Manifestantes fizeram um protesto em frente ao consulado de Israel em São PauloMST/Divulgação
Publicado 17/11/2023 16:34
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Movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos se uniram em ato em solidariedade ao povo palestino nesta sexta-feira, 17, em frente ao Consulado de Israel, Zona Sul de São Paulo. A Organização das Nações Unidas (ONU) contabiliza 11 mil mortos no conflito entre o grupo palestino Hamas e Israel, a grande maioria da Faixa de Gaza, com base em dados do Ministério da Saúde de Gaza.
“No genocídio em curso em Gaza, pessoas morrendo de fome e sede vão ser o próximo corpo estilhaçado por uma bomba jogada”, disse a coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino, a jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh.

O ato, que é o sexto sobre o tema na cidade, reuniu cerca de 120 pessoas, a partir de 11h, e foi acompanhando por 12 viaturas e 14 motos da Polícia Militar no local, além de algumas outras viaturas nos arredores. Bandeiras palestinas e cartazes pedindo “cessar fogo imediato”, “fim do bloqueio a Gaza”, “Palestina livre” e “solidariedade ao povo palestino” foram levantados no local..

Entre as entidades que estavam presentes e apoiaram a manifestação, estavam o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, a Central única dos Trabalhadores (CUT), Movimentos do Trabalhadores Sem Terra, CSP Conlutas, Sindicato dos Metroviários de SP, Partido da Causa Operária (PCO) e Partido dos Trabalhadores (PT).

“1,5 milhão dos 2,4 milhões de palestinos já tiveram que se tornar refugiados mais uma vez, tendo que sair do norte para o sul. Enquanto isso, uma limpeza étnica avançada em toda a Palestina, uma repressão, uma criminalização e uma censura muito forte contra todo o povo palestino”, lamentou Misleh.

Ela ressalta que são “13 milhões de palestinos no mundo, 6 milhões em campos de refugiados impedidos do legítimo direito de retornar, milhares na diáspora, outra metade submetida a mais de 75 anos na contínua Nakba, a catástrofe palestina [palavra árabe que se refere ao êxodo de palestinos de áreas que se tornariam Israel]”.

“Agora nós vemos uma nova fase da Nakba, com Israel querendo partir para sua solução final. Mas nós estamos aqui para dizer não, não vamos permitir, vamos continuar a lutar contra isso, para parar o genocídio e para por fim a esse regime brutal de apartheid, colonização, limpeza étnica e genocídio”, disse Misleh. Ela defende ainda a ruptura, pelo governo brasileiro, de relações econômicas, militares e diplomáticas com Israel.

Vozes judaicas
Yuri Haasz, integrante do Coletivo Vozes Judaicas por Libertação, que estava no ato, destacou que Israel não representa a coletividade judaica e que há diversidade de perspectivas sobre o que acontece na região atualmente. “Inclusive nessa violência mais recente, nesse genocídio, nesse massacre genocida que está acontecendo em Gaza agora, ao qual nós nos opomos”, disse.

Segundo ele, é importante reconhecer quão duro foi o ataque do Hamas em 7 de outubro, que atingiu familiares e amigos da comunidade judaica no Brasil.

“Nós fomos impactados pessoalmente e reconhecemos que foi uma atrocidade e, ao mesmo tempo, a gente reconhece que essa atrocidade, essa violência, ela não emerge do nada. Ela emerge dentro de um contexto de opressão contínua que acontece já há 75 anos contra o povo palestino, quando Israel foi fundado”, contextualiza.

Diversos discursos no ato apontaram que a fundação de Israel foi feita a partir de uma limpeza étnica na região, com uma expulsão em massa dos palestinos das suas terras. Haasz avalia que este é um crime que nunca teve restauração. “Nunca houve justiça em relação a isso, e essa é a origem dessa violência ao longo dos anos. E Israel acabou se formando como um estado de apartheid, dominando duas populações com dois sistemas de lei diferentes”, disse.

De acordo com Haasz, os judeus têm proteções, democracia, direitos civis, e os palestinos são regidos pelo que chamou de governo militar, não tendo os mesmos direitos, sendo “continuamente oprimidos, cerceados, mortos, despejados das suas casas e das suas terras”.

Ele acrescenta que a crítica ao estado de Israel não é a mesma coisa que antissemitismo. “Eu sou neto de sobreviventes do holocausto nazista, a maior parte da minha família foi assassinada durante o holocausto, eu reconheço que o antissemitismo é um problema verdadeiro e real e que precisa ser combatido, da mesma forma que islamofobia, que racismo”, disse.

Haasz explica que criticar as políticas do estado de Israel, sua estrutura, a opressão que Israel exerce sobre os palestinos, a violação de direitos humanos, do direito internacional, não constitui antissemitismo. “Não está discriminando judeus apenas por serem judeus e desumanizando judeus apenas por serem judeus. Está criticando uma política concreta de estado”, finalizou.
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