Publicado 24/01/2023 14:34
Após visitar três comunidades do território Yanomami e passar quatro dias em Boa Vista, para onde centenas de adultos e crianças foram transferidos para receber atendimento médico adequado, o secretário nacional de Saúde Indígena, Ricardo Weibe Tapeba, afirmou na última segunda-feira, 23, que os cerca de 30,4 mil moradores da tribo estão "à mercê do crime organizado". O secretário ainda defendeu a retirada dos garimpeiros do território e medidas que impeçam retorno.
Em relação a presença ilegal de aproximadamente 20 mil garimpeiros que, com sua atividade, poluem os rios da região e destroem parte da Floresta Amazônica, além de disseminar várias doenças entre os indígenas, Weibe Tapeba contou a jornalistas que os invasores da maior reserva de usufruto indígena do país não se intimidam nem mesmo com a presença de militares fortemente armados.
"Nos últimos dias, visitamos três comunidades. Em duas delas fomos entregar alimentos. Só foi possível chegarmos a essas localidades graças à presença das Forças Armadas", contou Weibe Tapeba, defendendo a importância dos órgãos públicos se unirem para retirar os não índios do interior da terra indígena e para adotar medidas que impeçam o retorno dos garimpeiros à área.
"Precisamos implementar um plano de desintrusão do território", afirmou o secretário nacional, lembrando que já há uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), de 2020, para que o governo federal remova todos os invasores de sete terras indígenas do país, incluindo o território Yanomami. A medida, que o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, chegou a classificar como "imperativa, imprescindível e um dever da União", se aplica também a madeireiros que extraem recursos florestais da reserva.
"(Ao visitar as comunidades), descemos dentro do garimpo, que praticamente invadiu as aldeias. As comunidades estão à mercê do crime organizado. E não digo garimpeiros, mas sim crime organizado, porque há muitas pessoas armadas, coagindo (os índios) e sem se intimidar com a presença das Forças Armadas", disse Weibe Tapeba.
Irregularidades
O secretário ainda comparou a "um cenário de guerra" a situação que os yanomami enfrentam em seu território. "Pudemos perceber o estado de degradação em que o povo yanomami tem vivido. O estado de calamidade no território. É um cenário de guerra. E a nossa unidade de saúde indígena, nosso polo-base de Surucucu, assim como a nossa Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) aqui em Boa vista, são praticamente campos de concentração", disse.
Weibe Tapeba também revelou que as equipes que o Ministério da Saúde enviou de Brasília a Roraima estão produzindo um relatório que será entregue à ministra Nísia Trindade, com os principais problemas identificados e sugestões. Neste trabalho, os técnicos da pasta afirmam ter se deparado com indícios de possíveis irregularidades em contratos.
"Conseguimos identificar algumas fragilidades e indícios de irregularidades em alguns contratos. Pretendemos implantar uma auditoria interna para acompanhar esta questão", revelou Tapeba, enfatizando que, por ora, só há suspeitas.
Weibe Tapeba também revelou que as equipes que o Ministério da Saúde enviou de Brasília a Roraima estão produzindo um relatório que será entregue à ministra Nísia Trindade, com os principais problemas identificados e sugestões. Neste trabalho, os técnicos da pasta afirmam ter se deparado com indícios de possíveis irregularidades em contratos.
"Conseguimos identificar algumas fragilidades e indícios de irregularidades em alguns contratos. Pretendemos implantar uma auditoria interna para acompanhar esta questão", revelou Tapeba, enfatizando que, por ora, só há suspeitas.
"O fato é que é um absurdo pensarmos na possibilidade de desvio de recursos para medicamentos, mas também estamos acompanhando um cenário bem complicado em relação à contratação de horas/voo, que é o principal contrato, a principal ação que temos realizado no território yanomami", acrescentou o secretário, explicando que, em função da dificuldade de acesso e distância, a contratação de voos é necessária tanto para transporte de servidores e indígenas, quanto de suprimentos.
"Mas já estamos elaborando um plano estratégico que vai desde a parte da infraestrutura logística, até o aperfeiçoamento de contratos de serviços continuados. Não podemos sequer pensar em paralisar estes serviços", comentou Weibe Tapeba, criticando o que classificou como "o aparelhamento dos distritos sanitários especiais indígenas pelo militarismo" durante o governo anterior.
"Mas já estamos elaborando um plano estratégico que vai desde a parte da infraestrutura logística, até o aperfeiçoamento de contratos de serviços continuados. Não podemos sequer pensar em paralisar estes serviços", comentou Weibe Tapeba, criticando o que classificou como "o aparelhamento dos distritos sanitários especiais indígenas pelo militarismo" durante o governo anterior.
"O militarismo aparelhado dentro da saúde indígena representa muito atraso e precisamos resolver isso", finalizou o secretário, alegando que o governo federal está "acelerando" a exoneração de muitos dos coordenadores que permanecem em seus cargos.
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