Paiva defendeu a punição dos que se excederam nos atos Ricardo Stuckert
Publicado 21/01/2023 21:54 | Atualizado 22/01/2023 10:28
Brasília - O general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, de 62 anos, era ajudante de ordens do presidente Itamar Franco quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito. Tinha certeza de que o trabalho no Palácio do Planalto terminaria e se preparava para se incorporar a uma unidade no Paraná quando lhe deram a tarefa de cuidar da segurança da mulher do novo presidente, Ruth Cardoso. Começava ali, na primeira metade dos anos 1990, uma amizade que o liga desde então a FHC, a quem visita mensalmente.
Tomás era o candidato favorito para chefiar o Exército do grupo que costumava ser ouvido sobre a Defesa na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. Seu nome, no entanto, foi posto de lado em favor de Júlio Cesar de Arruda, em razão da decisão de Lula e do ministro da Defesa, José Múcio, de escolher os oficiais mais antigos para chefiar cada uma das Forças Armadas.
Mas não só. Contra Tomás pesava o fato de ser o comandante da Academia das Agulhas Negras em 2014 quando o então deputado federal Jair Bolsonaro lançou ali a sua candidatura à Presidência.
Muitos críticos viam conivência do general com o projeto de fazer Bolsonaro presidente. Quatro anos depois, ele era o chefe de gabinete do comandante do Exército, Eduardo Villas Boas, quando este fez os tuítes contra a concessão de habeas corpus a Lula na véspera do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF)
Tomás acabou promovido à quarta estrela em 2019. No Comando Militar do Sudeste (CMSE) se tornou uma das peças fundamentais do Alto-Comando contra todas as tentativas de se contestar as o resultado das eleições. A pressão contra ele foi grande. Tomás deixou o grupo de turma em aplicativo depois que compartilharam ali a imagem de seu colega, o general Otávio Rêgo Barros, com um capacete em forma de melancia. Acabou sendo alvo de campanha de difamação de bolsonaristas que procuravam apresentá-lo como traidor e "melancia".
Em 2 de novembro, cerca de 60 mil manifestantes se reuniram diante da sede do CMSE para protestar contra o resultado das urnas. Tomás deu uma ordem aos subordinados: proibiu contato entre oficiais e radicais. O general chegou a caminhar incógnito e sem farda entre o grupo que permaneceu acampado em frente ao seu quartel até o dia 9.
Durante os eventos do dia 8, Tomás telefonou para o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e ofereceu ajuda logística e de inteligência. O governador agradeceu. Em seguida, orientou seus homens para que contatassem os acampados que ainda permaneciam em frente ao quartel e que tudo fosse desmontado.
Nos dias subsequentes, o general afirmava a convicção de que o País precisava ser pacificado. E defendia a punição dos que se excederam nos atos. Na quarta-feira, 18, após participar de videoconferência com o então comandante Arruda, o general falou para a tropa formada no CMSE.
Reverberou de forma pública o que Arruda dissera de forma reservada. "Vamos continuar garantindo a nossa democracia. Ela é o regime do povo, de alternância de poder. E, quando a gente vota, tem de respeitar o resultado da urna."
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