptar às necessidades de qualquer aluno com deficiência visual. “São sempre válidas as ações que trazem conhecimento para pessoas com deficiência”.
Ele também destacou que, no decorrer da experiência, se alguém quiser investir mais em sua capacitação, fazendo um curso técnico, bacharelado ou pós-graduação, esse aluno com deficiência deve ficar à vontade, porque não existem barreiras.
“Barreiras eu encontro todo dia no meu caminho, mas se eu for me preocupar com essa barreira, não vou crescer profissionalmente. Hoje, não paro de estudar porque o conhecimento é que vai me diferenciar de qualquer outra pessoa, com ou sem deficiência”, concluiu.
Fotografando com os sentidos
João Maia enxerga cores pelo olho esquerdo. Até 15 centímetros, ele consegue perceber o que tem à frente, embora sem formato. Quanto mais se distancia, porém, mais perde a definição do que está ali.Quando viaja para cobrir uma Paralimpíada, como ocorreu na edição de 2020 no Japão, realizada em 2021, Maia leva sempre um assistente para guiá-lo, descrever o ambiente. Mas toda a concepção da imagem e do que ele quer transmitir em termos de emoção é de responsabilidade exclusiva sua. “Eu sou responsável por isso”.
A emoção e o som, a comunicação entre os atletas, as equipes, são transformados por Maia em imagens, como ocorreu na final do futebol de 5 nas Paralimpíadas de Tóquio, entre Brasil e Argentina.
“Minha fotografia é muito sonora e eu tento traduzir toda essa emoção em minhas imagens. Eu fico feliz quando a gente tem ações que possibilitam à pessoa com deficiência sair de sua zona de conforto. Nada impede que uma pessoa com deficiência visual fotografe para seu lazer ou possa, inclusive, ser um fotógrafo profissional. Fiquei muito feliz de saber que o meu trabalho é referência no país e fora dele. Hoje, sou um fotógrafo especializado em esporte paralímpico. Esse é o meu diferencial”.
Na avaliação de João Maia, a fotografia nada mais é do que emoção. “É memória, é algo que te traz sentimentos. É usar os outros sentidos que estão tão aguçados, como audição, tato, olfato, paladar. A fotografia é isso”, afirmou.
João Maia é considerado referência na lista de fotógrafos cegos, onde estão também, entre outros nomes, o esloveno naturalizado francês Evgen Bavcar, professor de Estética na Universidade de Sorbonne e que já expôs em vários museus pelo mundo; e o americano Pete Eckert, que fez trabalhos para a Volkswagen e a Playboy, além do autoral que o fez reconhecido internacionalmente com as suas light paintings (fisiogramas ou pinturas de luz).
A emoção e o som, a comunicação entre os atletas, as equipes, são transformados por Maia em imagens, como ocorreu na final do futebol de 5 nas Paralimpíadas de Tóquio, entre Brasil e Argentina.
“Minha fotografia é muito sonora e eu tento traduzir toda essa emoção em minhas imagens. Eu fico feliz quando a gente tem ações que possibilitam à pessoa com deficiência sair de sua zona de conforto. Nada impede que uma pessoa com deficiência visual fotografe para seu lazer ou possa, inclusive, ser um fotógrafo profissional. Fiquei muito feliz de saber que o meu trabalho é referência no país e fora dele. Hoje, sou um fotógrafo especializado em esporte paralímpico. Esse é o meu diferencial”.
Na avaliação de João Maia, a fotografia nada mais é do que emoção. “É memória, é algo que te traz sentimentos. É usar os outros sentidos que estão tão aguçados, como audição, tato, olfato, paladar. A fotografia é isso”, afirmou.
João Maia é considerado referência na lista de fotógrafos cegos, onde estão também, entre outros nomes, o esloveno naturalizado francês Evgen Bavcar, professor de Estética na Universidade de Sorbonne e que já expôs em vários museus pelo mundo; e o americano Pete Eckert, que fez trabalhos para a Volkswagen e a Playboy, além do autoral que o fez reconhecido internacionalmente com as suas light paintings (fisiogramas ou pinturas de luz).
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