Chico Buarque recebe Prêmio Camões quatro anos após recusa de Bolsonaro

Brasília - O cantor, compositor e escritor Chico Buarque recebeu o Prêmio Camões, nesta segunda-feira (24). A cerimônia aconteceu no Palácio Nacional de Queluz, em Sintra, Portugal. Ele recebeu a condecoração das mãos do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que está desde a última sexta-feira (22), em sua primeira viagem a Europa no terceiro mandato.  

Chico foi vencedor do prêmio em 2019, mas só pode recebê-lo este ano, pois o ex-presidente Jair Bolsonaro se recusou a assinar o protocolo da premiação, que reconhecia a vitória do artista. Na época, o ex-presidente chegou a perguntar, em tom irônico, "se tinha prazo" e que assinaria "até 31 de dezembro de 2026" fazendo alusão a um possível segundo mandato.

"Valeu a pena esperar quatro anos por essa cerimônia. Quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade. Foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás", disse Chico.

O cantor também comentou a recusa de Bolsonaro em reconhecer o prêmio. "O ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu prêmio com a assinatura dele, deixando o espaço para o presidente Lula".

Antes de entregar o prêmio a Chico, Lula disse que estava corrigindo um erro da gestão anterior contra a cultura brasileira. "É uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura. O prêmio Camões deveria ter sido entregue a Chico Buarque em 2019 e não foi", declarou Lula.

Ainda segundo Lula, se hoje ele pôde fazer esse "gesto de reparação e celebração" da obra do Chico, é "porque a democracia venceu no Brasil". "O ataque à cultura foi dimensão importante do projeto que a extrema direita tentou implementar no Brasil. (...) Esse prêmio é uma resposta do talento contra a censura, do engenho contra a força bruta", disse.

Também presente no evento, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que Lula é "amigo de Portugal e dos portugueses".

O prêmio Camões, que acontece desde 1988, é uma pareceria entre os governos de Brasil e Portugal. É considerada a maior condecoração da língua portuguesa e honra a memória de Luís de Camões, poeta e escritor lusitano, considerado um dos maiores de todos os tempos.

Entre os 34 laureados estão brasileiros como Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro e Ferreira Gullar. Em 2022, o poeta mineiro Silviano Santiago foi o escolhido.

Além da vasta e bem-sucedida carreira na música, Chico Buarque também possui obras literárias premiadas, como os romances 'Estorvo', vencedor do prêmio Jabuti em 1992, e 'Budapeste', que virou filme dirigido por Walter Carvalho e com Leonardo Medeiros e Giovanna Antonelli nos papéis principais. Também escreveu peças de teatro, como 'Roda-Viva' (1967), 'Gota D'Água' (1975) e 'Ópera do Malandro' (1978). Sua última obra foi o livro 'Essa Gente', lançado em 2019.