Historiador Boris Fausto morreu aos 92 anosReprodução TV Câmara
Publicado 18/04/2023 22:50 | Atualizado 19/04/2023 08:56
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São Paulo - Morreu o historiador, cientista político e escritor Boris Fausto nesta terça-feira (18). Autor de ''A Revolução de 1930'', de 1970, e de outros livros que marcaram a historiografia brasileira, ele tinha 92 anos. Estudioso da História Política do Brasil no período republicano, Boris se debruçou ainda sobre a criminalidade em São Paulo no começo do século 20 e sobre a formação do pensamento autoritário no País.

Doutor pela Universidade de São Paulo - onde se graduou em Direito, foi assessor jurídico e professor de Ciência Política -, Boris foi pesquisador da Rockefeller Foundation, além de professor visitante da Brown University. Com sua obra, ganhou por três vezes o Prêmio Jabuti.
Nasceu em 1930, em São Paulo, em uma família de imigrantes judeus. Crescera lendo o Estadão para o avô, que era cego. "Mesmo considerando que o número de analfabetos era grande, o jornal era o veículo que uma elite lia, mas ele se difundia na banca, nos gritos dos jornaleiros", lembrou.

Com ''A Revolução de 1930'', provocou mudança nas análises sobre o tenentismo e o fim da República Velha. Fausto via nos jovens militares um espírito que, "em grande linha, não era democrático". "Era militar como temos em nossa tradição. Era salvacionista e propugnaram a manutenção da ditadura do Getúlio (Vargas) tanto quanto possível", dizia.

Seu livro o inseriu no contexto de autores, como Florestan Fernandes, Francisco Weffort e Fernando Henrique Cardoso, que criticavam a visão etapista de desenvolvimento da sociedade brasileira, defendida pelo Partido Comunista Brasileiro, e buscavam compreender o País, em vez de o enquadrar em um modelo importado de realidade.

Militância

Militara no trotskismo, mas rompera com o movimento em 1962. Preocupava-se com a questão democrática, em como enfrentar a ditadura militar instaurada pelo golpe de 1964. "Minha crítica de 1930, por combater o conceito da revolução democrática burguesa já nos tempos do trotskismo, foi influenciada por esse passado, embora já tivesse tomado outro rumo. Eu estava armado para fazer essa crítica. Era fácil para mim".

A reportagem, revelou ter afeto por outro de seus livros: História do Brasil, seu maior best-seller. "Tenho afeição por ele e acho que foi um marco que pode ser aproveitado, mas muita coisa ali foi superada, como eu já superei, se fosse escrever uma nova história".
Era o mais velho de três irmãos. O mais jovem - o médico Nelson - morreu em 2012, e o filósofo Ruy, em 2020.

Resolveu então escrever sobre o tempo em que os três viviam no bairro de Higienópolis. Vida, Morte e Outros Detalhes foi seu último livro. Trazia contos e as memórias e terminava com um episódio em que o narrador "matava a morte" que resolvera visitá-lo.
O historiador refletiu então: "Acho que minha obra como todas as coisas sempre serão ultrapassadas. Tenho esperança que meus livros, os quatro que escrevi de reflexões pessoais e do meu tempo que, atualmente não têm muita incidência, sejam vistos como fonte de um depoimento e pensamento de uma época. E que meus livros sobre crimes em São Paulo sejam revisitados. A gente vira pó. Eu não vou ver isso e, talvez, essa esperança seja fugaz".

Em nota, a Fundação FHC disse que Boris foi pioneiro nos estudos sociais e um dos maiores historiadores do Brasil. O historiador e colunista do Estadão Leandro Karnal afirmou que o amigo foi um grande pesquisador. "Eu o conheci bastante. Ele tinha uma memória notável, extraordinária e era um grande narrador de histórias. Sentiremos muita falta do Boris". O velório acontece nesta quarta-feira (19) na Funeral Home, na Rua São Carlos do Pinhal, no Centro de São Paulo.
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