Publicado 20/10/2022 07:45 | Atualizado 20/10/2022 07:48
O Tribunal de Contas da União (TCU) investiga fraude em duas licitações do governo federal para compra de até 2,2 milhões de cestas básicas. Relatório da Corte, obtido pelo Estadão, aponta "fortes indícios" de que uma das empresas vencedoras está em nome de "laranjas". Os pregões foram organizados pelo Ministério da Cidadania entre 2021 e 2022.
A pasta se dispôs a gastar até R$ 290,2 milhões para adquirir alimentos, como arroz, feijão, óleo, macarrão, farinha, leite em pó, açúcar e fubá, para atender famílias pobres em todo o país. A maior parte das licitações foi vencida pela A Popular Cestas Básicas de Alimentos Eireli, de Contagem (MG), que ganhou 11 lotes no valor de até R$ 216 milhões.
Segundo a auditoria do TCU, a empresa está em nome de um "laranja", beneficiário do Auxílio Emergencial, e faz parte de um grupo controlado por Carlos Murilo Pessoa Gonçalves Moreira e Paulo Sergio Pessoa Moreira. O relatório afirma que os dois empresários mineiros usaram "parentes e pessoas interpostas com a provável finalidade de ocultação patrimonial".
Em relatório entregue ao ministro-substituto do TCU, Weder de Oliveira, a Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog) pediu que o Ministério da Cidadania aponte quais são os mecanismos de controle adotados pela pasta para "garantir que a entrega das cestas básicas está sendo efetivamente realizada, principalmente em razão do presente ano eleitoral". O ministro concordou com a solicitação em despacho de 21 de setembro. O governo ainda não explicou.
A distribuição de cestas básicas faz parte de uma ação do ministério contra a insegurança alimentar e nutricional. O valor autorizado pela Pasta para a compra de alimentos, neste ano, é de R$ 116 milhões. Do total, R$ 79 milhões são para a Popular. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) mostram que 60 milhões de brasileiros sofrem com insegurança alimentar.
Super Cesta
Técnicos do TCU identificaram que, em fevereiro deste ano, outra empresa supostamente comandada pelos irmãos Moreira entregou os alimentos ao Ministério da Cidadania, no lugar da Popular. A auditoria contabilizou 40.675 cestas básicas no valor de R$ 4,9 milhões, adquiridas no pregão do ano passado.
As mercadorias vendidas ao Ministério da Cidadania pela A Popular Cestas Básicas de Alimentos Ltda. foram entregues pela transportadora Super Cesta Básica de Alimentos Eireli. Segundo o TCU, essa transportadora está impedida de licitar e contratar com a administração pública federal por causa de uma sanção após não ter executado um contrato. O pregão do Ministério da Cidadania foi feito em fevereiro de 2021, dois meses após a Super Cesta Básica ter sido proibida de participar de licitação e de contratar com a União. O então ministro João Roma tinha acabado de assumir a Pasta. Um segundo pregão foi feito em maio deste ano pelo atual ministro, Ronaldo Bento.
Tentativa
"Os indícios obtidos apontam que a participação da A Popular Cestas Básicas de Alimentos Ltda. no certame teve como objetivo possível burla à sanção aplicada à empresa Super Cesta", afirma o relatório. "O contrato firmado pela primeira empresa (Popular) estaria, em realidade, sendo, ao menos parcialmente, executado pela segunda (Super Cesta Básica), que sequer participou do certame, pois não poderia, em razão da penalidade sofrida. Essa constatação implica em possível fraude à licitação."
As licitações do Ministério da Cidadania tinham como objetivo criar atas de registro de preços. Nesta modalidade, as empresas concordam em vender uma quantidade predeterminada de produtos por um valor previamente ajustado. Os órgãos podem comprar o número de produtos que desejarem e não são obrigados a adquirir toda a lista licitada. A ata registrada pelo ministério no ano passado foi encerrada. A deste ano está em aberto.
Apreensão
Parte das irregularidades apontadas pelos auditores do tribunal teve origem em uma apreensão da Secretaria de Fazenda da Paraíba Em 21 de fevereiro, fiscais da pasta interceptaram uma carreta com cestas básicas em Campina Grande, interior do Estado. A carga estava acompanhada de uma nota fiscal no valor de R$ 233 mil, emitida pela Popular e tinha Hudson Rafael Rocha, beneficiário do auxílio emergencial, como destinatário.
A Secretaria de Fazenda identificou que o documento encontrado na carreta estava ligado a um grupo de outras notas fiscais no valor de R$ 11 milhões, todas emitidas pela Popular e destinadas ao beneficiário do auxilio emergencial.
Fiscais da secretaria paraibana estiveram no endereço onde as cestas seriam entregues, em Campina Grande, e "foram impedidos de entrar" no local. Dois dias depois da apreensão, em 23 de fevereiro, a pasta estadual recebeu uma ligação de Rachel Alves Pereira de Mello, servidora do Ministério da Cidadania. A funcionária informou que a Popular havia vencido a licitação e seria a responsável pela distribuição.
Procurado, o Ministério da Cidadania não se manifestou. O empresário Paulo Moreira disse conhecer a Super Cesta Básica e que não é dono da empresa Popular. Hudson Rafael não foi localizado.
A pasta se dispôs a gastar até R$ 290,2 milhões para adquirir alimentos, como arroz, feijão, óleo, macarrão, farinha, leite em pó, açúcar e fubá, para atender famílias pobres em todo o país. A maior parte das licitações foi vencida pela A Popular Cestas Básicas de Alimentos Eireli, de Contagem (MG), que ganhou 11 lotes no valor de até R$ 216 milhões.
Segundo a auditoria do TCU, a empresa está em nome de um "laranja", beneficiário do Auxílio Emergencial, e faz parte de um grupo controlado por Carlos Murilo Pessoa Gonçalves Moreira e Paulo Sergio Pessoa Moreira. O relatório afirma que os dois empresários mineiros usaram "parentes e pessoas interpostas com a provável finalidade de ocultação patrimonial".
Em relatório entregue ao ministro-substituto do TCU, Weder de Oliveira, a Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog) pediu que o Ministério da Cidadania aponte quais são os mecanismos de controle adotados pela pasta para "garantir que a entrega das cestas básicas está sendo efetivamente realizada, principalmente em razão do presente ano eleitoral". O ministro concordou com a solicitação em despacho de 21 de setembro. O governo ainda não explicou.
A distribuição de cestas básicas faz parte de uma ação do ministério contra a insegurança alimentar e nutricional. O valor autorizado pela Pasta para a compra de alimentos, neste ano, é de R$ 116 milhões. Do total, R$ 79 milhões são para a Popular. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) mostram que 60 milhões de brasileiros sofrem com insegurança alimentar.
Super Cesta
Técnicos do TCU identificaram que, em fevereiro deste ano, outra empresa supostamente comandada pelos irmãos Moreira entregou os alimentos ao Ministério da Cidadania, no lugar da Popular. A auditoria contabilizou 40.675 cestas básicas no valor de R$ 4,9 milhões, adquiridas no pregão do ano passado.
As mercadorias vendidas ao Ministério da Cidadania pela A Popular Cestas Básicas de Alimentos Ltda. foram entregues pela transportadora Super Cesta Básica de Alimentos Eireli. Segundo o TCU, essa transportadora está impedida de licitar e contratar com a administração pública federal por causa de uma sanção após não ter executado um contrato. O pregão do Ministério da Cidadania foi feito em fevereiro de 2021, dois meses após a Super Cesta Básica ter sido proibida de participar de licitação e de contratar com a União. O então ministro João Roma tinha acabado de assumir a Pasta. Um segundo pregão foi feito em maio deste ano pelo atual ministro, Ronaldo Bento.
Tentativa
"Os indícios obtidos apontam que a participação da A Popular Cestas Básicas de Alimentos Ltda. no certame teve como objetivo possível burla à sanção aplicada à empresa Super Cesta", afirma o relatório. "O contrato firmado pela primeira empresa (Popular) estaria, em realidade, sendo, ao menos parcialmente, executado pela segunda (Super Cesta Básica), que sequer participou do certame, pois não poderia, em razão da penalidade sofrida. Essa constatação implica em possível fraude à licitação."
As licitações do Ministério da Cidadania tinham como objetivo criar atas de registro de preços. Nesta modalidade, as empresas concordam em vender uma quantidade predeterminada de produtos por um valor previamente ajustado. Os órgãos podem comprar o número de produtos que desejarem e não são obrigados a adquirir toda a lista licitada. A ata registrada pelo ministério no ano passado foi encerrada. A deste ano está em aberto.
Apreensão
Parte das irregularidades apontadas pelos auditores do tribunal teve origem em uma apreensão da Secretaria de Fazenda da Paraíba Em 21 de fevereiro, fiscais da pasta interceptaram uma carreta com cestas básicas em Campina Grande, interior do Estado. A carga estava acompanhada de uma nota fiscal no valor de R$ 233 mil, emitida pela Popular e tinha Hudson Rafael Rocha, beneficiário do auxílio emergencial, como destinatário.
A Secretaria de Fazenda identificou que o documento encontrado na carreta estava ligado a um grupo de outras notas fiscais no valor de R$ 11 milhões, todas emitidas pela Popular e destinadas ao beneficiário do auxilio emergencial.
Fiscais da secretaria paraibana estiveram no endereço onde as cestas seriam entregues, em Campina Grande, e "foram impedidos de entrar" no local. Dois dias depois da apreensão, em 23 de fevereiro, a pasta estadual recebeu uma ligação de Rachel Alves Pereira de Mello, servidora do Ministério da Cidadania. A funcionária informou que a Popular havia vencido a licitação e seria a responsável pela distribuição.
Procurado, o Ministério da Cidadania não se manifestou. O empresário Paulo Moreira disse conhecer a Super Cesta Básica e que não é dono da empresa Popular. Hudson Rafael não foi localizado.
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