Ewérton Guadeli da Silva, de 40 anos, foi esfaqueado e ainda foi preso pela Polícia MilitarReprodução de vídeo
Publicado 17/02/2024 18:12 | Atualizado 17/02/2024 18:22
O que seria o atendimento a uma ocorrência corriqueira por policiais militares do 9º BPM de Porto Alegre se transformou em polêmica e acusações de racismo contra os agentes. Na tarde deste sábado, 17. O motoboy Ewérton Guadeli da Silva, de 40 anos, que é negro, foi ferido levemente no pescoço por um homem branco, de cabelos grisalhos durante uma discussão no bairro Rio Branco. O agressor desferiu um golpe de faca, depois de reclamar da concentração de entregadores em frente ao seu prédio.
A polícia foi acionada pelos vizinhos. No entanto, quando chegaram ao local, os PMs encontraram a vítima aos gritos e detiveram o motoboy por desacato a autoridade. Algemado, Ewérton foi encaminhado à 2ª Delegacia de Polícia da capital gaúcha.
Veja o vídeo:

Já o agressor, cujo nome não foi divulgado, ainda foi levado até a sua residência para vestir uma camisa. Só depois disso é que foi algemado e levado em outra viatura para a 2ª DP. O homem é conhecido no bairro por reclamar constantemente da presença de entregadores de aplicativo em frente ao prédio onde mora. Na discussão deste sábado, Ewérton bateu boca com o morador e recebeu um golpe de faca no pescoço, saindo levemente ferido.

De acordo com os PMs, o motoboy recebeu voz de prisão por se mostrar agressivo e gritar com os agentes. A ação dos Policiais militares gerou revolta entre os motoboys que costumam se concentrar no local e de pessoas que testemunharam a confusão. Vídeos com imagens da abordagem a Ewerton e do tratamento diferenciado dispensado ao agressor circularam pelas redes sociais, gerando protestos e acusações de racismo contra os PMs.

A vítima e o agressor, após prestarem depoimento na delegacia, foram liberados. O caso foi registrado como “vias de fato” (briga) — e não como tentativa de homicídio. Os PMs insistiram para que Ewérton fosse autuado por desacato, mas o delegado de plantão rejeitou a acusação.

Integrante do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, a psicóloga Marina Medeiros Pombo testemunhou a ação policial e vai solicitar investigação do procedimento adotado pelos PMs. Segundo ela, há elementos que podem indicar a prática de racismo. Marina se disse surpresa com o tratamento diferenciado dado ao agressor por parte dos agentes. “A vítima foi tratada como criminoso, e o criminoso parecia ser a vítima”, comentou.

Já o deputado estadual Matheus Gomes (PSOL) usou as redes sociais para criticar a detenção do motoboy. “É um absurdo, mas é ainda o racismo que impera na PM”, comentou em uma rede social. A reação dos internautas foi imediata, com críticas à ação dos PMs e acusações de racismo.

O Comando da corporação abriu sindicância para investigar o episódio. Já o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, se manifestou nas redes sociais: "Sobre a prisão de um homem negro que seria vítima de tentativa de homicídio em POA, determinamos via Corregedoria da Brigada Militar a abertura de sindicância para ouvir imediatamente testemunhas e apurar as circunstâncias da ocorrência, com a mais absoluta celeridade. Renovo minha absoluta confiança na Brigada Militar e nos homens e mulheres que compõem nossas forças de segurança. Inclusive, em respeito aos dedicados profissionais que as integram, é que a apuração da conduta será célere e rigorosa."



Publicidade
Leia mais