Duda dizia alimentar 26 moradores de rua todas as noitesReprodução/Redes Sociais
Publicado 28/09/2022 15:07 | Atualizado 28/09/2022 15:52
Nos últimos meses, posts de um suposto projeto social que distribui marmitas e cestas básicas para pessoas em situação de vulnerabilidade social e de rua vinham deixando muita gente com a pulga atrás da orelha. As suspeitas se intensificaram quando, na semana passada, os internautas começaram a duvidar da existência de uma das coordenadoras do projeto de Blumenau (SC) chamado Alimentando Necessidades. Os posts que discutem os desdobramentos do assunto são acompanhados da hashtag #marmitagate.
Com a repercussão, a revolta nas redes sociais aumentou ainda mais. Uma internauta, através do aplicativo Tik Tok, contou sobre uma vez que foi "cancelada" e chegou a perder cerca de 500 seguidores após criticar uma ação do projeto. Na situação, elas diziam que não se deveria "dar o peixe, mas sim, ensinar a pescar", contando que haviam comprado 10 balas, que deveriam ser vendidas pelos moradores de rua por R$ 2, para que recebessem a marmita. 
Na última publicação da página no Instagram, os usuários fizeram diversos comentários criticando o suposto projeto. "Operação Lava Prato, né?", diz um, referindo-se à "Operação Lava Jato". Outro, aconselha: "Sua casa vai cair Duda, assume logo os golpes e aguarde os processos". Na segunda-feira, 26, a jovem Duda Poleza, fez uma live no aplicativo a fim de esclarecer a situação, mas não obteve sucesso. O vídeo ao vivo teve mais de 10 mil pessoas assistindo simultaneamente.
No Twitter, um internauta comentou: "Chocante, a menina na live falou falou falou e não esclareceu absolutamente nada. CPI da marmita já". Memes tomaram conta da plataforma.

A Polícia Civil de Santa Catarina informou que "está realizando a devida apuração a respeito e diligências para elucidar a situação estão sendo efetuadas". Desde a terça-feira, 27, já havia relatos de pessoas registrando boletins de ocorrência. "BO registrado e aconselho a todos que doaram ao projeto @alimentando_n façam o mesmo. Independente do seu estado, a ocorrência deve ser registrada em SC", diz um post que mostra o print do boletim de ocorrência feito junto à Delegacia Virtual.

A ação seria encabeçada por duas jovens, Duda Poleza e Taynara Motta. Com relatos sobre o dia a dia do projeto, que diziam alimentar cerca de 26 pessoas, elas pediam doações via Pix nas redes sociais para a compra de alimentos e insumos. No mês de setembro, três postagens das meninas relatando problemas viralizaram, ao mesmo tempo que, segundo os comentários, elas não respondiam a ofertas de ajuda e mesmo a tentativas de contato de um jornal local, interessado em divulgar o projeto.

No dia 12 de setembro, Taynara postou um relato de estupro para anunciar que se afastaria das redes sociais da iniciativa por um tempo, alegando que teria sido estuprada e não teria condições psicológicas para prosseguir no momento. No dia 15, Duda compartilhou um print em que um homem pedia fotos dela nua em troca de doação para o Alimentando Necessidades. Uma semana depois, divulgou um print de um diálogo com uma ex-colega que a teria procurado para doar uma embalagem de carne moída vencida há um mês. As três publicações passaram dos 100 mil likes e 9 mil retuítes e, em todas elas, a chave Pix do projeto era divulgada no fim.

Os relatos e o fato de que o perfil no Twitter de Taynara não tinha nenhuma informação sobre ela mesma, aparecia apenas como divulgadora do projeto e interagia principalmente com o perfil de Duda Poleza deram força para a hipótese de que ela não seria uma pessoa real. Um grupo de pesquisa em OpenSource averiguou que Taynara não existia em outras redes sociais e, em consulta a uma base de dados estadual, não encontrou ninguém com o mesmo nome na região.

Em seguida, concluíram que a foto do perfil dela era retirada de um perfil no Pinterest e que as únicas fotos em que há o registro de marmitas sendo entregues foram tiradas em Pomerode, uma cidade próxima de Blumenau, em frente ao restaurante do padrasto de Duda Poleza, que vende marmitas.

Quem acompanhava o desenrolar do assunto pediu para que elas gravassem vídeos se apresentando. Os vídeos foram postados no dia 25 e o de Taynara, carregado de filtros, mostrava que ela era muito parecida com Duda. Quando o pitch do áudio era ajustado, a voz dela também ficava muito semelhante. Ele foi apagado e foi quando Duda anunciou que faria uma transmissão ao vivo no dia seguinte. Na live, Taynara não apareceu, e a amiga não soube informar onde ela estaria.

Internautas juntam "provas"

Nos últimos dois dias, tuítes que buscam desmascarar a história cresceram e o assunto figura agora entre os trending topics da rede social. Os posts apontam inconsistências no discurso de Duda Poleza e levantam dúvidas sobre se o projeto é real ou não

Entre os desdobramentos, está o perfil de uma suposta pessoa em situação de rua usando uma foto retirada de um meme e afirmando que o projeto teria salvado sua vida; além da identificação do autor da foto que aparece no print em que um homem pede nudes em troca de doação para o projeto. A foto teria sido postada na rede social por ele mesmo para uma competição virtual chamada Pinto Awards, e Duda passou a ser acusada de forjar o print.

Muitos doadores do projeto se manifestaram com decepção e arrependimento, postando comprovantes do quanto teriam doado. Outras pessoas lamentam o impacto que um projeto social falso pode ter na imagem desse tipo de ação: "Tira a credibilidade de quem tá realmente fazendo algo bom", diz um comentário.

Para evitar cair em golpes ao doar para uma causa, é importante buscar informações sobre a pessoa ou a instituição em questão, checando o CNPJ ou informações pessoais (como e-mail, por exemplo). Pesquise na internet se já foram publicadas notícias ou denúncias sobre o projeto para o qual você pretende dar dinheiro e se quem recebe as doações presta contas de forma transparente e mostra os resultados das ações.

No que prestar atenção na hora de doar para um projeto social

- Há quanto tempo o projeto existe;

- Se existem registros no Reclame Aqui sobre a organização;

- Se as informações e fotos que explicam o motivo do pedido por doações são explicativas (desconfie de histórias genéricas, fotos repetidas ou que não mostrem muito sobre o projeto);

- Se as ações feitas com o dinheiro doado são frequentemente compartilhadas com o público em geral.
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