Alunos, amigos e familiares se reuniram na despedida da professora Elisabeth Tenreiro. O corpo da educadora foi enterrado no Cemitério do AraçáReprodução/TV Globo
Publicado 28/03/2023 14:21
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São Paulo - Sob aplausos de alunos, ex-alunos, amigos e familiares, o corpo da professora de ciências, Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, morta após ser esfaqueada por um estudante na Escola Estadual Thomazia Montoro, foi enterrado no início da tarde desta terça-feira, 28, no Cemitério do Araçá, na Zona Oeste de São Paulo.
A cerimônia teve início às 8h, com o velório no Cemitério do Araçá, e foi marcada pela emoção. O cortejo também foi acompanhado de sirenes da Guarda Civil Metropolitana (GCM). No dia seguinte ao trágico ataque orquestrado por um aluno de 13 anos, a sensação de choque e incredulidade ainda domina quem presenciou o ato de terror, caso da professora professora Cinthia Barbosa, que conseguiu imobilizar o agressor. Muito emocionada, ela acompanhou a cerimônia.
"É uma confusão de sentimentos", disse. 

Aposentada desde 2020, a educadora continuou ministrando aulas de ciências na escola Thomazia Montoro. Após o ataque a facas, Elisabete teve uma parada cardíaca e morreu no Hospital Universitário, da USP. Em nota divulgada, a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) lamentou a morte da professora.

"Aos 71 anos, Elizabeth estava dentro da sala de aula, defendendo a ciência, porque acreditava na transformação pela educação. A violência que tirou a vida de Elizabeth precisa ser discutida em suas causas, para que possamos construir uma cultura de paz na sociedade e evitar crimes como este. Hoje é um dia de muita tristeza, especialmente para a família de Elizabeth, mas também para todos os cientistas e servidores que conviveram com ela, por décadas, no Instituto Adolfo Lutz, órgão do Estado responsável por análises laboratoriais e pelo diagnóstico de doenças".
Docente teve vida dedicada à ciência
Funcionária pública por toda a vida, a professora Elisabeth Tenreiro fez carreira no Instituto Adolfo Lutz, onde ingressou em 1971, e se aposentou há três anos. Formada em Química, trabalhava com testes e controle de qualidade no Centro de Alimentos da instituição. Foi também autora de pesquisas científicas publicadas em periódicos especializados. Não queria se aposentar.

Passou a dar aulas em 2015 e atuava na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, desde o começo do ano. Foram oito anos na docência, até ser morta a facadas na manhã de segunda-feira, dentro da sala de aula, por um aluno de 13 anos.
Estudantes do colégio se lembraram dela em homenagens nas redes sociais como carinhosa e dedicada ao ensino e aos alunos. Nas publicações, relembraram os momentos em sala de aula. "Obrigada por muitas risadas naquela sala, muitas brincadeiras. A senhora vai sempre ser lembrada. Te amamos muito", dizia um deles. "Descanse em paz, Beth. Vou sentir muito a sua falta", comentava outra. Avó, Elisabeth também é descrita como uma mulher apaixonada pelos netos e sempre bem-humorada.

Falante

Ela voltava todo dia de táxi da escola para casa. A professora ligava para um ponto de táxi na região, ao lado da Estação Vila Sônia do Metrô, e ia para a esquina da escola para facilitar para os motoristas, já que é uma rua sem saída. "A última vez que fiz uma corrida com ela foi na quinta-feira", disse o taxista Aurélio Albuquerque, 43. "Era uma pessoa atenciosa, muito legal. Falante, conversava, perguntava da vida da gente, falava dela. Era gente ‘boníssima’", disse.

Com carinho, Aurélio conta que, em uma das vezes que a foi buscar na esquina da escola, duas estudantes estavam esperando um carro de aplicativo chegar. "Ela fez eu esperar até que o carro delas chegasse, para não terem problema." As corridas eram feitas por volta de 14h, segundo os taxistas. "Quando dava perto desse horário, a gente já ficava esperando", disse. Como ela mora perto da escola, com a filha, levava por volta de 10 minutos e não dava mais do que R$ 15.

A notícia da morte chocou os taxistas do ponto. "A gente já passa por tanto problema trabalhando na rua, que é uma vida tão difícil, imagina ter isso dentro de uma escola, que é o único lugar que a gente imagina não ter violência", disse Aurélio. "É uma tragédia."

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