Publicado 10/10/2022 20:33
Com oito metros de altura e quase 40 metros de comprimento da cabeça à ponta da cauda, o Patagotitan é conhecido como o maior dinossauro já descoberto pela ciência. Pela primeira vez, um modelo em tamanho real do gigante pré-histórico vem a São Paulo como parte da exposição Dinossauros - Patagotitan, o maior do mundo, que reúne outras 12 réplicas de fósseis encontrados na Argentina e fica em cartaz até 27 de novembro no Parque Ibirapuera.
"No tempo dos dinossauros, tamanho era documento. Um animal saudável e adulto desse porte era praticamente invulnerável", explica o paleontólogo Luiz Eduardo Anelli, professor do Instituto de Geociências da USP e responsável pela exposição no Brasil.
Estima-se que o Patagotitan mayorum tenha habitado a Terra há aproximadamente 100 milhões de anos, durante o período Cretáceo. A maioria dos dinossauros descobertos pela ciência viveu nessa época, quando acredita-se que eles tenham atingido o seu ápice evolutivo.
Naquela versão do planeta, havia apenas um continente, Gondwana, e dois oceanos em cada lado dessa faixa de terra. A falta de uma divisão por mar, aponta Anelli, explicaria por que não temos registros de dinossauros nos oceanos, mas temos no que hoje é conhecido como a Antártida.
Ao mesmo tempo, o território que batizamos de Brasil era caracterizado pelo clima extremamente árido, enquanto a faixa de terra que hoje corresponde à Argentina tinha um ambiente mais úmido, com mais florestas, matas e, por isso, uma diversidade maior de dinossauros.
Encontrado na província de Chubut, na Patagônia argentina, o Patagotitan é um dos descendentes do Buriolestes schultzi, o dinossauro mais antigo do mundo e brasileiro, encontrado em São João de Polêsine, no Rio Grande do Sul. Mais de 2.500 quilômetros e 133 milhões de anos separam as espécies recordistas de idade e de tamanho, tempo e distância suficientes para que o animal tenha sofrido mudanças drásticas em seus hábitos e características físicas.
Baixinho e valente, o Buriolestes tinha entre 50 centímetros e 1,5 metro de altura, pesava aproximadamente oito quilos e se equilibrava em duas patas, com garras e dentes afiados como uma onça. Tudo isso indica que ela era um predador brasileiro e carnívoro.
"As pessoas acham estranho ele ser um ancestral do Patagotitan, mas toda a linhagem de elefantes e baleias, por exemplo, chega a um ancestral comum em bichos muito menores. Com o dinossauro não foi diferente", aponta Anelli. "A evolução trabalha normalmente em populações maiores de pequenos animais, quando os genes se movimentam mais, e produz vários modelos que depois irradiam em diferentes espécies."
Entre o Patagotitan e o seu "tataravô" Buriolestes, existiu ainda o Leonerasaurus taquetrensis, no meio do caminho evolutivo entre as duas espécies. Foi com ele que o pescoço dos animais começou a crescer, a cabeça se tornou relativamente pequena e os braços da frente se alongaram.
"Eles estão muito afastados no tempo, mas foi daqui (do Leonassauro) que começam a nascer os pescoçudos. Ao mesmo tempo, uma outra linhagem dele ‘regrediu’ e começou a encurtar o pescoço de novo", explica Anelli. "A evolução tem formas diferentes de resolver o mesmo problema."
Apesar de ser o maior dos dinossauros encontrados até hoje e "praticamente invencível", o Patagotitan alimentava suas 77 toneladas com uma dieta de plantas e algas. Herbívoro, o animal com barriga grande o suficiente para abrigar este repórter desenvolveu o pescoço comprido para alcançar árvores mais altas e arbustos enraizados no chão, no mesmo estilo das girafas.
Suas patas dianteiras perderam a falange dos dedos ao longo dos milhões de anos e funcionavam como duas bengalas enormes, desenvolvidas assim para sustentarem sozinhas o peso do Patagotitan. As traseiras, com garras, davam tração ao movimento e ao mesmo tempo abriam buracos no solo, onde o dinossauro colocava seus ovos.
"Diferente do que todos pensam, o ovo do Patagotitan não era maior que uma bola de basquete", observa o professor, explicando que enquanto o pintinho nasce 100 vezes menor do que uma galinha, a diferença entre o filhote do dinossauro e sua versão adulta era de 40 mil. "Aí está um dos cinco segredos do sucesso desses animais, que é o crescimento rápido. Em determinado momento, os filhotes cresciam 15 quilos por dia."
Mais do que uma vitrine para a arqueologia argentina, o Patagotitan também tem rendido um bom lucro ao país, aos museus e às universidades responsáveis pela descoberta dos fósseis e produção dos modelos em tamanho real dos dinossauros. O sucesso em São Paulo foi tanto que a exposição já está marcada para desembarcar no BarraShopping, no Rio de Janeiro, em janeiro do ano que vem.
"Isso aqui é uma celebração da pré-história Argentina. A gente precisa aprender (a fazer o mesmo), porque temos 50 dinossauros descobertos aqui", aponta o professor, autor do livro Dinos no Brasil (Ed. Peirópolis), que lista todas as espécies encontradas em solo brasileiro. "Podíamos encher isso aqui com modelos nossos. Nove dos dinossauros mais antigos do mundo estão aqui."
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