Ex-diretor da Abin, Saulo Moura da CunhaReprodução/TV Senado
Publicado 01/08/2023 14:28 | Atualizado 01/08/2023 14:31
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Brasília - O ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da Cunha é o primeiro depoente da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro nesta terça-feira (1º) após o recesso parlamentar. Durante a oitiva, ele afirmou que comunicou o general Gonçalves Dias, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), sobre o risco de invasão na sede dos Três Poderes uma hora antes dos atos se concretizarem.

Os vândalos entraram no prédio do Congresso por volta das 14h45 do domingo de 8 de janeiro. Segundo Saulo, ele foi informado sobre a possibilidade de depredação da Esplanada às 13h e avisou Dias por volta das 13h30.
Por volta das 8h da manhã daquele dia, Cunha conversou com G.Dias por WhatsApp sobre as movimentações de ônibus. Segundo o ex-diretor da Abin, o general respondeu: "Acho que vamos ter problemas".

“Às oito e pouco da manhã eu sinalizo os 105 ônibus, e ele me responde dizendo, 'acho que vamos ter problemas', por WhatsApp. E eu continuo encaminhando as mensagens”, afirmou Saulo Moura da Cunha.

“Um pouco antes da marcha [de manifestantes em direção à sede dos Três Poderes] começar o deslocamento, nós já tivemos informações de que havia, entre os manifestantes, efetivamente, um chamamento, inclusive estavam fazendo isso no carro de som, há relatórios aí, há fotos, para chamamentos para invasões de prédios, certo? Por volta de 13h, 13h e alguma coisa”, disse o ex-diretor da Abin em depoimento à CPMI.

“No momento em que a marcha saiu, eu recebo a ligação de um colega responsável pela segurança, não vou falar o nome dele aqui, mas depois, responsável pela segurança de um dos órgãos dos Três Poderes, muito preocupado, e divido com ele, nesse primeiro momento, as nossas preocupações. E ele, inclusive, me pede para falar com o general G.Dias, e eu passo o contato do general G.Dias. E ligo para o general G.Dias por volta de 13h30 [...] eu falo com o ministro e passo essa minha preocupação e aí já havia por parte, pelo menos da Abin, uma certa convicção de que nós poderíamos ter atos extremistas e não seria apenas uma passeata pacífica", continuou Saulo.

Segundo Cunha, que estava no comando da Abin durante os atos, G.Dias recebeu os alertas e que o fato foi documentado e arquivado pelo ex-ministro do GSI.
"Fiz os dois relatórios. O primeiro numa planilha que continha os alertas encaminhados pela Abin a grupos e continha também os alertas encaminhados por mim pessoalmente, do meu telefone, ao ministro-chefe do GSI. Entreguei essa planilha ao ministro, e ele determinou que fosse retirado o nome dele dali, porque não era o destinatário oficial daquelas mensagens. Que ali fosse mantido apenas as mensagens encaminhadas para os grupos de WhatsApp. Ele determinou que fosse feito, eu obedeci a ordem", explicou o ex-diretor da Abin.

Ele disse ainda que não teve a intenção de esconder informações e reiterou que obedeceu ordens do então ministro, Gonçalves Dias.

"Não houve da minha parte interesse em esconder informação, tanto que apresentei ao ministro. Cabe ao ministro decidir se encaminha ou não aquela informação. Da parte da Abin, não houve nenhuma iniciativa em esconder que o ministro recebeu informações. E ele recebeu essas informações de mim", disse Saulo Moura da Cunha.

O ex-diretor da Abin afirmou ainda que a agência "produziu 33 alertas de inteligência, que não são relatórios" entre os dias 2 e 8 de janeiro.
"Nesses alertas, falamos que houve detecção de estímulo a invasões e pessoas que se diziam armadas. A gestão anterior entregou (ainda em 2022) um relatório ao governo de transição e ao Gabinete de Segurança Institucional falando sobre a presença de atores extremistas nos movimentos em frente aos quartéis", disse Cunha.

Saulo Moura da Cunha
Cunha foi convocado a pedido da oposição ao governo. Os parlamentarem que solicitaram o ex-diretor-adjunto foram os senadores Magno Malta (PL-ES) e Izalci Lucas (PSDB-DF), além dos deputados Nikolas Ferreira (PL-MG), delegado Ramagem (PL-RJ) e Marco Feliciano (PL-SP).
O depoente entrou na Abin em 1999 e já passou por diversos cargos dentro do órgão. Antes de ser nomeado para integrar o Grupo Técnico de Inteligência Estratégica da equipe de transição do governo federal, ele estava no posto de coordenador-geral de Relações Institucionais e Comunicação Social da Abin.

Quando deixou a diretoria da agência, assumiu a liderança da assessoria especial de Planejamento e Assuntos Estratégicos do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mas foi exonerado após a divulgação das imagens que mostravam Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI, dentro do Palácio do Planalto no dia dos ataques.
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