Publicado 09/09/2023 19:28
Espaços que eram usados como apartamentos residenciais, auditórios, salas de aula e um estacionamento para 800 veículos fazem parte do templo da Igreja Mundial do Reino de Deus, do pastor Valdemiro Santiago, que será leiloado para quitar dívidas da denominação evangélica. O espaço de 46 mil m² está avaliado em R$ 38,5 milhões, valor do lance inicial para as ofertas, que começam em outubro.
O leilão de um dos maiores templos do País exemplifica a profunda crise financeira da denominação, que vem se agravando nos últimos anos. O Tribunal de Justiça de São Paulo registra 1,1 mil ações contra a igreja, a maioria por cobrança de dívidas Representantes da igreja afirmam que as dívidas decorreram do fechamento dos templos durante a pandemia e que os dízimos são a única fonte de renda da igreja.
A penhora do templo foi determinada pela Justiça para quitar um débito de R$ 881 mil de uma outra igreja, em Ubatuba, no litoral. A Mundial foi condenada em primeira e em segunda instâncias e não pode mais recorrer. Em abril de 2022, a Justiça já havia autorizado o leilão. O templo estava fechado havia dois anos.
De acordo com a descrição do imóvel, disponível no site Superbid Exchange, responsável pelo leilão, o empreendimento tem três ambientes: o prédio administrativo, com 5 pavimentos, um galpão com 17 mil m² e pé-direito de 10m, além de estacionamento para 813 automóveis e 162 motos.
No endereço em Santo Amaro, na zona sul, cabem 20 mil pessoas, 13,5 mil sentadas. Pastores mais antigos da igreja contaram ao Estadão que o templo, inaugurado em 2014, tem salas que eram usadas como apartamentos, com camas, TVs e guarda-roupas.
O leilão coloca um ponto de interrogação sobre os próximos passos de Santiago, um dos líderes evangélicos mais influentes do Brasil. O pastor, de 59 anos, que prefere ser chamado de apóstolo, foi um dos rostos da "terceira onda" do neopentecostalismo, segmento que mais cresce no Brasil. Também pertencem à corrente o bispo R.R. Soares, Edir Macedo e Silas Malafaia.
CANAL DE TV. Além do fechamento do templo, há problemas em um canal de TV da igreja, em Curitiba. Em disputa aberta com a Universal, a Mundial assinou contratos milionários para a compra de horários. Atualmente os cultos ocupam 22 horas na Ideal TV, um canal fechado. Os custos, que já foram de R$ 5,5 milhões por mês, estão pela metade.
Os funcionários da TV Mundial, que fizeram greve por atraso de salário este ano, veem problemas de gestão, concentrada nas mãos da família Santiago, e excesso de gastos com viagens, voos particulares e eventos. No processo de penhora do templo, os advogados declaram que a Mundial é organização religiosa sem fins lucrativos que se mantém por meio de dízimos e doações e que o "caixa é volátil por natureza, uma vez que os dízimos e contribuições seguem a liberalidade dos fiéis, sendo de natureza voluntária e esporádica". Procurada, a Mundial não retornou à reportagem.
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