Publicado 28/04/2023 16:14 | Atualizado 28/04/2023 16:17
Brasília - A maioria dos eleitores que votaram em Jair Bolsonaro (PL) contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da disputa presidencial, no ano passado, apoia a regulação das redes sociais no Brasil. É o que indica a pesquisa do instituto Atlas/Intel, feita entre os dias 15 e 17 deste mês. O levantamento mostrou que 78% dos entrevistados é favorável a uma lei para estabelecer normas de funcionamento das redes, com identificação de conteúdos violentos e proteção de crianças e adolescentes. Deste total, 60,5% afirmam ter escolhido Bolsonaro na segunda rodada da eleição.
A pesquisa foi realizada pouco antes da Câmara aprovar, após muitas discussões, o regime de urgência para a votação do projeto de lei das fake news. Os dados obtidos no levantamento contrastam com declarações de muitos deputados bolsonaristas, que rejeitam a proposta, sob o argumento de que a extrema direita é perseguida pela esquerda nas redes sociais.
Na tentativa de facilitar a tramitação do projeto, o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), relator do texto, retirou dali o trecho que previa a criação de uma agência autônoma para fiscalizar as plataformas digitais. O projeto irá a plenário na próxima semana.
Embora o posicionamento a favor da definição de parâmetros para as big techs seja majoritário no estudo Atlas/Intel, chamou a atenção dos pesquisadores o fato de 37,4% dos eleitores que disseram ter anulado o voto no primeiro turno não concordar com a regulação das redes.
"O negacionismo em relação ao impacto de uma lei como essa tem a ver com o processo de radicalização observado no País, de uma forma geral. Isso não é um fato isolado", disse Laura Moraes, diretora de campanhas da Avaaz no Brasil.
A pesquisa Atlas/Intel foi encomendada pela Avaaz, maior comunidade de ativistas on line do mundo, que acompanha o projeto para criar uma lei contra a desinformação no Brasil. Foram entrevistadas 1.600 pessoas, recrutadas durante navegação de rotina na web, em todas as regiões do País, por meio de dispositivos como smartphones, tablets, laptops ou PCs. A metodologia é conhecida como Random Digital Recruitment (RDR).
Apesar de haver grande apoio a favor da regulação das redes sociais (78%), 14% se manifestaram contrariamente a um novo modelo e 8% não souberam opinar. A maioria (74%), porém, respondeu que a falta de leis específicas para regulamentar as plataformas contribuiu para os recentes ataques registrados em escolas do País. Na avaliação de 93,7%, as redes não são seguras para adolescentes e crianças.
O impacto provocado por esse tipo de interação no cotidiano também foi medido na pesquisa. Para 52%, as redes pioraram a maneira como as pessoas falam umas com as outras. Outros 31% responderam que não melhoraram nem pioraram. Apenas 17% disseram acreditar que as redes contribuíram para um melhor relacionamento no dia a dia.
"O estudo revela que as pessoas sofreram com o esgarçamento das relações na família e no trabalho. Muitos estão se machucando e as redes sociais não podem mais ser uma terra sem lei", destacou a diretora de campanhas da Avaaz no Brasil.
Laura Moraes é a favor da criação de uma entidade sem vínculo com o governo para regular as plataformas digitais. "A reação que houve no Congresso é natural, porque há uma fake news de que se pretende regular nossos conteúdos, quando o que se quer é justamente o cumprimento das leis pelas plataformas", destacou a pesquisadora.
Aliado de Bolsonaro, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) disse que nem as mudanças promovidas pelo relator no projeto de lei das fake news o farão ser favorável à proposta. "Sou contrário a qualquer texto nesse sentido porque é censura", afirmou Sóstenes, integrante da bancada evangélica. "Já existe punição por calúnia, difamação, danos morais e materiais para quem posta fake news."
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