Publicado 18/06/2023 06:00
Brasil - Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolvem uma vacina que pretende ser uma aliada a mais no tratamento de pessoas com dependência química em cocaína e crack. Os testes em animais foram concluídos com êxito. Agora, o próximo passo é conseguir financiamento em torno de R$ 30 milhões para dar entrada na Anvisa com o pedido de autorização para o início de testes em humanos.
Medicamento inédito no país, a calixcoca, o nome da vacina, é produzida a partir de uma molécula sintética produzida em laboratório que, ao ser injetada no organismo, estimula a produção de anticorpos que bloqueiam a passagem da droga pela barreira hematoencefálica, deixando de acionar o 'sistema de recompensa' do cérebro e de atuar sobre o sistema nervoso
Coordenador da pesquisa, o professor do departamento de psiquiatria da UFMG, Frederico Garcia, explica que a vacina é indicada para pessoas em tratamento contra a dependência química que, em uma eventual primeira recaída, não sentirão os efeitos da droga no organismo.
"Ela não será aplicada de forma indiscriminada. Será um medicamento indicado somente para aquelas pessoas que estão em tratamento contra a droga e realmente motivadas a parar de usá-la. Ao não sentirem os efeitos da cocaína no organismo, a primeira recaída não será capaz de reativar o ciclo de compulsão pela droga. Dessa forma, a pessoa em tratamento terá mais tempo para se recuperar", explica o professor, acrescentando que a Calixcoca será uma ferramenta mais no combate à dependência de cocaína e do crack, seu derivado:
"O tratamento contra a dependência química e biopsicossocial. A vacina será uma ferramenta a mais para melhorar a eficácia do tratamento".
A vacina calixcoca está em desenvolvimento na UFMG desde 2015. Até o momento, os testes pré-clínicos em ratos e em macacos comprovaram o bloqueio dos efeitos da droga sobre o cérebro e sobre o sistema nervoso dos animais, além de não terem apresentado nenhum efeito colateral significativo que não permitisse o início dos testes em humanos.
Nessa próxima etapa, o professor Frederico Garcia explica que, após a autorização da Anvisa, os testes em humanos pretendem avaliar, na fase 1, a segurança do medicamento e, na fase 2, a diminuição da ocorrência de recaídas com a aplicação da vacina em dependentes químicos em tratamento:
"A gente acredita que, não percebendo os efeitos da cocaína sobre o organismo em uma primeira recaída, o usuário acabe deixando de usar a substância".
Efeito sobre usuárias grávidas
Em outra frente dos estudos pré-clínicos em animais, os pesquisadores da UFMG comprovaram que a aplicação da vacina bloqueia a passagem da cocaína pela membrana placentária, protegendo o feto da droga.
"Comprovamos ainda que, os ratos que nasceram tinham anticorpos antidroga em seu organismo e também os recebiam pelo leite materno", diz o pesquisador.
A vacina Calixcoca é finalista do Prêmio Euro de Inovação em Saúde, concedido pela Eurofarma. O projeto da UFMG é um dos 60 finalistas de um total de 600 analisados. O grande vencedor receberá 500 mil euros para o desenvolvimento do projeto.
Outra possibilidade de apoio é a sinalização da Prefeitura de São Paulo, que pretende destinar, por meio da Secretaria municipal de Saúde, R$ 4 milhões à pesquisa.
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