Publicado 09/05/2024 16:40
Há quase duas semanas, o Estado do Rio Grande do Sul (RS) vivencia uma das suas piores tragédias climáticas. A chuva, que atingiu cerca de 425 municípios até a última atualização do Governo do Estado do RS, tem colaborado para que pessoas, inevitavelmente, tenham contato com as águas das enchentes. A situação preocupa as entidades médicas, que alertam para o risco do aumento de doenças, como leptospirose, hepatite A e tétano.
PublicidadeNesta terça-feira, 7, a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede) divulgou uma série de recomendações para ajudar a minimizar os riscos de adoecimento durante o momento vivido pela população gaúcha. As orientações, de acordo com a entidade, são baseadas em evidências científicas e na prática de especialistas que atendem em prontos-socorros e pronto atendimentos, entre outros serviços.
Conforme alerta a presidente da Abramede, Camila Lunardi, tragédias de grandes proporções têm impactos significativos na saúde da população e na infraestrutura dos serviços de saúde. "Após inundações, é possível que exista a ocorrência ou o aumento do número de casos de algumas doenças, como leptospirose, hepatite A, tétano acidental, problemas respiratórios e doenças transmitidas por vetores, como a dengue. Além disso, afogamentos, traumatismos e choques elétricos também costumam ser verificados", descreve a médica.
Desinfecção da água para consumo
De acordo com a instituição, a desinfecção da água para consumo humano é uma das principais medidas para evitar a disseminação de doenças infectocontagiosas durante período de enchentes. Nos locais em que a rede de abastecimento estiver comprometida, é indispensável que a população consuma água de fontes seguras, de garrafas e galões lacrados.
Na impossibilidade de consumir água mineral, é indicado realizar o procedimento de desinfecção caseira da água. Para isso, a orientação é aplicar a seguinte fórmula: a cada um litro de água, utilizar duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5%, deixando a mistura repousar por 30 minutos.
Para outras informações sobre limpeza e desinfecção de caixas d'água, embalagens, utensílios domésticos, pisos, a Abramede recomenda a leitura da "Cartilha com orientações à população quanto aos cuidados com a água para consumo humano", elaborada pelo Ministério da Saúde.
Confira a seguir outras recomendações da entidade, com foco na população afetada pelas enchentes:
- Em caso de chuva forte, saia de locais de risco o mais rápido possível. Afinal, não existe somente o risco imediato nas inundações, mas também do contágio por infecções, como leptospirose, tétano e outras;
- Pessoas atingidas por enchentes estão mais suscetíveis a adoecer. Por isso, fique atento a sintomas de doenças infecciosas, como diarreia, febre, fadiga e dores no corpo. Caso verifique alguma alteração, procure atendimento médico;
- Se for possível, ao enfrentar uma inundação, proteja-se com botas plásticas, roupas resistentes e luvas. Se necessário, não hesite em pedir ajuda aos órgãos públicos;
- Caso o resgate seja necessário, sinalize o lugar no qual você se encontra pendurando um pano vermelho ou lanterna no local para auxiliar na identificação por parte da equipe de resgate;
- Os atendimentos em emergência serão mais intensos nesta fase. Por isso, procure os serviços com consciência e somente se houver necessidade;
- Caso sua caderneta de vacinação esteja desatualizada, vacine-se o mais rápido possível. Essa orientação vale para crianças e adultos;
- Fique atento às recomendações das autoridades sanitárias e da Defesa Civil, evitando iniciativas individuais;
Infraestrutura
A oferta de infraestrutura para os trabalhos das equipes de resgate e saúde é apontada como outra preocupação pela Abramede. Segundo Lunardi, devido ao aumento das demandas nas unidades de atendimento, é fundamental que as autoridades públicas se organizem para oferecer suporte pleno ao funcionamento das atividades de atenção básica e de emergência.
"Há sempre a possibilidade da disseminação de patologias. Por isso, os serviços de saúde precisam funcionar com infraestrutura adequada. Só assim os profissionais de saúde conseguem atuar de maneira ágil, garantindo que a suspeita diagnóstica, os exames sorológicos e o tratamento sejam instituídos precocemente", destacou a presidente da Abramede.
No momento, cerca de 141 unidades de saúde do estado gaúcho foram afetadas totalmente ou parcialmente pelas chuvas, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde. Desses, ao menos dez hospitais precisaram ser evacuados após serem invadidos pelas águas. Em um deles, em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, três pacientes em estado grave morreram durante a operação de resgate. Nas unidades que seguem funcionando, os procedimentos eletivos (não urgentes) foram todos cancelados pelo risco de desabastecimento de insumos.
Com a maioria dos acessos à cidade bloqueados, o abastecimento é incerto e os profissionais foram orientados pelas unidades de saúde a economizar ao máximo os recursos para que os pacientes mais críticos não fiquem desassistidos. Há escassez de medicamentos, água mineral e alimentação para dietas especiais, sendo que pacientes renais e oncológicos são a principal preocupação. Alguns estão sendo transportados por helicópteros.
Como resposta ao problema, o Ministério da Saúde afirmou, nesta quarta-feira, 8, ter repassado R$ 63,1 milhões para o Rio Grande do Sul e os municípios gaúchos afetados pelas inundações. A pasta afirmou ainda estar com 83 profissionais da Força Nacional do SUS em atuação no Estado, todos com experiência em situações de emergência, como médicos e enfermeiros que atuam em unidades aéreas de salvamento.
Foi ainda autorizado pelo ministério o pagamento de cerca de R$ 540 milhões em emendas parlamentares e enviados 20 kits de emergência, compostos por 32 tipos de medicamentos e 16 tipos de insumos. Os materiais, de acordo com a pasta, são suficientes para atender, no total, 30 mil pessoas durante um mês.
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