Publicado 06/03/2024 12:28
O lixo já chegou até em áreas profundas do oceano brasileiro, concluiu uma equipe de pesquisadores do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (USP). Eles coletaram resíduos em profundidades que variam entre 274 metros a 1,5 mil metros no mar na região de Ilhabela, litoral norte de São Paulo, e Florianópolis (SC). Juntos, os objetos descartados pesavam 13,8 kg.
Os resultados preocupam ainda mais os cientistas, já que a ausência de raios ultravioletas, o pouco oxigênio e as baixas temperaturas nas profundezas do oceano retardam a decomposição dos resíduos.
Alguns dos materiais encontrados estavam em boas condições. No caso de embalagens de alimentos, foi possível ver algumas datas de vencimento. Uma delas indicava que seu conteúdo deveria ser consumido até 1996.
Os pesquisadores coletaram, no total, 603 itens, entre eles uma boneca da Minnie, luvas e roupas. Os materiais de origem da atividade humana marítima têm uma densidade maior e, por isso, afundam mais rápido. Já os objetos de baixa densidade, supõem os cientistas, vêm da terra, porque podem ser carregados com maior facilidade pelas correntes marítimas.
Ao alcançar o mar, o lixo pode ser transportado na horizontal, pelo vento ou correntes marítimas, e na vertical por conta da diferença de densidade de cada material.
Depois que o resíduo chega ao assoalho oceânico, sua distribuição sofre influência da hidrodinâmica e da geomorfologia da área.
A pesquisa publicada em dezembro de 2023 no jornal Marine Pollution Bulletin é o primeiro registro de lixo nos oceanos do Brasil a profundidades entre 274 metros a 1.500 metros. Até então, as pesquisas científicas observavam, principalmente, a presença de lixo nas praias e nas ilhas oceânicas, além de seu impacto na vida marinha. As profundezas da porção oeste do Oceano Atlântico Sul continuam bastante inexploradas.
As expedições da equipe de cientistas da USP aconteceram por meio do Projeto de Diversidade e Evolução de Peixes de Oceano Profundo (DEEP-OCEAN), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O que os cientistas encontraram?
Além do peso e da quantidade, eles analisaram também o tipo de material do resíduo. Os lixos feitos de plástico foram os mais coletados e representaram 58,5% do total. A predominância desses polímeros no oceano pode ser explicada pela grande quantidade produzida e usada pela população, bem como a duração deles no ambiente.
Os metais vêm em seguida, porém ainda bastante distantes do primeiro colocado, com 13,9%. O terceiro item mais encontrado foram os têxteis, com 11,1%, seguido por vidro (7,1%) e pintura de embarcação (5,8%).
Entre os itens de plástico, as sacolas plásticas corresponderam a 45,2% dos achados. Outra porção significativa dos plásticos corresponde a embalagens de alimentos (27,8%) e nylon (13,4%). Já no grupo dos metais, os itens mais encontrados foram latas de comida e bebida (40,4%), além de pedaços não identificados de metal (31%).
O concreto, embora fosse apenas 0,3% dos objetos retirados do oceano pelos pesquisadores, representou 13% da massa total do grupo. Os estudiosos também coletaram resíduos feitos de cerâmica, couro, papel e borracha.
A maioria dos itens estavam concentrados em São Paulo, ao que os pesquisadores atribuem a maior presença de plataformas de petróleo e gás e de grandes navios cargueiros. Na Bacia de Santos, há 21 dessas plataformas e, no Porto de Santos, mais de 4,8 mil navios trafegam por ano. Além disso, a área metropolitana de São Paulo produz cerca de 3.300 kg de lixo marinho por dia durante o verão.
Em São Paulo, os estudiosos coletaram 385 itens, um total de 9,1 kg. Nas menores profundidades, havia a maior proporção de resíduos. Mas, os lixos coletados a 1.500 metros tinham maior peso por conta de dois blocos de concreto retirados da área. No mar catarinense, a maior parte do lixo encontrado estava localizada entre 900 metros e 1.200 metros de profundidade.
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