Presidente Luiz Inácio Lula da SilvaMarcelo Camargo/Agência Brasil
Publicado 06/02/2024 15:55
Quando chegar a Belo Horizonte no próximo dia 8 de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encontrará um cenário eleitoral fragmentado entre os partidos da base de governo. O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) é o pré-candidato petista, enquanto o prefeito Fuad Noman (PSD-MG), aliado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tenta se reeleger para o cargo. PDT e PSOL também têm candidatos próprios.
Esta será a primeira viagem de Lula a Minas Gerais desde a eleição de 2022. O Estado, único do Sudeste onde ele venceu Bolsonaro, é governado por Romeu Zema (Novo-MG), que faz oposição ao presidente e ao PT. Os dois ainda não se encontraram depois de estarem juntos em duas reuniões em janeiro de 2023 - logo após o 8 Janeiro e para indicar obras prioritárias de cada Estado, ambas com a presença dos demais governadores.
A tendência é que Zema compareça ao evento promovido por Lula para anunciar investimentos no Estado. Além disso, o governador quer uma reunião de pelo menos 30 minutos com o presidente para debater o que considera a cobrança de juros abusivos sobre a dívida dos Estados com a União e também o uso de créditos judiciais para abater parte da dívida mineira. Há a possibilidade de o encontro ocorrer em Brasília, na quarta-feira, 7, ou na sexta-feira, 9, caso não haja tempo.
O presidente já criticou o governador mineiro pela ausência em reuniões com o governo federal em Brasília. No início do mês, Zema chegou a confirmar presença no ato para marcar um ano do 8 de Janeiro, mas cancelou o compromisso após pressão do Novo.
"Lula estará em Belo Horizonte, irei recebê-lo bem e passar os problemas de Minas. Vejo que, apesar de eu não concordar com ele, respeito é bom em todo lugar", disse Zema à Jovem Pan na segunda-feira, 5, acrescentando que "não condena" Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) ao ser questionado sobre os afagos trocados na última semana entre o governador paulista e o presidente.
PT mantém candidatura própria, mas PSD quer apoio para reeleger atual prefeito
A eleição em Belo Horizonte é tratada com cautela por petistas porque Fuad Noman é aliado de Pacheco, com quem o governo Lula precisa ter um bom relacionamento para aprovar sua agenda no Senado. Um aliado na Prefeitura de Belo Horizonte ajudaria o senador na pretensão de se candidatar ao governo de Minas Gerais em 2026.
Presidente do PSD de Minas Gerais, Cássio Soares (PSD-MG) afirma que o atual prefeito se manifestará nos próximos dias sobre se disputará a reeleição, mas que Noman é um candidato natural por já estar na cadeira e "fazendo um bom mandato". "Ele sendo candidato, nós esperamos sim o apoio do presidente Lula, porque o Fuad compõe a base dele e foi apoiador na campanha eleitoral. Respeitamos a posição do PT, pelo menos do Rogério, de se colocar como candidato", acrescentou.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), se reuniram com Lula na terça-feira passada e iniciaram a discussão sobre o apoio do PT em Belo Horizonte. "Agora é esperar amadurecer", declarou Cássio Soares.
Rogério Correia aguardava na antessala da reunião para também se encontrar com Lula ao lado da secretária nacional de Finanças do PT, a mineira Gleide Andrade, e o líder do Governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE). Na saída de Kassab e Silveira, Correia pediu para tirar uma foto com eles. A imagem foi divulgada nas redes sociais pelo deputado e interpretada nos bastidores da política mineira como sinal de apoio do PSD ao petista.
Kassab, porém, logo em seguida ligou para um aliado de Noman, explicou a situação e reafirmou o apoio à reeleição do prefeito. Para reforçar o posicionamento, ele recebeu o chefe do Executivo belo-horizontino e Soares para uma reunião no Palácio dos Bandeirantes dois dias depois, na quinta-feira, 1º.
Apesar da pressão do PSD, Correia demonstra confiança de que sua candidatura chegará às urnas. "O presidente sabe que sou o candidato do PT. Eu falei para ele que o partido está unificado. Ele falou que vai me ajudar no que for possível. Estamos bem tranquilos com relação a isso", disse o pré-candidato do PT sobre a conversa que teve com Lula. Correia planeja realizar nas próximas semanas um evento no qual será ungido como o candidato da federação, composta também por PV e PCdoB.
Presidente do PT de Minas Gerais, o deputado Cristiano Silveira (PT-MG) afirma que não houve pedido até o momento para a retirada da candidatura do partido, mas admitiu que a política é dinâmica e o cenário pode mudar até as convenções partidárias em agosto.
"Eu acho que o PT ter candidatura em primeiro turno pode ser estratégico para que todo o campo democrático e popular esteja com o presidente Lula no enfrentamento à extrema-direita", disse o dirigente partidário, citando a candidatura de Bruno Engler (PL-MG), do senador Carlos Viana (Podemos-MG) e de Luísa Barreto (Novo-MG), secretária de Planejamento do governo Zema.
"Se mais adiante houver uma mudança de conjuntura, um risco de ter duas candidaturas de extrema-direita no segundo turno, aí o partido teria que sentar para discutir qual seria o caminho", acrescentou Cristiano. Um dos cenários cogitados é justamente que PT e PSD mantenham suas respectivas candidaturas e se aliem somente em um eventual segundo turno.
Além de Correia e Noman, a base de apoio ao governo Lula no Congresso ainda tem a deputada federal Duda Salabert (PDT) e a deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) como pré-candidatas à Prefeitura de Belo Horizonte.
Na última reunião ministerial de 2023, Lula disse que o ideal é que partidos aliados entrem em acordo no máximo de cidades possíveis para não dividir os votos durante as eleições municipais. Na semana passada, ele acrescentou que não pode ser acintoso no apoio a determinado candidato se houver mais de um nome da base aliada disputando as eleições nas capitais.
"Eu não vou me jogar para criar conflito. Eu tenho que saber que sou o presidente e que eu tenho que fazer um jogo mais ou menos acertado para que não traga problema depois, quando terminar as eleições, aqui no Congresso Nacional", disse Lula em entrevista à rádio Metrópole, de Salvador (BA), na terça-feira, 23.
Lula quer fazer balanço de ações em Minas Gerais
Rogério Correia foi chamado por Lula para debater os detalhes da agenda em Minas Gerais. Segundo o deputado, um dos motivos do presidente não ter ido ao Estado no ano passado é que ele queria que a concessão da BR-381, promessa de campanha do petista e pleito histórico de Minas Gerais, estivesse "resolvida".
Inicialmente previsto para novembro do ano passado, o leilão teve que ser adiado por falta de empresas interessadas. Lula deve anunciar o lançamento de um novo edital, além de expor sua visão sobre a renegociação da dívida de Minas Gerais com a União Após Rodrigo Pacheco entrar na articulação, o governo federal discute com o governo mineiro a possibilidade de federalizar estatais como a Cemig e a Copasa em troca do abatimento de parte do débito.
A comitiva presidencial será formada por sete nomes do primeiro escalão do governo: além de Silveira, estarão presentes os ministros da Casa Civil, Rui Costa, dos Transportes, Renan Filho, da Educação, Camilo Santana, da Saúde, Nísia Trindade, da Gestão e Inovação, Esther Dweck, e o ministro interino das Cidades, Helder Melillo.
A expectativa é que cada um deles preste contas das ações levadas adiante pelas respectivas pastas. Pacheco também deve comparecer, mas sua presença ainda não foi confirmada. A boa relação entre o presidente e o senador ganha ainda mais importância após o discurso do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na segunda-feira, 5. Lira cobrou que o governo federal honre os acordos firmados e disse que o Orçamento é da União e não somente do Executivo.
Lula também assinará a ordem de serviço para retomada das obras do hospital universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Inicialmente, ele iria a cidade da Zona da Mata mineira na quarta-feira, 8, mas a agenda foi cancelada e se concentrará na capital Belo Horizonte.
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