Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco CentralReprodução: redes sociais
Publicado 21/02/2024 10:30
Nascido em São Paulo, em 19 de junho de 1939, o economista Affonso Celso Pastore, que morreu nesta quarta-feira (21), teve carreira em boa medida estruturada na academia, como gostava de afirmar, com passagens pela administração pública, sem ter experiência em instituições financeiras privadas.
O berço de sua formação foi a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), onde cursou graduação, pós-graduação e realizou também sua Livre Docência, tornando-se posteriormente professor titular e diretor. Nos anos 90, lecionou na pós-graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e também no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).

A vida na administração pública começou ainda nos anos 60, integrando a equipe de assessores do então Ministério da Fazenda Nos anos 70, assumiu a Secretaria da Fazenda de São Paulo.

Assumiu a presidência do Banco Central no começo de setembro de 1983, em pleno processo de renegociação de dívida externa e com o País quebrado, e ficou até março de 1985. Sucedeu o economista Carlos Langoni, após este entrar em rota de colisão com o então ministro do Planejamento Delfim Netto.

A saída de Langoni, que dispunha de alta credibilidade no mercado financeiro, foi lamentada, mas ao mesmo tempo a indicação de Pastore foi vista com alívio. Assim como o antecessor, o acadêmico da FEA também tinha trânsito junto à comunidade internacional, sendo considerado um nome forte para dar sequência às negociações da dívida com bancos e organismos como Fundo Monetário Internacional (FMI), Clube de Paris e Banco Mundial, num momento em que o Brasil vivia crise no balanço de pagamentos.
"Entrei em meio a uma crise e fui o administrador dessa crise, não fui propriamente um presidente de banco central", relatou. À época, o BC não tinha o status de hoje, sendo uma mera divisão do Ministério da Fazenda.

Poucos meses após assumir o desafio de comandar o BC, Pastore e a área econômica conseguiram um acordo para empréstimo em janeiro de 1984. As reservas cambiais eram negativas em US$ 2 bilhões (conceito caixa, não de liquidez internacional) em setembro de 1983, mas no começo do ano seguinte o saldo era positivo em US$ 6 bilhões.

Foi imperioso ainda um processo de indexação e desvalorização cambial que estimulasse as exportações e ajudasse a equilibrar o balanço de pagamentos, mas que teve como trade off a explosão da inflação, que chegou a rodar em 100% ao ano.
"A forma de resolver a crise externa nos empurrou para o câmbio real fixo na paridade de poder de compra, tendo como consequência a total impossibilidade de controlar a quantidade de moeda", disse, em entrevista dada para a coleção História Contada do Banco Central do Brasil, no volume a ele dedicado, lançada em 2019.

Conhecido por seu perfil ortodoxo e rigor na defesa do controle da inflação, Pastore afirmava que sua grande frustração na passagem pelo BC foi não poder fazer política monetária, que à época era de responsabilidade do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Para entender e explicar os fenômenos por trás dos processos de descontrole de preços no Brasil nas últimas décadas, se aprofundou em pesquisas que resultaram no livro Inflação e Crises - O papel da Moeda, lançado em 2014, considerado fundamental pela classe para os que querem estudar macroeconomia

Suas posições firmes lhe renderam polêmicas, como o famoso atrito com o ex-presidente do Banco Central na gestão Dilma Rousseff Alexandre Tombini, em março de 2015. Incomodado com a crítica de Pastore de que desde que havia chegado ao BC nunca entregou a inflação na meta de 4,5%, Tombini acionou a assessoria de imprensa da autoridade monetária para responder que, quando Pastore era o titular da instituição, a inflação acumulada em 12 meses passou de 134,69% para 224,60%.

Pastore disse ter se sentido ofendido e treplicou: "nunca me escondi atrás de nota à imprensa para desrespeitar quem está ou esteve no Banco Central" e disse que nunca ter escondido ou mentido sobre seus feitos no BC.

Nos anos 90, fundou a AC Pastore & Associados, consultoria com foco em macroeconomia aplicada, junto com a esposa, também economista, Maria Cristina Pinotti.
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