Motinha é apontado pela PF como traficante internacional com atuação na fronteira com o ParaguaiMontagem/Redes Sociais
Publicado 06/07/2023 14:54
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Aos amigos mais íntimos, Antônio Joaquim Gonçalves Mota é conhecido como Motinha, herdeiro de família tradicional de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, com raízes estabelecidas, "há mais de 50 anos", na fronteira do Brasil com o Paraguai. Mas para o mundo do crime e para a polícia, Mota prefere ser chamado de 'Dom', em referência ao mafioso italiano Dom Corneole, retratado no filme "O poderoso chefão".

Dom está na lista dos traficantes de drogas foragidos alvo da Operação Magnus Dominus, deflagrada na última sexta-feira, 30, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Antônio Mota e outros cinco integrantes da sua força paramilitar, entre eles três estrangeiros, conseguiram fugir. O caso tem um histórico complexo, extenso e envolve outras três operações da Polícia Federal, incluindo a Operação Lava Jato.
Segundo a Polícia Federal, Motinha, fugiu um dia antes das equipes realizarem seu mandado de prisão. Ele conseguiu escapar em um helicóptero um dia antes da chegada dos policiais na fazenda de sua família, localizada entre os municípios de Ponta Porã, no Brasil, e Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

Ele é de família extremamente rica no Mato Grosso e é acusado de controlar uma organização criminosa envolvida em tráfico internacional de cocaína, lavagem de dinheiro, associação criminosa e grilagem de terras.
Apesar da fuga bem-sucedida, outros seis mandados de prisão foram cumpridos pela Justiça Federal. Os alvos foram nove brasileiros, um italiano, um romeno e um grego. Todos os suspeitos foram identificados como mercenários altamente especializados em serviços de proteção de patrimônio e segurança particular, que teriam atuado até mesmo como mercenários em guerras e no combate a piratas da Somália.

Conforme revelado por investigações conduzidas pela PF e pelo Ministério Público Federal, o pai de Dom, o empresário Antonio Joaquim da Mota e a mãe, Cecy Mendes Gonçalves Mota, também já foram alvos de investigação criminal, presos juntos do filho. Dom estava respondendo processo em liberdade.

Durante a Operação Helix, realizada em maio, a Justiça Federal determinou o sequestro de diversos bens móveis, incluindo automóveis, helicópteros e um imóvel ligado à organização criminosa, cujo valor estimado ultrapassa os R$ 30 milhões.
Foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão e 10 mandados de prisão nos estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Minas Gerais, contra uma organização criminosa responsável pela entrada de toneladas de drogas no país e pela lavagem de dinheiro .

Em dois anos de investigações 2,7 mil quilos de cocaína, nove helicópteros e um caminhão — veículos usados no transporte para cruzar a fronteira com o Paraguai — foram tirados de circulação pela polícia.
Motinha é acusado de ter relações próximas com traficantes da maior facção do país que estão atualmente presos, como Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, e Caio Bernasconi, o Fantasma da Fronteira, supostamente seu amigo pessoal.

O pai de Dom, Antônio Joaquim da Mota, o "Tonho", foi detido sob acusações de colaborar com a fuga de Dario Messer, que ficou conhecido durante a Operação Lava Jato como o "doleiro dos doleiros". O fazendeiro e empresário é influente na fronteira com o Paraguai e também está sendo investigado por suas supostas conexões com o tráfico internacional de cocaína.
O pai de Dom é proprietário de fazendas e frigoríficos em Mato Grosso do Sul e no Paraná. Ele reside em uma luxuosa mansão localizada no centro de Ponta Porã. Sua prisão ocorreu no dia 19 de novembro de 2019. À época, também foram detidos sua esposa, seu enteado e o próprio Dom.
A Operação Patrón foi um desdobramento da Operação Lava Jato que teve como objetivo desmantelar a rede de apoio a Dario Messer, preso em julho de 2019. À época, a Polícia Federal descobriu uma extensa lista de agentes e autoridades paraguaias que teriam recebido propina para facilitar o tráfico de cocaína proveniente da Bolívia. Essas anotações foram encontradas durante as buscas realizadas na residência de Mota, o pai.

Além de Antônio Mota, oito cidadãos paraguaios tiveram mandados de prisão emitidos pelo juiz Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro, incluindo o ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes e o proprietário do Shopping China, Felipe Cogorno Álvarez.
Na Operação Patron há citações de laços de amizades e de negócios entre os Mota e outros acusados de narcotráfico na fronteira, principalmente Jorge Rafaat Toumani, o chefe do crime organizado na Linha Internacional, executado em junho de 2016.
Rafaat era padrinho de Dom. Na campanha de Horacio Cartes à presidência do Paraguai, Rafaat e Tonho bancaram uma festa para três mil pessoas para receber o então candidato em Pedro Juan Caballero.

O pai e a mãe de Motinha foram acusados de associação criminosa nesse caso e respondem a um processo na Justiça Federal do Rio de Janeiro.

A defesa de Antônio Joaquim da Mota enfatizou, à época, que a família estava "à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos e afirma que as acusações são infundada e os Mota possuem fortes laços com as cidades de Ponta Porã/MS e Pedro Juan Caballero/Paraguai há mais de 50 anos, sendo reconhecida por suas contribuições para o desenvolvimento da agropecuária na região fronteiriça".
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