Aliados de Lira observam e cobiçam espaço maior no primeiro escalão do governo LulaAdriano Machado/Reuters
Publicado 17/06/2023 08:27 | Atualizado 17/06/2023 08:27
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai abrir espaço para o grupo de Arthur Lira (PP-AL) no primeiro escalão do governo. A garantia foi dada na sexta-feira, 16, por Lula, em reunião com o presidente da Câmara, no Palácio da Alvorada. Na conversa, Lula se comprometeu a tratar do assunto no retorno de sua viagem internacional.
Como mostrou o Estadão, uma ala do PP, partido de Lira, quer comandar o Ministério da Saúde. Lula resiste a entregar a pasta, atualmente ocupada por Nísia Trindade, mas admite ceder cargos nessa estrutura. Além disso, o presidente decidiu substituir a ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União-RJ) pelo deputado Celso Sabino (União-PA), aliado de Lira. Lula e Sabino vão se encontrar hoje em Belém (PA).

Para justificar a troca, o governo usa o argumento de que Daniela já pediu a desfiliação do União Brasil, partido que hoje comanda três ministérios. Aliados de Lira observam, no entanto, que a mudança envolve uma pasta com orçamento pequeno, o Turismo, e cobiçam espaço maior no primeiro escalão.

Em mensagens no Twitter após o encontro na sexta, Lira afirmou que esteve no Palácio da Alvorada, a convite de Lula, para discutir pautas destinadas ao crescimento do Brasil, especialmente a reforma tributária e o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). "Não se falou de mudanças no Ministério do presidente Lula", escreveu o presidente da Câmara.
Medidas Provisórias

Lira disse ter ouvido de Lula a intenção de reduzir o envio de Medidas Provisórias, definidas por ele como "um anseio do Congresso Nacional". Foi o segundo encontro entre os dois en 11 dias. Após ameaçar não pautar projetos de interesse do Palácio do Planalto enquanto o governo não resolvesse o problema da articulação política, o presidente da Câmara adotou tom conciliador no Twitter.
Lira disse que a reunião entre ele e Lula ocorreu agora porque os dois vão viajar e ficariam cerca de 15 dias sem se encontrar. O presidente tem compromissos na Itália e na França, na próxima semana, e Lira estará em Portugal, a partir de quarta-feira, 21.

"Tratamos do bom momento da economia brasileira, a intenção de trabalharmos juntos pelo país, e as recentes aprovações de matérias pela Câmara dos Deputados com esse objetivo", destacou o deputado.

Horas antes, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o governo fará uma força-tarefa com o objetivo de destravar nomeações para cargos nos Estados e monitoramento semanal. Pelos seus cálculos, há 403 indicações pendentes, feitas por partidos, que não foram nem inseridas pelos ministérios no Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc).

Padilha e Rui Costa, ministro da Casa Civil, vêm disputando influência sobre as nomeações políticas. No Congresso, a culpa pela demora nas indicações é atribuída a Costa.

O ministro das Relações Institucionais disse que esse foi um encaminhamento da reunião ministerial de quinta-feira, 15. Segundo ele, a coordenação desse esforço será de seu ministério.

"Mas a composição partidária não está em discussão em relação ao Ministério da Saúde", destacou ele. "Há outros ministérios que foram discutidos com a composição partidária, que é parte da democracia. O Ministério do Turismo é um exemplo disso", completou Padilha, um dos fiadores de Nísia Trindade no governo

Beija-mão

Ainda na sexta, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, visitou Lira na residência oficial da Câmara. Na quinta-feira, 15, foi a vez de Rui Costa, conversar com o presidente da Câmara.

O "beija-mão" não foi à toa. Em seis meses de gestão, Lira conseguiu transformar Lula em refém de sua agenda. Com apenas 140 votos da esquerda e o espectro político de centro dividido, sem dar segurança nas votações, o governo não consegue aprovar nenhum projeto de lei se não tiver apoio do Centrão.

Em conversa com Rui Costa, na quarta-feira, o líder do União Brasil, Elmar Nascimento, disse que o governo precisa atender o chamado "blocão" nas trocas ministeriais para ampliar sua base de sustentação na Câmara. Ao Estadão/Broadcast, Elmar afirmou apenas ter relatado ao ministro a necessidade de o governo corrigir falhas na articulação política. "Para bom entendedor, meia palavra basta", disse ele.

O Centrão liderado por Lira se movimenta há algumas semanas para controlar o Ministério da Saúde, que foi por muito tempo feudo político do PP e tem um orçamento de R$ 188,3 bilhões neste ano.

Na prática, o PP mudou de estratégia para conseguir o comando da Saúde. O partido fez chegar ao governo que poderia apadrinhar um nome "técnico" para a pasta. A ideia é indicar alguém do setor, e não mais um político, como forma de reduzir a resistência de Lula. Uma ala da bancada, porém, defende a nomeação do deputado Dr. Luizinho (PP-RJ), que também é médico.

A atual ministra Nísia Trindade, ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), não é ligada a nenhum partido e deputados têm reclamado da falta de interlocução com ela, até mesmo do PT. Há queixas, ainda, de demora na liberação de emendas parlamentares por parte do Ministério da Saúde.
 
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