Zambelli e Bolsonaro eram próximos, mas se afastaram desde a última eleiçãoMarcos Corrêa/PR
Publicado 02/08/2023 13:46
Publicidade
Foram as declarações do hacker Walter Delgatti Neto, o "Vermelho", que colocaram a deputada Carla Zambelli na mira da Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira, 2. À Procuradoria-Geral da República e à PF, Delgatti contou que a parlamentar teria se aproximado dele em setembro de 2022, em meio ao período eleitoral, porque "queria que ele invadisse a uma eletrônica, ou qualquer sistema da Justiça, para demonstrar a fragilidade do sistema judicial pátrio".
Preso na manhã desta quarta, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, o hacker implicou o ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem afirma ter se encontrado no Palácio do Alvorada. Segundo ele, o então presidente teria perguntado se "munido do código fonte, conseguiria invadir a urna eletrônica". "Mas isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal", declarou.
Zambelli e "Vermelho" foram os alvos principais da Operação 3FA, por supostos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Quatro endereços da deputada foram vasculhados pela PF, que tinha ordem para apreender passaportes, armas, celulares e bens de valor superior a R$ 10 mil. Em coletiva após a ofensiva, a deputada tentou blindar o ex-presidente.
Delgatti disse que não conseguiu invadir o sistema do Tribunal Superior Eleitoral "mesmo após diversas tentativas, pois o código fonte da urna eletrônica não fica hospedado em um computador com acesso à Internet, mas em um computador offline, não sendo possível o acesso externo".
Sobre a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) — ponto central da operação aberta pela Polícia Federal — Delgatti garantiu que Bolsonaro "não teve qualquer relação".
O hacker implicou diretamente a deputada Carla Zambelli, aliada de Bolsonaro. De acordo com ele, Zambelli teria lhe pedido que caso não conseguisse hackear as urnas, que obtivesse "conversas comprometedoras" de Alexandre de Moraes.
"Vermelho" alegou que explorou a plataforma do CNJ para encontrar uma vulnerabilidade e, quando conseguiu achar uma porta de entrada, contatou Zambelli dizendo que conseguiria emitir um mandado de prisão em desfavor de Alexandre, como se fosse o próprio ministro o autor do decreto.
Segundo o hacker, Zambelli "ficou empolgada", fez o texto e enviou para que ele publicasse. Delgatti alegou que "fez algumas alterações, pois o português "estava meio ruim", e emitiu o mandado de prisão e o bloqueio de valores, no exato valor da multa aplicada ao PL" — de R$ 22 milhões, em razão do ataque às urnas eletrônicas.
Walter Delgatti Neto sustentou que foi pago para ficar à disposição da deputada. Segundo o depoimento, os pagamentos se deram em outubro de 2022, no valor de R$ 3 mil. O hacker disse que os repasses foram efetuados por um assessor da parlamentar, "chamado Jean, por transferência bancária e em dinheiro em espécie, levado pelo motorista da deputada, Renan".
Afirmou, ainda, que recebeu transferências Pix de R$ 13,5 mil — R$ 10,5 mil enviados por Renan César Silva Goulart, que atuaria como assistente parlamentar do deputado estadual em São Paulo Bruno Zambelli, irmão de Carla, e ex-secretário da parlamentar; e R$ 3 mil de Jean Hernani Guimarães Vilela que atua como secretário parlamentar de Zambelli desde maio.
Publicidade
Leia mais