Publicado 15/11/2023 10:18
São Paulo - A mãe do menino de dois anos que morreu após ser esquecido em uma van escolar, na Zona Norte de São Paulo, disse que o filho chorou ao entrar no veículo para ir até a creche nesta terça-feira, 14. Kaliane Rodrigues ficou emocionada ao falar do filho e disse que acreditava que a criança estava "segura".
"Ele estava tão bem. Mas quando eu fui por ele na perua ele chorou. Ele chorou. Não queria ir. E ela (auxiliar do motorista) sempre colocava ele na frente, hoje ela colocou ele no banco de trás e esqueceu do meu filho", contou.
"Sempre que eu chegava, meu filho estava lá. Hoje eu cheguei e meu filho não estava e eu nunca mais vou ver ele. Eu nunca mais vou ver meu filho", lamentou.
O menino foi esquecido durante seis horas no interior de uma van escolar. O motorista deixou o veículo de manhã, em um estacionamento, sem perceber que a criança estava no interior. À tarde, quando retornou para pegar a van, encontrou o bebê desfalecido, devido ao forte calor e falta de circulação de ar.
O motorista levou a criança para o Hospital Municipal Vereador José Storopolli, conhecido como "Pronto-Socorro Vermelhinho", mas ela já chegou sem vida. O chefe da segurança do hospital acionou a Polícia Militar (PM) . Aos policiais, o motorista disse que estava levando a criança para a escola, mas esqueceu de desembarcar a vítima, deixando-a trancada na van.
"Eu nunca pensei em passar por isso, é muito difícil saber que eu deixei meu filho na perua pensando que ele estava seguro e fui trabalhar. Mas, sabe, pressentimento de mãe. Não foi bom o meu dia e quando deu 16h eu falei 'mãe, o Apolo chegou?", relatou.
Kaliane ressaltou quer que a Justiça seja feita: "Independente se ela (auxiliar) colocou atrás, na frente ou no meio da van, isso pra mim é irresponsabilidade, porque quem trabalha com criança tem que ter muita atenção. E eu acho isso injustiça demais. E eu quero justiça. Só peço justiça".
Luzinete Rodrigues, a avó do menino, chamou o esquecimento da criança no veículo de "irresponsabilidade" e contou que o motorista e a auxiliar costumavam checar em uma lista as crianças que eram transportadas.
"Deixou a perua no estacionamento, num calor terrível e só foi perceber (que o menino ainda estava atrás) na hora de entregar as crianças. Eles não tiveram culpa, mas foi irresponsabilidade. Minha filha quer Justiça. Quem cuida de criança tem que ter o máximo de responsabilidade", disse a avó.
Em depoimento à polícia, o condutor Flávio Robson Benes, de 45 anos, e a mulher, Luciana Coelho Graft, 44, que é auxiliar do marido, contaram que só perceberam ter esquecido o garoto depois do almoço, quando usaram o veículo de novo para buscar as crianças na creche.
Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas de São Paulo (CGE), os termômetros registraram, em média, 37°C durante a tarde na capital paulista. A Defesa Civil tinha decretado estado de alerta na capital.
O boletim de ocorrência aponta que o motorista e a auxiliar encontraram o menino na cadeirinha já caído no penúltimo banco. Em seguida, eles foram até a creche, falaram com a responsável do local e seguiram ao hospital no bairro Parque Novo Mundo com a criança desmaiada. A morte foi confirmada pelos médicos.
Ainda conforme o boletim, o motorista comentou que eles conferem as crianças, mas que o erro pode ter acontecido por conta de enxaqueca e mal-estar.
O caso foi registrado como homicídio contra menor de 14 anos. O motorista e a monitora foram presos, encaminhados ao IML e passarão por audiência de custódia nesta quarta-feira, 15.
A Prefeitura de São Paulo, por meio de nota, lamentou o caso e disse que presta apoio aos familiares. "A Diretoria Regional de Educação (DRE) acompanha o caso e o Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem (NAAPA), composto por psicólogos e psicopedagogos, foi acionado para atender a família. Um Boletim de Ocorrência foi registrado e a Diretoria Regional de Educação (DRE) está à disposição das autoridades competentes para auxiliar na investigação. O condutor do Transporte Escolar Gratuito (TEG) já foi descredenciado e um processo administrativo foi aberto para apurar a conduta do profissional."
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