Publicado 23/03/2023 12:24 | Atualizado 23/03/2023 14:04
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) denunciou na quarta-feira, 22, a estudante de Medicina da USP Alicia Dudy Muller por cometer os crimes de estelionato consumado por oito vezes e um tentado. A jovem, de 25 anos, é suspeita de desviar R$ 927,7 mil reais da Comissão de Formatura, que estavam sendo juntados para pagar a festa de graduação dos futuros médicos da 106ª turma do curso.
O texto da denúncia, assinada pelo promotor Fabiano Pavan Severiano, afirma que a jovem teria praticado estelionato por oito vezes e tentado em uma nona oportunidade, que não chegou a ser concretizada. Se a Justiça de São Paulo aceitar a denúncia, Alicia Muller, que segue estudando na universidade, se tornará ré.
A quantidade de crimes praticados por Alicia se refere ao número de ocasiões em que ela teria pedido à empresa, contratada para organizar a festa, para transferir o montante da conta bancária da comissão para a sua particular.
Os repasses teriam começado em 2021, em 25 de novembro, e se estendido ao longo do ano passado em outras sete ocasiões. Os oito pedidos totalizaram a transferência de R$ 927.765,33 para as contas da denunciada, que era, na época, a presidente da Comissão de Formatura da turma.
Ela teria tentado uma nova transferência em janeiro deste ano. Mas a empresa, já ciente da situação via colegas de Alicia, não concretizou o que seria o nono repasse.
Para conseguir os recursos, conforme a denúncia, a estudante solicitava as transferências fingindo que estava agindo com aprovação dos outros integrantes da comissão e colegas de turma
Além disso, um estatuto da Associação de Formatura, feito em março de 2021, previa que os pedidos de transferências deveriam ser aprovados por meio de assinaturas do presidente, do vice-presidente e do tesoureiro da comissão. Porém, de acordo com o Ministério Público, o estatuto nunca chegou a ser registrado e a própria Alicia teria se prontificado a formalizar esse registro.
"Finalmente, em 01/03/2021, foi elaborado o Estatuto da Associação de Formatura, assinado e subscrito, inclusive, por Alicia, nele ficando ressaltado que qualquer transferência de dinheiro dependeria das assinaturas do presidente ou vice, e, necessariamente, do tesoureiro", afirma Fabiano Pavan Severiano
"Contudo", continua o promotor "tal estatuto nunca foi levado a registro por Alicia, embora tenha se comprometido a tanto",
Ao Estadão, Alicia Muller, diz que o Estatuto da comissão estava sob responsabilidade de uma colega e que a comissão de formatura "já tinha sido informada das movimentações por mim e pela empresa". "No mais, aguardo o andamento da denúncia e me mantenho cursando a faculdade", disse a estudante. A reportagem tentou contato com Gabriela Sarti, mas não teve retorno até a publicação do texto.
Por meio de nota, a defesa de Alícia afirma que não foi notificada oficialmente da denúncia ainda e que "desconhece a veracidade das alegações" do Ministério Público. O advogado Sergio Ricardo Stocco Giolo, que assina o comunicado, diz ainda que a defesa nunca foi procurada pelo MP do Estado para "expor a verdadeira versão dos fatos".
A nota informa que Alícia está "tranquila e serena", e que "continua à disposição das autoridades judiciárias" para esclarecer os assuntos referentes à denúncia.
O caso
Em janeiro deste ano, Alicia admitiu ter desviado o dinheiro da comissão. Primeiro, ela disse aos colegas de turma que tinha sido vítima de um golpe praticado por uma empresa de investimentos. Porém, dias depois, em depoimento à polícia civil, ela admitiu que usou os valores acumulados no fundo da formatura para gastos pessoais e apostas em casas lotéricas para tentar reaver o dinheiro perdido - mas sem êxito.
A investigação policial constatou que a Alicia tinha melhorado o padrão de vida nos últimos meses e usado parte do montante para o aluguel de um imóvel, de carro e de aparelhos eletrônicos.
A Ás Formaturas assumiu a responsabilidade de realizar a festa e cobrar dos estudantes apenas os valores que restam para o pagamento da formatura. Para conseguir recuperar o dinheiro perdido, os alunos da USP organizaram vaquinhas na internet e chegaram a pedir doações para influenciadores.
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