Publicado 02/04/2023 09:26 | Atualizado 02/04/2023 09:29
O mundo da tecnologia acompanha, curioso, os novos sistemas alimentados por inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, ferramenta capaz de gerar textos coerentes sobre diversos assuntos - há quem use o ChatGPT para resolver tarefas complexas, como programar softwares, elaborar propostas de negócios e até escrever ficção. "Nesse terreno, porém, não vejo utilidade nenhuma em um robô", contesta Cristóvão Tezza, autor do premiado O Filho Eterno. "Um texto literário verdadeiramente forte não será nunca resultado de uma conjugação mecânico-linguística de algoritmos, mas sim obra de uma pessoa, e é só por isso que pode ser forte e bom."
Tezza encabeça uma lista de autores consultados pelo Estadão sobre a eficiência do ChatGPT. Praticamente todos, embora impressionados pela precisão na produção, revisão e tradução de diferentes tipos de textos, não veem o ChatGPT como auxiliar no trabalho porque ele não é capaz (ainda) de suplantar a sensibilidade humana. "Os escritores literários não têm o que temer, pois o texto da ferramenta é frio, anódino. Pode até impactar o mercado de trabalho, mas não acredito que os escritores de literatura serão os mais atingidos", aposta Rodrigo Lacerda, também editor executivo do Grupo Editorial Record.
Tezza encabeça uma lista de autores consultados pelo Estadão sobre a eficiência do ChatGPT. Praticamente todos, embora impressionados pela precisão na produção, revisão e tradução de diferentes tipos de textos, não veem o ChatGPT como auxiliar no trabalho porque ele não é capaz (ainda) de suplantar a sensibilidade humana. "Os escritores literários não têm o que temer, pois o texto da ferramenta é frio, anódino. Pode até impactar o mercado de trabalho, mas não acredito que os escritores de literatura serão os mais atingidos", aposta Rodrigo Lacerda, também editor executivo do Grupo Editorial Record.
Ele testou a opção gratuita da ferramenta e ficou impressionado. "Vislumbro um uso mais útil para a pesquisa", acredita. "Afinal, quando se busca uma resposta sobre um determinado assunto, o Google oferece toneladas de sites e páginas até esbarrar na resposta exata que você está querendo, enquanto no ChatGPT, ao se fazer uma pergunta precisa, a ferramenta nos leva diretamente ao detalhe que se está buscando".
Há quem utilize, porém, a ferramenta não apenas como fonte de pesquisa. "Testei o aplicativo recentemente para minha escrita", conta Tobias Carvalho, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura. "Eu estava em dúvida sobre como concluir uma cena e pedi algumas sugestões. Pelo que entendi, o GPT usa uma enorme base de dados, alimentada pelas pessoas, e cria algo semelhante ao que a gente diria. Pode ser bem útil como desbloqueador criativo, mas só imagino que, passando um pouco dos limites com o software, o autor pode ficar tentado a plagiar ideias - o que é engraçado porque, afinal, a quem pertence uma ideia criada por IA?."
Carvalho conta que acatou a sugestão oferecida pela ferramenta e a adaptou ao seu trabalho - algo, por ora, impensável para Raphael Montes, um dos principais autores de romance policial no Brasil. "Escrever literatura não tem nada a ver com enfileirar palavras", observa. "A força da narrativa nasce da sugestão, do não dito, das entrelinhas, das nuances dos personagens. Acho que a ferramenta não faz nada disso."
Para a escritora e psicoterapeuta Natalia Timerman, autora de Copo Vazio, a questão é mais ampla e antiga. "Sabemos que, de muitas formas, mesmo antes do ChatGPT, o impacto já começou", disse. "Nossa capacidade de concentração, raciocínio, interesses e até a maneira de nos relacionarmos já foram profundamente modificados pela internet, pelas redes sociais, pelos algoritmos E isso interfere na nossa capacidade e no nosso jeito de ler e de escrever."
E há quem tenha descoberto outra função para a ferramenta. "Sei que, muitas vezes, as respostas são imprecisas e até mesmo erradas - o que, particularmente, me diverte", conta Veronica Stigger.
Há quem utilize, porém, a ferramenta não apenas como fonte de pesquisa. "Testei o aplicativo recentemente para minha escrita", conta Tobias Carvalho, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura. "Eu estava em dúvida sobre como concluir uma cena e pedi algumas sugestões. Pelo que entendi, o GPT usa uma enorme base de dados, alimentada pelas pessoas, e cria algo semelhante ao que a gente diria. Pode ser bem útil como desbloqueador criativo, mas só imagino que, passando um pouco dos limites com o software, o autor pode ficar tentado a plagiar ideias - o que é engraçado porque, afinal, a quem pertence uma ideia criada por IA?."
Carvalho conta que acatou a sugestão oferecida pela ferramenta e a adaptou ao seu trabalho - algo, por ora, impensável para Raphael Montes, um dos principais autores de romance policial no Brasil. "Escrever literatura não tem nada a ver com enfileirar palavras", observa. "A força da narrativa nasce da sugestão, do não dito, das entrelinhas, das nuances dos personagens. Acho que a ferramenta não faz nada disso."
Para a escritora e psicoterapeuta Natalia Timerman, autora de Copo Vazio, a questão é mais ampla e antiga. "Sabemos que, de muitas formas, mesmo antes do ChatGPT, o impacto já começou", disse. "Nossa capacidade de concentração, raciocínio, interesses e até a maneira de nos relacionarmos já foram profundamente modificados pela internet, pelas redes sociais, pelos algoritmos E isso interfere na nossa capacidade e no nosso jeito de ler e de escrever."
E há quem tenha descoberto outra função para a ferramenta. "Sei que, muitas vezes, as respostas são imprecisas e até mesmo erradas - o que, particularmente, me diverte", conta Veronica Stigger.
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