Publicado 19/10/2023 17:15
Brasília - É enganoso que o presidente Lula (PT) tenha fechado bombas da transposição do rio São Francisco que enviam água para reassentados do Sistema Itaparica, em Pernambuco. O sistema de irrigação não tem ligação com a obra da transposição – ele recebe água diretamente do Velho Chico. Além disso, o que ocorreu foi que o fornecimento de energia da região foi cortado – impedindo que as bombas enviassem água para a população e a agricultura – por um desentendimento entre a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a Eletrobras Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), que jogam a responsabilidade do desabastecimento uma para a outra.
Conteúdo investigado: Vídeo que circula nas redes sociais mostra diversos veículos parados em uma rodovia. O homem aparentemente responsável pela filmagem afirma que foi "fechada a estrada que passa por baixo da transposição, que acabou a água e fecharam as bombas". Sobre a imagem, foi inserido o seguinte texto: "Acabou a água, fecharam as bomba [sic]. O amor venceu, pede água para papai do amor". Na legenda da publicação, estão presentes hashtags como #forapt, #foralulacomunista e #foralulamentiroso.
Onde foi publicado: TikTok, Telegram e Whatsapp.
Conclusão do Comprova: Publicações relacionam, de forma enganosa, protestos realizados em Pernambuco, no dia 4 de outubro, com a transposição do rio São Francisco e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os conteúdos investigados têm como base protestos realizados na BR-316, entre Petrolândia e Floresta, no sertão pernambucano. Sobre os vídeos, desinformadores imputaram, por meio de textos e legendas, que a razão dos protestos seriam ações de Lula, que teria supostamente fechado as bombas da transposição do rio São Francisco.
Na realidade, o protesto foi realizado por reassentados do Sistema Itaparica e teve por objetivo chamar a atenção do governo federal para a situação de desabastecimento de água nos Perímetros Irrigados da região após corte de energia elétrica no dia anterior, o que impediu o bombeamento da água.
O post já desinforma ao afirmar que o protesto tem a ver com a transposição do rio São Francisco, uma vez que o sistema não faz parte do Pisf (Projeto de Integração do São Francisco).
Além disso, como informou o G1, a energia foi cortada porque, segundo trabalhadores da região, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a Eletrobras Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) não cumpriram um acordo.
Até 2014, quem administrava o Sistema Itaparica eram a Codevasf e a Chesf, mas esta última cessou a parceria. Então, quatro anos depois, a Codevasf ficou como única responsável até que, em setembro deste ano, a Codevasf determinou que a Chesf voltasse a assumir os gastos. Sobre o desabastecimento ocorrido no início de outubro, ficou um toma lá, dá cá: ao Comprova, a Codevasf afirmou que a responsabilidade pelas despesas de operação, manutenção e energia elétrica do sistema é da Chesf. Também ao Comprova, a Chesf afirmou que a responsabilidade é da Codevasf.
Então, embora a Codevasf seja uma empresa pública, do governo federal, não é possível afirmar que Lula mandou desligar a bomba.
Os reassentados permaneceram três dias sem energia nem água, quando o serviço foi restabelecido. Posteriormente, no dia 11, foi realizada uma audiência pública na Câmara dos Deputados para debater as dificuldades enfrentadas pelo Sistema Itaparica.
Nela, segundo o deputado federal Josias Gomes (PT-BA), vice-líder do PT na Câmara, ficou garantido que o Sistema Itaparica vai operar até o fim do ano e que serão discutidos os recursos para 2024.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No TikTok, o vídeo tem 10 mil visualizações, mil curtidas e 118 comentários.
Como verificamos: Um outro post que usa trechos do mesmo vídeo da publicação verificada aqui continha outra gravação, do mesmo local, em que um homem discursava no protesto. No boné deste homem foi possível ler o nome "Rogério Novaes" e, a partir de uma busca no Google com as palavras "Rogério Novaes" e "protesto", descobriu tratar-se do vice-prefeito de Petrolândia, em Pernambuco.
Com isso, a reportagem conseguiu concluir que a manifestação era na região de Petrolândia e encontrou notícias sobre o ato em sites locais e no G1.
O próximo passo foi mais uma busca no Google, desta vez por “sindicato”, “Petrolândia” e “protesto”. Alguns sites informavam que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia estava envolvido no protesto e, então, a partir de telefone informado no perfil do Instagram do órgão, a reportagem entrevistou Natanael Caetano da Silva, seu diretor-presidente.
A Codevasf e a Chesf também foram contatadas, por e-mail.
Onde e quando o vídeo foi gravado?
Onde foi publicado: TikTok, Telegram e Whatsapp.
Conclusão do Comprova: Publicações relacionam, de forma enganosa, protestos realizados em Pernambuco, no dia 4 de outubro, com a transposição do rio São Francisco e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os conteúdos investigados têm como base protestos realizados na BR-316, entre Petrolândia e Floresta, no sertão pernambucano. Sobre os vídeos, desinformadores imputaram, por meio de textos e legendas, que a razão dos protestos seriam ações de Lula, que teria supostamente fechado as bombas da transposição do rio São Francisco.
Na realidade, o protesto foi realizado por reassentados do Sistema Itaparica e teve por objetivo chamar a atenção do governo federal para a situação de desabastecimento de água nos Perímetros Irrigados da região após corte de energia elétrica no dia anterior, o que impediu o bombeamento da água.
O post já desinforma ao afirmar que o protesto tem a ver com a transposição do rio São Francisco, uma vez que o sistema não faz parte do Pisf (Projeto de Integração do São Francisco).
Além disso, como informou o G1, a energia foi cortada porque, segundo trabalhadores da região, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a Eletrobras Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) não cumpriram um acordo.
Até 2014, quem administrava o Sistema Itaparica eram a Codevasf e a Chesf, mas esta última cessou a parceria. Então, quatro anos depois, a Codevasf ficou como única responsável até que, em setembro deste ano, a Codevasf determinou que a Chesf voltasse a assumir os gastos. Sobre o desabastecimento ocorrido no início de outubro, ficou um toma lá, dá cá: ao Comprova, a Codevasf afirmou que a responsabilidade pelas despesas de operação, manutenção e energia elétrica do sistema é da Chesf. Também ao Comprova, a Chesf afirmou que a responsabilidade é da Codevasf.
Então, embora a Codevasf seja uma empresa pública, do governo federal, não é possível afirmar que Lula mandou desligar a bomba.
Os reassentados permaneceram três dias sem energia nem água, quando o serviço foi restabelecido. Posteriormente, no dia 11, foi realizada uma audiência pública na Câmara dos Deputados para debater as dificuldades enfrentadas pelo Sistema Itaparica.
Nela, segundo o deputado federal Josias Gomes (PT-BA), vice-líder do PT na Câmara, ficou garantido que o Sistema Itaparica vai operar até o fim do ano e que serão discutidos os recursos para 2024.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No TikTok, o vídeo tem 10 mil visualizações, mil curtidas e 118 comentários.
Como verificamos: Um outro post que usa trechos do mesmo vídeo da publicação verificada aqui continha outra gravação, do mesmo local, em que um homem discursava no protesto. No boné deste homem foi possível ler o nome "Rogério Novaes" e, a partir de uma busca no Google com as palavras "Rogério Novaes" e "protesto", descobriu tratar-se do vice-prefeito de Petrolândia, em Pernambuco.
Com isso, a reportagem conseguiu concluir que a manifestação era na região de Petrolândia e encontrou notícias sobre o ato em sites locais e no G1.
O próximo passo foi mais uma busca no Google, desta vez por “sindicato”, “Petrolândia” e “protesto”. Alguns sites informavam que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia estava envolvido no protesto e, então, a partir de telefone informado no perfil do Instagram do órgão, a reportagem entrevistou Natanael Caetano da Silva, seu diretor-presidente.
A Codevasf e a Chesf também foram contatadas, por e-mail.
Onde e quando o vídeo foi gravado?
O vídeo foi gravado na BR-316, na altura do canal da transposição do Rio São Francisco, durante um protesto realizado por moradores dos perímetros irrigados do Sistema Itaparica, um conjunto de dez projetos de irrigação entre Pernambuco e Bahia. O sistema foi implantado pela Chesf no final da década de 1980, como compensação pelo deslocamento das populações rurais da região do lago da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga.
Ao buscar o local no Google Maps, pode-se reconhecer que se trata do mesmo lugar mostrado na filmagem. Os moradores também realizaram protestos no Trevo do Ibó, no km 82 da BR-116.
Os protestos não eram contra o presidente Lula
Ao buscar o local no Google Maps, pode-se reconhecer que se trata do mesmo lugar mostrado na filmagem. Os moradores também realizaram protestos no Trevo do Ibó, no km 82 da BR-116.
Os protestos não eram contra o presidente Lula
O vídeo investigado é narrado pelo homem que realiza a filmagem. Em nenhum momento o presidente é mencionado pelo homem. No Instagram do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia, é possível encontrar outros vídeos feitos durante os protestos, e legendas indicam que o protesto é contra a Chesf e a Codevasf, pela falta de pagamento da energia elétrica que ocasionou nos problemas enfrentados pelos moradores do Sistema.
Em entrevista ao Comprova, o presidente do sindicato, Natanael Caetano da Silva, reiterou que as manifestações foram realizadas em protesto às empresas e para pedir intervenção do governo federal na situação. "Após acontecer tudo isso, [o governo federal] paralisou duas obras da Codevasf e colocou R$ 25 milhões à disposição da Codevasf para pagar as contas de energia e fechar o resto do ano", afirma o presidente.
"O que viralizou foi algumas falas fora de contexto de pessoas que estavam lá, e fizeram vídeos culpando o governo", esclarece Silva.
A água utilizada nos perímetros irrigáveis é do Rio São Francisco, mas não vem da transposição. Como o nome indica, o Sistema Itaparica está ligado à antiga barragem de Itaparica, que posteriormente passou a se chamar Luiz Gonzaga. As famílias que antes habitavam a região onde hoje se encontra a barragem foram reassentadas nos projetos entre 1987 e 1988, enquanto a construção dos projetos de irrigação foi iniciada em 1994, muito antes do início da transposição do rio, que começou em 2007.
O que diz o responsável pela publicação: A reportagem tentou contato por meio de mensagem privada no TikTok, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
O que podemos aprender com esta verificação: Uma das táticas utilizadas por desinformadores é o uso de episódios reais, mas propagados fora do contexto original, para fazer alegações enganosas e falsas a respeito de um assunto de interesse público. Os vídeos acabam ganhando uma falsa credibilidade. Nesses casos, é importante buscar fontes confiáveis e seguras para entender o que, de fato, está sendo informado, além de verificar se a alegação é verdadeira ou não.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: A transposição do São Francisco é alvo frequente dos desinformadores. Este mês, mostramos que o protesto de garimpeiros na Bahia não foi motivado por falta de água, nem tem relação com governo Lula. Em maio, o Comprova mostrou que Bolsonaro não concluiu 84% das obras da transposição, como alegava vídeo. Anteriormente, explicamos o que é a transposição e por que ela gera dúvidas.
Em entrevista ao Comprova, o presidente do sindicato, Natanael Caetano da Silva, reiterou que as manifestações foram realizadas em protesto às empresas e para pedir intervenção do governo federal na situação. "Após acontecer tudo isso, [o governo federal] paralisou duas obras da Codevasf e colocou R$ 25 milhões à disposição da Codevasf para pagar as contas de energia e fechar o resto do ano", afirma o presidente.
"O que viralizou foi algumas falas fora de contexto de pessoas que estavam lá, e fizeram vídeos culpando o governo", esclarece Silva.
A água utilizada nos perímetros irrigáveis é do Rio São Francisco, mas não vem da transposição. Como o nome indica, o Sistema Itaparica está ligado à antiga barragem de Itaparica, que posteriormente passou a se chamar Luiz Gonzaga. As famílias que antes habitavam a região onde hoje se encontra a barragem foram reassentadas nos projetos entre 1987 e 1988, enquanto a construção dos projetos de irrigação foi iniciada em 1994, muito antes do início da transposição do rio, que começou em 2007.
O que diz o responsável pela publicação: A reportagem tentou contato por meio de mensagem privada no TikTok, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
O que podemos aprender com esta verificação: Uma das táticas utilizadas por desinformadores é o uso de episódios reais, mas propagados fora do contexto original, para fazer alegações enganosas e falsas a respeito de um assunto de interesse público. Os vídeos acabam ganhando uma falsa credibilidade. Nesses casos, é importante buscar fontes confiáveis e seguras para entender o que, de fato, está sendo informado, além de verificar se a alegação é verdadeira ou não.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: A transposição do São Francisco é alvo frequente dos desinformadores. Este mês, mostramos que o protesto de garimpeiros na Bahia não foi motivado por falta de água, nem tem relação com governo Lula. Em maio, o Comprova mostrou que Bolsonaro não concluiu 84% das obras da transposição, como alegava vídeo. Anteriormente, explicamos o que é a transposição e por que ela gera dúvidas.
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