Publicado 07/09/2022 18:48 | Atualizado 07/09/2022 19:06
Os eventos que marcaram o Bicentenário da Independência nesta quarta-feira, 7, serviram como extensão da campanha eleitoral. Em todo o país, seguidores do presidente Jair Bolsonaro (PL) e militantes dos partidos de oposição ocuparam as ruas. Apesar do receio das autoridades de segurança pública, não foram registrados incidentes.
No Rio de Janeiro, não houve o tradicional desfile cívico-militar na Avenida Presidente Vargas. Pela manhã, o Exército promoveu apenas uma apresentação de tropas, equipamentos e carros de combate na Vila Militar. A maior parte das comemorações se concentrou na orla de Copacabana, Zona Sul da cidade, onde houve um show da Esquadrilha da Fumaça e apresentação de paraquedistas.
O ato pelos 200 anos da Independência em Copacabana teve tons de campanha eleitoral, com a presença de Bolsonaro, do governador Cláudio Castro, do general Braga Neto (vice na chapa do presidente), da candidata ao Senado Clarissa Garotinho (União Brasil), do deputado federal Daniel Silveira, do pastor Silas Malafaia e do empresário Luciano Han, e de representantes da família imperial brasileira — os príncipes Antônio e Cristina de Orleans e Bragança.
Motociata e ato político
Uma multidão se já concentrava pela manhã nas imediações do Monumento dos Pracinhas, no Aterro, para aguardar Bolsonaro, que chegou no início da tarde em um carro aberto. De lá, o presidente seguiu em motociata até Copacabana, um percurso de 13 quilômetros. Mais uma vez, o chefe do Executivo pilotou uma motocicleta sem capacete, equipamento obrigatório.
No palco montado na Avenida Atlântica, altura do Forte de Copacabana, Bolsonaro foi recebido por dezenas de milhares de apoiadores. O presidente assistiu à apresentação da Esquadrilha da Fumaça. Entre o público, destacavam-se faixas e cartazes com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) — principalmente contra o ministro Alexandre de Moraes —, críticas às universidades públicas e até pedidos de golpe militar.
Bolsonaro repetiu o tom do discurso do ato realizado pela manhã em Brasília. Atacou opositores, sustentou pautas conservadoras, defendeu empresários investigados pela Polícia Federal por envolvimento em atos antidemocráticos e rebateu acusações de corrupção.
“Não sou muito bem educado, falo palavrões, mas não sou ladrão”, disse o presidente, arrancando aplausos dos seguidores.
Mantendo o habitual tom de ataques às esquerdas, o presidente se referiu a países da América Latina e aproveitou a oportunidade para alfinetar Lula:
“Compare o Brasil com a Argentina, a Venezuela e a Nicarágua. Eles são amigos do quadrilheiro que disputa a eleição. Esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública, teremos um governo muito melhor com a nossa eleição, com a graça de Deus.”
Em um discurso de cerca de 15 minutos, Bolsonaro também se dirigiu ao eleitorado evangélico, afirmando que o Estado pode ser laico, mas tem um presidente cristão. Posicionou-se contra o aborto e a legalização das drogas.
No campo econômico, o presidente buscou destacar os avanços de seu governo, mas não mencionou a alta taxa de desemprego. Reconheceu que a inflação está alta, “mas menor do que na Europa e nos Estados Unidos”.
Tendo ao lado Luciano Hang, um dos investigados pela Polícia Federal por suposto apoio a atos antidemocráticos, o presidente, o presidente saiu em defesa dos empresários que tiveram mensagens sobre um golpe de estado, caso Lula seja eleito.
“Hoje estive com os empresários acusados de golpistas. Pelo amor de Deus, eles tiveram a privacidade violada”, disse Bolsonaro.
Grito dos Excluídos
Se Copacabana foi o palco das manifestações bolsonaristas, a oposição optou por ocupar o Centro. Na Avenida Presidente Vargas, movimentos sociais, centrais sindicais e religiosos organizaram o 28º Grito dos Excluídos, uma manifestação que se contrapõe às comemorações oficiais da Independência.
Os manifestantes protestaram contra o governo Bolsonaro, a política econômica de Paulo Guedes, o desemprego e a inflação. Muitos carregavam cartazes com a foto de Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em 2018, faixas de apoio a Lula e em memória às vítimas da covid.
Brasília
As comemorações do Bicentenário da Independência começaram na capital federal no primeiro minuto desta quarta-feira, com uma queima de fogos no Eixo Monumental. O desfile cívico-militar começou às 9 horas e contou com a presença de Bolsonaro. Cerca de 300 mil pessoas acompanharam a parada que levou para a Esplanada dos Ministérios militares das três forças, da PM do Distrito Federal, do Corpo de Bombeiros e alunos de escolas públicas.
Logo após o desfile, Bolsonaro se dirigiu a um caminhão de som estacionado nas proximidades. Lá, ele discursou para apoiadores. A polêmica foi a marca de sua fala. Puxando o coro de “imbrochável”, o presidente elogiou a primeira-dama Michele Bolsonaro e, sem citar o nome, criticou a esposa de Lula, a socióloga Janja:
"A vontade do povo se fará presente no próximo dia dois de outubro. Vamos todos votar, vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil. Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas.”
São Paulo
A Avenida Paulista foi tomada por apoiadores do presidente. A comemoração do Bicentenário da Independência em São Paulo serviu de mote para que bolsonaristas organizassem uma grande manifestação, que ocupou uma faixa de seis quarteirões. Repetindo o roteiro dos atos de Brasília e Rio de Janeiro, políticos em campanha fizeram discursos em defesa do governo e a favor de pautas conservadoras.
Também em São Paulo foram exibidas faixas com ataques ao Supremo Tribunal Federal, contra partidos e candidatos de esquerda, além de pedidos de intervenção militar. Candidatos da direita se revezaram no carro de som que comandou a manifestação.
O ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), que disputa o governo de São Paulo, adotou um tom mais moderado, mas destacou sua ligação com Jair Bolsonaro. Marcos Pontes, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e candidato ao Senado, a deputada Carla Zambelli (PL) e Sérgio Camargo, ex-presidente da Fundação Palmares e candidato à Câmara pelo PL, também discursaram.
A Polícia Militar não divulgou a estimativa do número de participantes do ato. Os organizadores da manifestação chegaram a falar em 200 mil pessoas, mas preferiram não confirmar o número.
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